São Paulo, sexta-feira, 30 de julho de 2004

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FUTEBOL

O oportunismo de Adriano e Agnelo

MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA

O futebol consagra como elogio um adjetivo usualmente pejorativo: oportunista. Na recém-encerrada Copa América, o oportunismo do brucutu Adriano levou-o à artilharia e empurrou o Brasil ao título. Um baita oportunista.
No palanque da entrega de medalhas, em meio à fina flor da cartolagem (presidentes da Fifa, da Conmebol, da CBF), eis que avistou-se em Lima um tipo mal-amanhado. Vestindo uma camisa canarinho meio escondida pelo que seria um casaco ou um blazer, sorria o ministro do Esporte, Agnelo Queiroz. Que bela oportunidade!
O que fazia lá?
Em campo, não vimos seus eventuais dotes com a pelota. Não se sabe de missão junto à organização do torneio ou de mãozinha dada à comissão técnica de Parreira. O ministro não marcaria para o Peru reunião que pudesse ocorrer no Brasil. Nem cumpriria agenda com a CBF, ocupada com os finalmentes da competição.
Ainda que tivesse o mais relevante programa no domingo limenho, e que o programa fosse incentivar a seleção no estádio, o ministro não tinha o que fazer no palanque fantasiado de torcedor.
Em tempo de Olimpíada, bateu um recorde na modalidade de tirar uma casquinha com o triunfo alheio. Juscelino e Jango recepcionaram os campeões mundiais. O general Médici deixou-se fotografar com radinho no ouvido e bola nos pés, promoveu o oba-oba do tri. Itamar fez pose no tetra. Fernando Henrique, no penta. Antes, Collor achou que era dele um pedaço de cada medalha trazida de Barcelona. Nenhum, contudo, decolou para o exterior em busca de um retrato no palanque.
É difícil acreditar que o ministro tenha viajado para aprender. Sua próxima escala, na Grécia, talvez lhe dê lições de como promover um evento de envergadura. Pode ser útil ao Pan. O Peru, no entanto, o que teria a ensinar?
Na página do Ministério do Esporte na internet há relatos do que o ministro fez dias antes e depois de viajar. Sobre o fim de semana emoldurando a imagem dos campeões, nada. Nem um registro na seção de notícias do site, a mesma que divulga até vôo do dirigível da segurança em Atenas.
Procurada, a assessoria de Agnelo informou que a viagem foi paga pelo ministério. Disse mais: o ministro representou o presidente Lula; é praxe sua comparecer a atividades esportivas importantes; viajou sozinho para não aumentar custos; apoiar a seleção na final é ação de relevância.
Em todo o mundo, de fato, autoridades prestigiam compatriotas em batalhas esportivas. Mas Agnelo Queiroz não se limitou à presença protocolar. Subiu no palanque para emplacar um golzinho pessoal. Eis a questão. É de se indagar: o dinheiro dos contribuintes se destina a isso?
Curioso é que, como revelou o Painel FC, o ministro não vestiu a camisa amarela durante a partida com a Argentina. Só depois da vitória nos pênaltis. Aí ficou fácil, ele não desperdiçou a oportunidade: caiu na farra, acercou-se da taça e correu para o abraço.

Lições da Copa
Além da final inesquecível, o que fica da Copa América são os jogadores que vão se incorporar à verdadeira seleção. Hoje, só um dos campeões merece ser titular: Juan. Impressionam balanços que tratam Alex como um aluno em recuperação. Com ele em campo, de cada três gols, dois passaram por seus pés. O que querem mais? Jogou mal a decisão, dizem. Esquecem que ele se contundiu no primeiro tempo e saiu no começo da segunda etapa. E quem cruzou para Luisão marcar? Isso não é decidir? Incrível é a onda pró-Gustavo Nery. Ele melhorou um pouco na decisão, mas não foi bem no torneio. Estou com o José Geraldo Couto: tem muita gente melhor do que o novo queridinho da mídia.

E-mail
mario.magalhaes@uol.com.br


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