São Paulo, quarta-feira, 30 de junho de 2010

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Triste como um fado

Em Lisboa, a esperança de vitória dos torcedores transforma-se em desgosto e resignação

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A LISBOA

Um fado.
Porque Portugal acreditava. Pendurou bandeiras nas janelas, vestiu a "camisola" da seleção, pintou os rostos.
"Depois do 7 a 0, todo o país ficou animado, abraçou a equipe, começou a achar que é possível conquistar este Mundial", conta Pedro Felgueira Soares, cineasta.
O duelo com a Espanha começa às 19h30 locais. Dá tempo de sair do trabalho, encontrar os amigos, tomar umas cervejas, colocar à prova toda essa nova esperança.
Agonia.
Porque Portugal começa bem e, aos 20min, o espanhol Casillas intervém antes de Hugo Almeida alcançar a bola. "Filho da mãe!", grita um, lá n'A Tasca do Chico.
É nesta casa de fado no Bairro Alto, centro de Lisboa, que a Folha acompanha o primeiro tempo da partida de ontem. A capital portuguesa é a 18ª escala da série "Um Mundo Que Torce", a primeira no continente europeu.
Saudade.
Porque Portugal não esquece Luiz Felipe Scolari.
"Ele era mais próximo do povo, era um entusiasta, um motivador também dos torcedores. O Queiroz até é um bom treinador, mas não conta com aquele carisma", relata José Tavares, técnico de categorias de base no Porto.
O brasileiro levou o time à quarta posição em 2006, primeira vez nas semifinais desde 1966. A expectativa é a de, no mínimo, repetir o feito.
Mas o nome da viela ao lado da Tasca soa aterrorizante. É a Travessa da Espera.
Desgosto.
Porque Portugal tem o festejado Cristiano Ronaldo. Melhor do mundo em 2008, deixando o espanhol Fernando Torres em terceiro. Vice em 2009, um posto à frente de outro espanhol, Xavi.
Na Cidade do Cabo, porém, os menos laureados são os mais eficientes. E, aos 18min da etapa final, Villa marca. Um grupo de cerca de 50 espanhóis vibra no largo do Rossio, dez minutos de caminhada do Bairro Alto. O segundo tempo rola por lá.
Resignação.
Porque Portugal silencia. Os poucos palavrões cabeludos que se ouvem na praça têm claro sotaque brasileiro.
"Ainda faltam nove minutos. Vamos lá, temos que virar", tenta o locutor da RTP.
Na praça, o tal grupo de 50 grita "Espanha, Espanha". Alguns ao redor reagem com "Portugal, Portugal". É pouco, quase nada.
"Futebol é assim. Se eu tivesse perdido, teria que aguentar os portugueses. Agora, são eles que vão ter que aguentar a gente", diz José Maria Lavena, madrileno que estuda em Lisboa.
Assim que o jogo termina, um repórter do "CQC" espanhol invade o largo do Rossio para tirar um sarro dos derrotados, cabisbaixos.
Mau humor.
Porque ao abordar um policial com um "boa noite", atrás de algum dado sobre o número de pessoas ali na praça, o repórter ouviu como resposta "Não, pá. 1 a 0."
Agonia, saudade, desgosto, resignação, mau humor.
Um fado.


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