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Brasil não tem policiais para 12 sedes
Sem o Exército, governo precisaria usar 39% da força policial para obter relação agente/habitante da África do Sul-2010
País é o 2º mais violento entre os anfitriões da Copa e vê crescimento da tropa em ritmo mais lento do que o do aumento populacional
MARIANA BASTOS
RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Entre os países escolhidos
para sediar a Copa, o Brasil é o
segundo mais violento -só fica
atrás da África do Sul-, segundo critérios de homicídios medidos pela ONU. E, hoje, o país
tem um número insuficiente de
policiais para garantir a segurança nas 12 cidades-sede.
Das 12 prováveis sedes do
Mundial, só uma tem índice de
assassinatos abaixo da média
nacional -Natal. Todas as outras têm números superiores.
A média brasileira de homicídios é de 23,7 pessoas por 100
mil habitantes. Pelos critérios
da ONU, índices acima de 10
por 100 mil pessoas já caracterizam epidemia de violência.
A África do Sul tem número
bem superior ao brasileiro. A
taxa, em 2004, variava de 39,5 a
69 homicídios -a ONU divulga
faixas, não médias precisas. À
época, o órgão dava ao Brasil
média de 26,2 a 30,8 mortes.
Para minimizar o problema,
os africanos irão mobilizar 40
mil homens, entre policiais e
soldados do Exército, para proteger dez sedes, ou um agente
para cada 1.197 habitantes.
Com duas sedes a mais, o
Brasil terá dificuldades de atingir, proporcionalmente, esse
patamar. Para Régis Limana,
coordenador-geral de Inteligência da Senasp (Secretaria
Nacional de Segurança Pública) do Ministério da Justiça,
não há uma preocupação em
relação ao tamanho do efetivo.
Limana, que coordena os
projetos de segurança do Mundial e da candidatura olímpica
Rio-2016, não consegue estimar quantos agentes serão usados em 2014. Segundo ele, ainda haverá reunião com os centros de segurança dos Estados.
Ele, no entanto, já sabe que
serão destacados 60 mil policiais para o Rio de Janeiro, se a
cidade for sede olímpica.
"É bem mais complexo [o esquema de segurança para a Copa]. O aparato que você movimenta para a Olimpíada tem
que ser replicado por 12", disse.
Questionada pela Folha, a
assessoria de imprensa do
Exército informou que não faz
parte de suas atribuições a segurança pública do país. Ou seja, não pretende atuar na Copa.
Sem o Exército, o Brasil contava com 411.896 policiais militares em 2006, segundo o governo. Para atingir o número
de homens usado pelos africanos, proporcionalmente, o país
teria de mobilizar em torno de
160 mil deles -39% da tropa.
Mas se deve leva em conta
que boa parte dos policiais não
está nas cidades-sede. Pela última informação disponível, de
2003, cerca de 340 mil policiais
atuavam nos Estados das 17
candidatas. Em resumo, haverá
menos do que isso nas sedes.
Outro dado preocupante é
que o crescimento da tropa
tem sido abaixo da média de
aumento da população. Pelos
números de 2004, de 13 cidades candidatas, 12 têm defasagens em sua tropa de policiais
militares -outras quatro não
forneceram dados ao governo.
A ONU recomenda um agente de segurança para cada 250
habitantes, número registrado
em países com índices mais
baixos de violência. Considerados só os PMs, nenhuma região
do país atinge esse índice.
Com a soma dos bombeiros,
que são militares, e dos policiais civis, o Centro-Oeste e o
Norte conseguem chegar ao
patamar de referência mundial. Mas as outras regiões seguem abaixo do índice exigido.
Com a violência em alta e
com poucos policiais, o Brasil
terá o desafio de proteger um
número inédito de turistas. Ou
arcar com as consequências.
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