São Paulo, terça-feira, 30 de junho de 2009 |
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JOSÉ ROBERTO TORERO Gente grande é meio doida
O MEU nome é Leocádio, mas todo mundo me chama de Lelê. Quem escreve aqui é o meu tio Torero, mas hoje ele está com preguiça e me deu um sonho de valsa para eu escrever no lugar dele. Bom, ele disse para falar sobre o jogo da seleção. E o jogo da seleção foi o maior legal. Eu gosto de jogo de seleção porque todo mundo torce junto, e isso é o maior difícil, porque a minha mãe é corintiana, o meu tio é santista, o meu avô é são-paulino, e o Dirceu (que não é o meu pai mas é quase, porque casou com a minha mãe) é palmeirense. Bom, antes de começar o jogo estava todo mundo contente. "Vamos ganhar fácil", falou o meu avô. "Vai ser de três de novo", disse o Dirceu. "Três é pouco. Aposto em quatro!", falou o meu tio. "Cinco!", gritou a minha mãe. Mas aí, quando começou a partida de verdade, aconteceu uma coisa estranha: quem fez gol foi os Estados Unidos. Todo mundo ficou calado por um tempo, até que o meu avô disse: "Já, já a gente empata". "É, a seleção está bem", disse o Dirceu. "É questão de tempo." "O Dunga vai saber virar o jogo", falou o meu tio. "Vamos ganhar de 5 a 1!", gritou a minha mãe. E aí eles ficaram contentes de novo. Só que, em vez do Brasil fazer gol, quem fez foi o outro time. Aí todo mundo ficou chateado mesmo. "Acabou, acabou...", falou o meu avô. "Sem armador não dá, tem que chamar o Alex", disse o Dirceu. "O Dunga é muito inexperiente", falou o meu tio. "Quem ele pensa que é para começar a carreira como técnico da seleção? O Beckenbauer?" E a minha mãe disse bem baixinho: "Vamos perder de 5 a 0..." No intervalo, todo mundo arranjou alguma coisa para fazer e ninguém viu os melhores momentos. O Dirceu foi fazer xixi, o meu tio foi comer mais sobremesa, o meu avô foi brincar com a Pintada (a Pintada é a minha gata) e a minha mãe foi fazer pipoca. Só eu que fiquei na sala. O chato é que todo mundo se atrasou para voltar, e aí eles perderam o gol do Luís Fabiano (que usa aparelho no dente). Só voltaram quando escutaram o Galvão gritando. Depois disso ninguém mais saiu da sala. E quando teve aquele gol do Kaká que não valeu, eles falaram uns palavrões, mas depois o Dirceu disse que eu nunca devia falar aquelas coisas, se bem que aquele juiz cegueta bem que merecia ouvir umas boas. Então o Brasil fez dois gols, o juiz apitou o fim da partida e todo mundo ficou contente. "Não foi 5 a 0 porque o Brasil ficou com pena e deu dois gols para os EUA", a minha mãe disse. "Eu sabia que a gente ia marcar três", falou o Dirceu. O meu avô disse que não foi fácil, mas que as coisas difíceis são mais gostosas, e foi ligar para uma namorada que ele disse que também está se fazendo de difícil. E o meu tio ficou chamando o Dunga de Dungabauer. Gente grande é engraçada. Uma hora eles acham que vai dar tudo certo, depois acham que vai dar tudo errado e depois acham tudo bom de novo. Gente grande é meio doida. torero@uol.com.br Texto Anterior: Vôlei - Cida Santos: O Brasil e o adolescente cubano Próximo Texto: Homens de Dunga vão à vitrine Índice |
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