São Paulo, quarta-feira, 30 de junho de 2010 |
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TOSTÃO Força da tradição
TROUXE DOIS LIVROS para reler, durante a Copa, nos intervalos entre um jogo e outro, um treino e outro, uma refeição e outra, uma conversa e outra e um devaneio e outro. Um, "Desassossego", de Fernando Pessoa. Outro, "Veneno Remédio", do ensaísta, músico, compositor, professor de literatura e amante do futebol José Miguel Wisnik, um dos mais belos livros escritos sobre esse esporte. Entre as oito seleções classificadas para as quartas de final, quatro são sul-americanas, um feito notável e inédito. As quatro podem ir para a semifinal. A classificação das quatro equipes sul-americanas vai diminuir a euforia de parte da imprensa com o futebol europeu, especialmente o inglês. Os estádios na Inglaterra são tão cheios e tão bons, os gramados tão perfeitos, e a organização das competições tão exemplar que até parece que peladas entre dois times pequenos é um grande jogo de futebol. A Itália caiu na fase inicial. Por isso, muitos disseram que tradição não ganha jogo. Claro que não ganha, mas ajuda. Se a Itália não estivesse tão ruim, não sairia tão cedo. Brasil e Holanda possuem o mesmo nível técnico, porém o Brasil leva a vantagem da tradição. Uma geração transmite à outra a gana e a obrigação de vencer. A responsabilidade e a pressão para ganhar levam a mais vitórias e a mais pressão. Forma-se um ciclo de conquistas. A tradição de vencer está presente em todas as atividades, individuais e coletivas, nas instituições, empresas e no ambiente familiar. Mudam-se os personagens, e as vitórias continuam. Quem ganha quer ganhar sempre. A pressão, a ansiedade e a responsabilidade de ganhar estimulam também a produção de substâncias químicas, que aumentam a força física e a concentração. A pessoa fica mais ligada. Tem de lutar ou fugir. A maioria vai à luta. Os que preferem o distanciamento e a contemplação também estão certos. Cada um escolhe seu caminho. Evidentemente, com o tempo, podem ocorrer lentas mudanças. Times que foram grandes podem se tornar pequenos, por cometerem seguidos erros. Outras vezes, o hábito de vencer leva à soberba e à acomodação. É preciso perder para voltar a ganhar. O fracasso de 2006 é a chama que ilumina e incendeia a atual seleção brasileira. Texto Anterior: Memória: Golaços de fora marcaram outras Copas Próximo Texto: Após 4 jogos, seleção ainda não folgou Índice |
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