|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Corinthians desvenda o "titês"
Para recuperar equipe no Brasileiro, jogadores precisam traduzir instruções do treinador
gaúcho, que pede a eles "qualificação" e "gol de chiripa" e deixa de lado o batido "futebolês"
RICARDO PERRONE
DA REPORTAGEM LOCAL
A escalada para tirar o Corinthians da metade de baixo da tabela do Brasileiro-04 não exige
apenas uma mudança na maneira
de jogar. Desde a chegada de Tite
ao clube, no fim de maio, os jogadores passam pelo aprendizado
de um novo idioma, o "titês".
Em vez de berros manjados, do
tipo "capricha" e "pega", os corintianos ouvem comandos como
"quero qualificação" e "compete", que, para o treinador, são sinônimos das duas primeiras.
Dono de um vocabulário incomum entre seus colegas, adeptos
do "futebolês", o gaúcho transformou as conversas com os jogadores em testes de tradução.
"Ele fala o que o time precisa, do
jeito dele. Depois, pede para a
gente explicar com as nossas palavras" disse Gil, ao contar como
são as preleções feitas por ele.
Na tentativa de evitar confusões, tanto nas conversas antes
dos jogos como nos treinamentos, Tite usa sinônimos ao perceber que não foi compreendido.
"Nas conversas com eles, procuro ser claro e digo: agora é hora
de interagir, alguém não entendeu alguma coisa?", contou.
Numa das preleções, o técnico
chegou mesmo a usar outro idioma para passar instruções. "Ele
pegou um livro sobre o Maradona
e começou a falar em espanhol",
lembrou o volante Fabinho.
"Uso literatura, obras sobre
grandes atletas, para confirmar
algo que passei. É uma forma de
convencimento. Gosto de municiar os jogadores com informações", declarou o treinador.
Na última terça, um dia antes da
vitória de 1 a 0 sobre o Cruzeiro,
ele pediu um "gol de chiripa" para
acabar com o jejum de dois jogos
do ataque, mas não foi entendido
pelos repórteres. "Fiz uma neologia, é uma palavra inventada. Não
sei como se escreve."
Porém não se trata de um verbete de autoria do técnico gaúcho.
Chiripa é um sinônimo de bambúrrio ou sorte no jogo.
Os atletas dizem compreender o
treinador, mas nem sempre conseguem provar isso. "Ele fala muitas palavras diferentes, mas não
lembro nenhuma", afirmou Gil.
"Dá para entender tudo o que o
Tite fala porque ele sempre faz
muitos gestos para explicar", declarou o volante Bruno Octavio.
Os corintianos dizem que ele raramente solta palavrões. "Mas
não pense que sou sempre educado. Tenho meus rompantes, mostro outro lado no vestiário."
Tite afirma não se preocupar se
a torcida é capaz de entender seu
vocabulário durante as entrevistas. O técnico, formado em educação física, afirma que os fãs do time têm outra preocupação. "Os
torcedores interpretam a minha
linguagem de acordo com maneira como o time joga. É através do
rendimento da equipe que eles
analisam meu trabalho."
Se o parâmetro for o desempenho em campo, os jogadores
compreendem melhor Tite do
que seu antecessor, Oswaldo de
Oliveira. Sob o comando do técnico atual, a equipe escapou da zona
de rebaixamento, ocupa agora a
15ª posição e tem um aproveitamento de 47,2% dos pontos. Com
Oliveira, o clube ganhou apenas
35,3% dos pontos disputados.
Os jogadores fazem coro ao pedir que contra o São Caetano, domingo, as finalizações sejam feitas
com mais "precisão", um dos termos preferidos de Tite.
O técnico, que ontem recepcionou o zagueiro e lateral Filipe Alvim, espera informações sobre o
seu ex-time, ou nas palavras dele,
"ter as variáveis do adversário".
Colaborou Paulo Cobos,
da Reportagem Local
Texto Anterior: Painel FC Próximo Texto: Frase Índice
|