|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
O paizão
O capitão Cafu assume o papel de protetor e conselheiro dos jogadores brasileiros na Alemanha e monta operação para evitar que críticas abalem Ronaldo e Ronaldinho
DOS ENVIADOS A BERGISCH GLADBACH
"Sempre vou proteger meus
meninos." É assim que Cafu,
36, justifica sua presença constante ao lado dos jogadores em
crise na seleção brasileira.
Foi assim com Ronaldo. Agora chegou a vez de Ronaldinho.
Ele iniciou uma operação para evitar que as críticas abalem
o jogador de Barcelona. O roteiro é semelhante ao seguido nos
piores dias de Ronaldo na Alemanha. O capitão conversa sozinho com o colega e nas entrevistas sai em defesa dele. "Vocês [jornalistas] é que não estão
satisfeitos com o futebol dele,
eu estou", disse o lateral ontem.
O sinal para que o capitão
voltasse suas atenções ao meia
talvez tenha sido dado pelo
próprio técnico Carlos Alberto
Parreira. Após o jogo contra
Gana, o treinador da seleção
disse que Ronaldinho precisava
subir um "degrauzinho".
Com o status de melhor jogador do mundo, eleito pela Fifa,
ele não fez nenhum gol e ainda
não sentiu o gosto de ser escolhido o "homem do jogo" na Copa. "O que o Parreira disse é que
ele precisa melhorar como todos, eu também preciso subir
um degrau", afirmou Cafu.
Quando Ronaldo era o principal alvo das críticas da torcida
e da imprensa, Cafu batia na tecla que o companheiro se recuperava de contusão e iria evoluir durante o Mundial.
Para Ronaldinho, também
montou uma estratégia de defesa. Diz que o colega resolveu
driblar menos na Alemanha.
"O problema é que todos esperam jogadas maravilhosas do
Ronaldinho. Quando ele joga
de maneira objetiva, ninguém
fala nada. Agora ele está mais
preocupado com a objetividade
de seus dribles. Não está driblando para levantar a torcida,
mas está sendo muito útil."
Cafu fala de Ronaldinho com
a intimidade de quem joga ao
lado do colega há sete anos na
seleção. Em 1999, quando o
gaúcho estreou, Cafu já tinha
na bagagem um título mundial
e um vice-campeonato.
Recordista de jogos pelo time
nacional, com 149 partidas, viu
todos os colegas debutarem
com a camisa amarela. "Eles já
são experientes. Os mais novos
já ganharam Copa América,
Copa das Confederações, mas
para mim, são os meninos."
Nesta Copa, Cafu pode se tornar o primeiro a levantar duas
vezes a taça da Copa e pode aumentar o recorde de participações consecutivas em finais,
acumulando a quarta decisão.
Para isso, gasta parte de seu
tempo na concentração para
cuidar dos colegas. Quando Ronaldo se polêmicas, como seu
peso, o capitão o visitava em
seu quarto para apoiá-lo. Lembrava as conquistas do atacante
e falava sobre sua importância
para o time. Chegou a correr
com Ronaldo para animá-lo
nos treinos físicos.
Agora, antes do jogo de amanhã com a França, Ronaldo volta a ser motivo de preocupação.
Cafu quer evitar que ele pense
na final de 1998. Avalia que não
é bom relembrar a crise nervosa que teve no dia da decisão.
"Entre nós, jogadores, não falamos sobre aquele jogo, e acho
que não temos de falar. Precisamos lembrar é da final de 2002,
que ganhamos."
Mas, no lugar dos colegas, o
recordista de atuações em Copas pela seleção, com 19 jogos,
fala do dia fatídico. A pedido
dos jornalistas, lembra da crise
de Ronaldo. "Estava no quarto
com o André Cruz [zagueiro].
Ouvimos os gritos e fomos para
o corredor. Chegamos lá, e o
Ronaldo estava passando mal."
Responder a perguntas como
estas é uma das formas de Cafu
proteger os apadrinhados. Ele
participa mais das entrevistas
do que os colegas. Ronaldo e
Ronaldinho, por exemplo, estavam ausentes ontem.
O capitão promete cuidar dos
colegas até minutos antes do
jogo. Como já é rotina, dará a
última mensagem aos atletas,
na saída do vestiário. Certamente, terá palavras endereçadas a Ronaldo e Ronaldinho.
(EDUARDO ARRUDA, PAULO COBOS, RICARDO PERRONE E SÉRGIO RANGEL)
Texto Anterior: Retranca: Cartolas divergem sobre Inglaterra Próximo Texto: Frase Índice
|