São Paulo, domingo, 30 de maio de 2010

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PAULO VINICIUS COELHO

A barba de Maradona


O time argentino não dá sinais de favoritismo. Mas, em três partidas, não sofreu gols e marcou dez vezes

MARADONA CONTA em seu livro biográfico, "Yo Soy El Diego de la Gente", que seus companheiros de Napoli previam uma hecatombe com a seleção argentina às vésperas da Copa do México, em 1986.
"Penzo me perguntava se não tínhamos medo de passar um vexame no amistoso que fizemos contra a França, em março."
Os argentinos não deram vexame, mas perderam por 2 a 0. Na semana seguinte, uma vitória em um amistoso contra o Grasshoppers, da Suíça. E, em abril, derrota para a Noruega por 1 a 0, em Oslo.
"Eu estava de saco cheio e com a barba crescida. Desde aquele tempo me dizem que, quando estou com barba, não é bom sinal."
Maradona apareceu no amistoso de segunda- -feira, contra o Canadá, com uma barba vistosa, que já carrega alguns fios brancos na altura do queixo. Azar não deu. A Argentina venceu os canadenses por 5 a 0, sua quinta vitória consecutiva.
A seleção de Maradona ainda não dá sinal de favoritismo, mas venceu suas três últimas partidas, contra Alemanha, Haiti e Canadá, sem sofrer gols. Marcou dez vezes. A última derrota da equipe argentina data de novembro, contra a Catalunha, por 4 a 2, dois dias depois de perder também para a Espanha, em Madri.
Os amistosos às vésperas da Copa não são simples de analisar. Antes da Copa de 1998, o Brasil empatou com o Athletic Bilbao, o que poderia ser indício de má campanha. A seleção chegou à decisão. Antes da Copa de 2002, a França perdeu para a Bélgica. Continuou favorita e foi eliminada na primeira fase. Em 2006, a Itália só empatou com Suíça e Ucrânia. Foi campeã do mundo.
O Brasil só entra em campo outra vez na quarta- -feira, contra o Zimbábue. Enquanto isso, a Holanda venceu o México jogando ótimos 30 minutos, apesar das ausências de Robben, Van Bommel e Sneijder, finalistas da Copa dos Campeões.
É mais racional fazer previsões para a Copa com base no que aconteceu nos últimos quatro anos. É por isso que Espanha, Inglaterra e Brasil parecem mais fortes. Mas as vitórias do Brasil, em 2002, e da Itália, em 2006, indicam que o vencedor pode se construir na reta de chegada da preparação.
Maradona relata o fim da preparação argentina para a Copa do México. "No dia 30 de abril, perdemos da Noruega. Queriam nos matar! Tínhamos os canhões apontados em nossa direção, e até o governo do presidente Alfonsín pretendia destituir o técnico Bilardo." E aquela maldita barba por fazer. Em junho, a Argentina foi campeã do mundo.

pvc@uol.com.br


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