São Paulo, quarta-feira, 30 de junho de 2010

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Copa traz herança "provisória"

Antes de Mundial africano acabar, postos de trabalho já são extintos

FÁBIO ZANINI
DE JOHANNESBURGO

Terminada a Copa do Mundo, milhares de trabalhadores voltarão para as ruas da África do Sul, sem emprego nem muita paciência. Engrossarão uma massa de descontentes que de tempos em tempos se revolta nas periferias do país.
O evento sozinho contribuiu com aumento de 0,5% no PIB sul-africano em 2010, segundo estudo da consultoria Grant Thornton (o governo ainda não fez sua estimativa). Nada desprezível, considerando que o crescimento total da economia previsto para o ano é de 3%.
O problema é que dos 280 mil empregos gerados, apenas 50 mil são permanentes, principalmente na indústria do turismo. Os outros 230 mil trabalhadores ou já perderam o emprego ou perderão nas próximas duas semanas.
"O governo precisa planejar como realocar esses trabalhadores em projetos de infraestrutura em comunidades pobres. Há sério risco de desordem social", diz Patrick Craven, da Cosatu, maior central sindical do país.
Segundo ele, o aumento do desemprego já pôde ser constatado no primeiro trimestre do ano -taxa de 25%.
Para Gilian Saunders, diretora da consultoria, havia uma expectativa "excessiva" sobre o que a Copa traria em termos econômicos. "Gerar 280 mil empregos é pouco dado o tamanho do problema no país", afirmou.
Um dado positivo, segundo ela, é que a Copa trouxe benefícios indiretos aos trabalhadores sul-africanos. "Quem trabalhou em grandes projetos recebeu treinamento e agora pode conseguir um emprego melhor."
A África do Sul tem alto índice de desemprego e forte setor informal. O mesmo ocorre no Brasil, sede da próxima Copa do Mundo -embora aqui a taxa de desemprego seja mais baixa.
Uma reclamação contundente vem do setor informal, que responde por 15% do PIB nacional. "Os benefícios foram mínimos, com a possível exceção dos vendedores de bandeiras e vuvuzelas em semáforos. Mesmo para eles, a venda esfriou desde que a África do Sul saiu da Copa", diz Gaby Bikombo, diretor da Streetnet, ONG que representa vendedores de rua.
Ele aponta o dedo para a Fifa e suas rígidas regras de proteção a patrocinadores, que restringiram o trabalho de ambulantes dentro de estádios e em Fan Parks (áreas com exibição de jogos em telões). "Nem barracas de comida em canteiros de obras puderam ser montadas", diz.


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