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Triste como um fado
Em Lisboa, a esperança de vitória dos torcedores transforma-se em desgosto e resignação
FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A LISBOA
Um fado.
Porque Portugal acreditava. Pendurou bandeiras nas
janelas, vestiu a "camisola"
da seleção, pintou os rostos.
"Depois do 7 a 0, todo o
país ficou animado, abraçou
a equipe, começou a achar
que é possível conquistar este Mundial", conta Pedro Felgueira Soares, cineasta.
O duelo com a Espanha começa às 19h30 locais. Dá
tempo de sair do trabalho,
encontrar os amigos, tomar
umas cervejas, colocar à prova toda essa nova esperança.
Agonia.
Porque Portugal começa
bem e, aos 20min, o espanhol Casillas intervém antes
de Hugo Almeida alcançar a
bola. "Filho da mãe!", grita
um, lá n'A Tasca do Chico.
É nesta casa de fado no
Bairro Alto, centro de Lisboa,
que a Folha acompanha o
primeiro tempo da partida de
ontem. A capital portuguesa
é a 18ª escala da série "Um
Mundo Que Torce", a primeira no continente europeu.
Saudade.
Porque Portugal não esquece Luiz Felipe Scolari.
"Ele era mais próximo do
povo, era um entusiasta, um
motivador também dos torcedores. O Queiroz até é um
bom treinador, mas não conta com aquele carisma", relata José Tavares, técnico de
categorias de base no Porto.
O brasileiro levou o time à
quarta posição em 2006, primeira vez nas semifinais desde 1966. A expectativa é a de,
no mínimo, repetir o feito.
Mas o nome da viela ao lado da Tasca soa aterrorizante. É a Travessa da Espera.
Desgosto.
Porque Portugal tem o festejado Cristiano Ronaldo.
Melhor do mundo em 2008,
deixando o espanhol Fernando Torres em terceiro. Vice em 2009, um posto à frente de outro espanhol, Xavi.
Na Cidade do Cabo, porém, os menos laureados são
os mais eficientes. E, aos
18min da etapa final, Villa
marca. Um grupo de cerca de
50 espanhóis vibra no largo
do Rossio, dez minutos de caminhada do Bairro Alto. O segundo tempo rola por lá.
Resignação.
Porque Portugal silencia.
Os poucos palavrões cabeludos que se ouvem na praça
têm claro sotaque brasileiro. "Ainda faltam nove minutos. Vamos lá, temos que virar", tenta o locutor da RTP.
Na praça, o tal grupo de 50
grita "Espanha, Espanha".
Alguns ao redor reagem com
"Portugal, Portugal". É pouco, quase nada.
"Futebol é assim. Se eu tivesse perdido, teria que
aguentar os portugueses.
Agora, são eles que vão ter
que aguentar a gente", diz José Maria Lavena, madrileno
que estuda em Lisboa.
Assim que o jogo termina,
um repórter do "CQC" espanhol invade o largo do Rossio
para tirar um sarro dos derrotados, cabisbaixos.
Mau humor.
Porque ao abordar um policial com um "boa noite",
atrás de algum dado sobre o
número de pessoas ali na
praça, o repórter ouviu como
resposta "Não, pá. 1 a 0."
Agonia, saudade, desgosto, resignação, mau humor.
Um fado.
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