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Copa traz herança "provisória"
Antes de Mundial africano acabar, postos de trabalho já são extintos
FÁBIO ZANINI
DE JOHANNESBURGO
Terminada a Copa do
Mundo, milhares de trabalhadores voltarão para as
ruas da África do Sul, sem
emprego nem muita paciência. Engrossarão uma massa
de descontentes que de tempos em tempos se revolta nas
periferias do país.
O evento sozinho contribuiu com aumento de 0,5%
no PIB sul-africano em 2010,
segundo estudo da consultoria Grant Thornton (o governo ainda não fez sua estimativa). Nada desprezível, considerando que o crescimento
total da economia previsto
para o ano é de 3%.
O problema é que dos 280
mil empregos gerados, apenas 50 mil são permanentes,
principalmente na indústria
do turismo. Os outros 230 mil
trabalhadores ou já perderam o emprego ou perderão
nas próximas duas semanas.
"O governo precisa planejar como realocar esses trabalhadores em projetos de
infraestrutura em comunidades pobres. Há sério risco de
desordem social", diz Patrick
Craven, da Cosatu, maior
central sindical do país.
Segundo ele, o aumento
do desemprego já pôde ser
constatado no primeiro trimestre do ano -taxa de 25%.
Para Gilian Saunders, diretora da consultoria, havia
uma expectativa "excessiva"
sobre o que a Copa traria em
termos econômicos. "Gerar
280 mil empregos é pouco
dado o tamanho do problema no país", afirmou.
Um dado positivo, segundo ela, é que a Copa trouxe
benefícios indiretos aos trabalhadores sul-africanos.
"Quem trabalhou em grandes projetos recebeu treinamento e agora pode conseguir um emprego melhor."
A África do Sul tem alto índice de desemprego e forte
setor informal. O mesmo
ocorre no Brasil, sede da próxima Copa do Mundo -embora aqui a taxa de desemprego seja mais baixa.
Uma reclamação contundente vem do setor informal,
que responde por 15% do PIB
nacional. "Os benefícios foram mínimos, com a possível
exceção dos vendedores de
bandeiras e vuvuzelas em semáforos. Mesmo para eles, a
venda esfriou desde que a
África do Sul saiu da Copa",
diz Gaby Bikombo, diretor da
Streetnet, ONG que representa vendedores de rua.
Ele aponta o dedo para a
Fifa e suas rígidas regras de
proteção a patrocinadores,
que restringiram o trabalho
de ambulantes dentro de estádios e em Fan Parks (áreas
com exibição de jogos em telões). "Nem barracas de comida em canteiros de obras
puderam ser montadas", diz.
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