São Paulo, sexta-feira, 30 de junho de 2006

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entrevista

Argentino vê subterrâneos do futebol

ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Antes de se tornar escritor, o argentino Federico Andahazi, 43, chegou a labutar em um estacionamento subterrâneo, na Recoleta. "Ficava perto do cemitério e trabalhava na altura dos mortos", relembra o autor de "O Anatomista" e "As Piedosas". Em entrevista à Folha, lança novo olhar sobre os subterrâneos, desta vez do futebol. Diz que, para a Fifa, interessa uma final entre Brasil e Alemanha.

 

FOLHA - O que você está achando desta Copa do Mundo?
FEDERICO ANDAHAZI -
É um Mundial estranho no qual, paradoxalmente, o futebol está ausente. As equipes que chegaram até aqui são as mesmas e, por um lado, mostraram pouco. Por outro, muitas das que caíram deram bom espetáculo. Mas à Fifa não interessa o bom jogo, e sim bons negócios.

FOLHA - Seu país tem condições de ser campeão?
ANDAHAZI -
A Argentina terá que jogar não só contra a Alemanha, mas contra a arbitragem, a organização e a Fifa. Os árbitros atuam em favor dos candidatos ao título sem nenhum pudor. A Argentina deu mostras de que tem todas as condições de ser campeã. Mas as coisas não lhe serão fáceis. A Fifa quer uma final entre Alemanha e Brasil. Mas os brasileiros não deveriam se sentir tranqüilos porque terão que lutar contra os mesmos poderes.

FOLHA - O que representaria para a Argentina o título?
ANDAHAZI -
A vitória no futebol desperta as melhores e as piores coisas nos argentinos. Sem dúvida seria uma grande alegria depois de tantos fracassos de ordem econômica, social e política. Mas também geraria xenofobia e um triunfalismo cego.

FOLHA - O que representa o futebol em seu país?
ANDAHAZI -
O mesmo que no Brasil. É uma paixão e, como tal, excede qualquer análise de ordem intelectual. A maior parte dos argentinos é jogador frustrado. Eu mesmo sou escritor porque não tive talento para ser jogador. Se tivesse que escolher entre renascer como Borges [Jorge Luis Borges, renomado escritor argentino] ou como Maradona, não hesitaria: gostaria de ser Diego.

FOLHA - Qual seria a final perfeita para a Argentina?
ANDAHAZI -
Qualquer uma. Mas é claro que, com os ingleses, temos assuntos pendentes... Mas uma vitória da Inglaterra seria uma punhalada no meu peito.


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