São Paulo, sábado, 30 de abril de 2011

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RITA SIZA

Sotaque estrangeiro


A presença de jogadores de outros países no Português continua a acender paixões


PERCEBI PELO tráfego inusitado na caixa de comentários de uma entrevista com Ricardo Monsanto, o técnico de uma equipa de juniores da região de Lisboa*, que a presença de jogadores estrangeiros no Português continua a acender paixões e levantar polémicas. Alguns leitores defendiam com unhas e dentes a aplicação de um sistema de quotas, outros argumentavam com a lei da oferta e da procura e outros ainda especulavam que, nestes tempos de recessão económica e elevado desemprego, os clubes de futebol poderiam ser uma interessante alternativa para centenas de jovens esportistas que não conseguem colocação no mercado de trabalho.
Na entrevista, Monsanto, que foi um dos mais precoces treinadores com formação académica e, aos 32 anos, tem dedicado a carreira à formação de jogadores, falava sobre a falta de oportunidades de trabalho dos jovens futebolistas portugueses no país, mas, ao contrário dos comentadores ocasionais, não culpou os jogadores que vêm do estrangeiro (maioritariamente do Brasil e de países da América do Sul) por essa carência. "Não sou nem nunca serei contra os jogadores estrangeiros, mas que tenham qualidade para serem usados na equipa", ressalvou.
É um facto que jogadores internacionais trazem valor, interesse e competitividade ao campeonato. Mas, como acusou Monsanto, só se trouxerem com eles um ingrediente extra, o que muitas vezes acontece -e não só por uma questão de oferta e procura, como se lia na discussão do artigo-, e que sua contratação não resulta em bónus evidente para nenhuma das partes envolvidas.
Grande parte desses jogadores chega, denunciou, pela mão de "empresários menos escrupulosos" e "clubes com pouca estratégia esportiva", ansiosos e pressionados para introduzir sotaques estrangeiros ao seu plantel. "Com lugares tapados no futebol nacional, resta a muitos jovens [portugueses] saírem para o estrangeiro (...) Estamos a falar de internacionais portugueses jovens, que nunca chegam a jogar na divisão principal portuguesa."
Igualmente, uma parcela significativa desses jovens estrangeiros precocemente deslocados jamais terá oportunidade para brilhar no seu próprio país. Ou seja, há sem dúvida um mercado perverso, alimentado de falsas esperanças e porventura falsos talentos, que não traz nenhum benefício nem aos clubes nem às federações nacionais.
*O clube em questão é o Real Massama (de cuja escola saiu por exemplo o Nani, que está atualmente no Manchester United), que é a única equipa da primeira divisão que jogou com 11 portugueses do princípio ao fim do campeonato.


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