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FUTEBOL
O oportunismo de Adriano e Agnelo
MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA
O futebol consagra como
elogio um adjetivo usualmente pejorativo: oportunista. Na
recém-encerrada Copa América,
o oportunismo do brucutu Adriano levou-o à artilharia e empurrou o Brasil ao título. Um baita
oportunista.
No palanque da entrega de medalhas, em meio à fina flor da
cartolagem (presidentes da Fifa,
da Conmebol, da CBF), eis que
avistou-se em Lima um tipo mal-amanhado. Vestindo uma camisa canarinho meio escondida pelo
que seria um casaco ou um blazer, sorria o ministro do Esporte,
Agnelo Queiroz. Que bela oportunidade!
O que fazia lá?
Em campo, não vimos seus
eventuais dotes com a pelota. Não
se sabe de missão junto à organização do torneio ou de mãozinha
dada à comissão técnica de Parreira. O ministro não marcaria
para o Peru reunião que pudesse
ocorrer no Brasil. Nem cumpriria
agenda com a CBF, ocupada com
os finalmentes da competição.
Ainda que tivesse o mais relevante programa no domingo limenho, e que o programa fosse
incentivar a seleção no estádio, o
ministro não tinha o que fazer no
palanque fantasiado de torcedor.
Em tempo de Olimpíada, bateu
um recorde na modalidade de tirar uma casquinha com o triunfo
alheio. Juscelino e Jango recepcionaram os campeões mundiais. O
general Médici deixou-se fotografar com radinho no ouvido e bola
nos pés, promoveu o oba-oba do
tri. Itamar fez pose no tetra. Fernando Henrique, no penta. Antes,
Collor achou que era dele um pedaço de cada medalha trazida de
Barcelona. Nenhum, contudo, decolou para o exterior em busca de
um retrato no palanque.
É difícil acreditar que o ministro tenha viajado para aprender.
Sua próxima escala, na Grécia,
talvez lhe dê lições de como promover um evento de envergadura. Pode ser útil ao Pan. O Peru,
no entanto, o que teria a ensinar?
Na página do Ministério do Esporte na internet há relatos do
que o ministro fez dias antes e depois de viajar. Sobre o fim de semana emoldurando a imagem
dos campeões, nada. Nem um registro na seção de notícias do site,
a mesma que divulga até vôo do
dirigível da segurança em Atenas.
Procurada, a assessoria de Agnelo informou que a viagem foi
paga pelo ministério. Disse mais:
o ministro representou o presidente Lula; é praxe sua comparecer a atividades esportivas importantes; viajou sozinho para não
aumentar custos; apoiar a seleção
na final é ação de relevância.
Em todo o mundo, de fato, autoridades prestigiam compatriotas em batalhas esportivas. Mas
Agnelo Queiroz não se limitou à
presença protocolar. Subiu no palanque para emplacar um golzinho pessoal. Eis a questão. É de se
indagar: o dinheiro dos contribuintes se destina a isso?
Curioso é que, como revelou o
Painel FC, o ministro não vestiu a
camisa amarela durante a partida com a Argentina. Só depois da
vitória nos pênaltis. Aí ficou fácil,
ele não desperdiçou a oportunidade: caiu na farra, acercou-se da
taça e correu para o abraço.
Lições da Copa
Além da final inesquecível, o
que fica da Copa América são
os jogadores que vão se incorporar à verdadeira seleção. Hoje, só um dos campeões merece
ser titular: Juan. Impressionam
balanços que tratam Alex como
um aluno em recuperação.
Com ele em campo, de cada
três gols, dois passaram por
seus pés. O que querem mais?
Jogou mal a decisão, dizem. Esquecem que ele se contundiu
no primeiro tempo e saiu no
começo da segunda etapa. E
quem cruzou para Luisão marcar? Isso não é decidir? Incrível
é a onda pró-Gustavo Nery. Ele
melhorou um pouco na decisão, mas não foi bem no torneio. Estou com o José Geraldo
Couto: tem muita gente melhor
do que o novo queridinho da
mídia.
E-mail
mario.magalhaes@uol.com.br
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