São Paulo, sexta-feira, 30 de junho de 2006

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O paizão

O capitão Cafu assume o papel de protetor e conselheiro dos jogadores brasileiros na Alemanha e monta operação para evitar que críticas abalem Ronaldo e Ronaldinho

DOS ENVIADOS A BERGISCH GLADBACH

"Sempre vou proteger meus meninos." É assim que Cafu, 36, justifica sua presença constante ao lado dos jogadores em crise na seleção brasileira.
Foi assim com Ronaldo. Agora chegou a vez de Ronaldinho.
Ele iniciou uma operação para evitar que as críticas abalem o jogador de Barcelona. O roteiro é semelhante ao seguido nos piores dias de Ronaldo na Alemanha. O capitão conversa sozinho com o colega e nas entrevistas sai em defesa dele. "Vocês [jornalistas] é que não estão satisfeitos com o futebol dele, eu estou", disse o lateral ontem.
O sinal para que o capitão voltasse suas atenções ao meia talvez tenha sido dado pelo próprio técnico Carlos Alberto Parreira. Após o jogo contra Gana, o treinador da seleção disse que Ronaldinho precisava subir um "degrauzinho".
Com o status de melhor jogador do mundo, eleito pela Fifa, ele não fez nenhum gol e ainda não sentiu o gosto de ser escolhido o "homem do jogo" na Copa. "O que o Parreira disse é que ele precisa melhorar como todos, eu também preciso subir um degrau", afirmou Cafu.
Quando Ronaldo era o principal alvo das críticas da torcida e da imprensa, Cafu batia na tecla que o companheiro se recuperava de contusão e iria evoluir durante o Mundial.
Para Ronaldinho, também montou uma estratégia de defesa. Diz que o colega resolveu driblar menos na Alemanha.
"O problema é que todos esperam jogadas maravilhosas do Ronaldinho. Quando ele joga de maneira objetiva, ninguém fala nada. Agora ele está mais preocupado com a objetividade de seus dribles. Não está driblando para levantar a torcida, mas está sendo muito útil."
Cafu fala de Ronaldinho com a intimidade de quem joga ao lado do colega há sete anos na seleção. Em 1999, quando o gaúcho estreou, Cafu já tinha na bagagem um título mundial e um vice-campeonato.
Recordista de jogos pelo time nacional, com 149 partidas, viu todos os colegas debutarem com a camisa amarela. "Eles já são experientes. Os mais novos já ganharam Copa América, Copa das Confederações, mas para mim, são os meninos."
Nesta Copa, Cafu pode se tornar o primeiro a levantar duas vezes a taça da Copa e pode aumentar o recorde de participações consecutivas em finais, acumulando a quarta decisão.
Para isso, gasta parte de seu tempo na concentração para cuidar dos colegas. Quando Ronaldo se polêmicas, como seu peso, o capitão o visitava em seu quarto para apoiá-lo. Lembrava as conquistas do atacante e falava sobre sua importância para o time. Chegou a correr com Ronaldo para animá-lo nos treinos físicos.
Agora, antes do jogo de amanhã com a França, Ronaldo volta a ser motivo de preocupação. Cafu quer evitar que ele pense na final de 1998. Avalia que não é bom relembrar a crise nervosa que teve no dia da decisão.
"Entre nós, jogadores, não falamos sobre aquele jogo, e acho que não temos de falar. Precisamos lembrar é da final de 2002, que ganhamos."
Mas, no lugar dos colegas, o recordista de atuações em Copas pela seleção, com 19 jogos, fala do dia fatídico. A pedido dos jornalistas, lembra da crise de Ronaldo. "Estava no quarto com o André Cruz [zagueiro]. Ouvimos os gritos e fomos para o corredor. Chegamos lá, e o Ronaldo estava passando mal."
Responder a perguntas como estas é uma das formas de Cafu proteger os apadrinhados. Ele participa mais das entrevistas do que os colegas. Ronaldo e Ronaldinho, por exemplo, estavam ausentes ontem.
O capitão promete cuidar dos colegas até minutos antes do jogo. Como já é rotina, dará a última mensagem aos atletas, na saída do vestiário. Certamente, terá palavras endereçadas a Ronaldo e Ronaldinho. (EDUARDO ARRUDA, PAULO COBOS, RICARDO PERRONE E SÉRGIO RANGEL)

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