São Paulo, sexta-feira, 30 de julho de 2004

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Corinthians desvenda o "titês"

Para recuperar equipe no Brasileiro, jogadores precisam traduzir instruções do treinador gaúcho, que pede a eles "qualificação" e "gol de chiripa" e deixa de lado o batido "futebolês"

RICARDO PERRONE
DA REPORTAGEM LOCAL

A escalada para tirar o Corinthians da metade de baixo da tabela do Brasileiro-04 não exige apenas uma mudança na maneira de jogar. Desde a chegada de Tite ao clube, no fim de maio, os jogadores passam pelo aprendizado de um novo idioma, o "titês".
Em vez de berros manjados, do tipo "capricha" e "pega", os corintianos ouvem comandos como "quero qualificação" e "compete", que, para o treinador, são sinônimos das duas primeiras.
Dono de um vocabulário incomum entre seus colegas, adeptos do "futebolês", o gaúcho transformou as conversas com os jogadores em testes de tradução.
"Ele fala o que o time precisa, do jeito dele. Depois, pede para a gente explicar com as nossas palavras" disse Gil, ao contar como são as preleções feitas por ele.
Na tentativa de evitar confusões, tanto nas conversas antes dos jogos como nos treinamentos, Tite usa sinônimos ao perceber que não foi compreendido.
"Nas conversas com eles, procuro ser claro e digo: agora é hora de interagir, alguém não entendeu alguma coisa?", contou.
Numa das preleções, o técnico chegou mesmo a usar outro idioma para passar instruções. "Ele pegou um livro sobre o Maradona e começou a falar em espanhol", lembrou o volante Fabinho.
"Uso literatura, obras sobre grandes atletas, para confirmar algo que passei. É uma forma de convencimento. Gosto de municiar os jogadores com informações", declarou o treinador.
Na última terça, um dia antes da vitória de 1 a 0 sobre o Cruzeiro, ele pediu um "gol de chiripa" para acabar com o jejum de dois jogos do ataque, mas não foi entendido pelos repórteres. "Fiz uma neologia, é uma palavra inventada. Não sei como se escreve."
Porém não se trata de um verbete de autoria do técnico gaúcho. Chiripa é um sinônimo de bambúrrio ou sorte no jogo.
Os atletas dizem compreender o treinador, mas nem sempre conseguem provar isso. "Ele fala muitas palavras diferentes, mas não lembro nenhuma", afirmou Gil.
"Dá para entender tudo o que o Tite fala porque ele sempre faz muitos gestos para explicar", declarou o volante Bruno Octavio.
Os corintianos dizem que ele raramente solta palavrões. "Mas não pense que sou sempre educado. Tenho meus rompantes, mostro outro lado no vestiário."
Tite afirma não se preocupar se a torcida é capaz de entender seu vocabulário durante as entrevistas. O técnico, formado em educação física, afirma que os fãs do time têm outra preocupação. "Os torcedores interpretam a minha linguagem de acordo com maneira como o time joga. É através do rendimento da equipe que eles analisam meu trabalho."
Se o parâmetro for o desempenho em campo, os jogadores compreendem melhor Tite do que seu antecessor, Oswaldo de Oliveira. Sob o comando do técnico atual, a equipe escapou da zona de rebaixamento, ocupa agora a 15ª posição e tem um aproveitamento de 47,2% dos pontos. Com Oliveira, o clube ganhou apenas 35,3% dos pontos disputados.
Os jogadores fazem coro ao pedir que contra o São Caetano, domingo, as finalizações sejam feitas com mais "precisão", um dos termos preferidos de Tite.
O técnico, que ontem recepcionou o zagueiro e lateral Filipe Alvim, espera informações sobre o seu ex-time, ou nas palavras dele, "ter as variáveis do adversário".


Colaborou Paulo Cobos, da Reportagem Local

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