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Sob terror, Iraque ganha Copa da Ásia e pede paz
Mahmoud, autor do gol do título, diz não voltar ao país por temer a segurança
Para diminuir a violência,
é decretado toque de
recolher em Bagdá; herói
da conquista pede a saída
das tropas dos EUA do país
DA REPORTAGEM LOCAL
Celebração, histeria, emoção. E, acima de tudo, um grito
de liberdade. O clima de terror
que assombra os iraquianos
desde a invasão dos EUA, em
março de 2003, deu lugar, por
poucas horas ontem, à comemoração da população pela
conquista do inédito título da
Copa da Ásia de futebol.
Duas explosões de carros-bomba ao norte de Bagdá deixaram ao menos sete mortos.
Tão logo veio o apito final na
decisão, que decretou a vitória
de 1 a 0 do Iraque sobre a Arábia Saudita, ontem, em Jacarta,
na Indonésia, rajadas de armas
automáticas foram disparadas
para o alto como comemoração
em Bagdá. A atitude veio principalmente de militares, policiais e agentes de segurança.
Nada fora capaz de conter a
euforia da população. Nem o
toque de recolher, que impedia
os veículos de circular pela capital iraquiana, além das cidades de Kirkuk e Nínive, nem o
temor por novos atentados
-como o ocorrido após a classificação do Iraque para a final,
quando carros-bomba explodiram em meio às comemorações
pelas ruas da cidade matando
50 pessoas e ferindo outras 135.
Yaser Al Bayati, de Mosul, cidade que fica a 400 quilômetros da capital iraquiana, definiu a importância da conquista.
"Vamos sair às ruas independentemente dos perigos que
podemos encontrar. Queremos
passar a imagem de alegria nessas ruas que viraram cenário de
morte e destruição", disse.
As manifestações políticas
também foram exibidas pela
população com faixas nas ruas
do centro da capital expressando a dor de ser um país ocupado. "Força ao Iraque unido" e
"Viva os leões da Mesopotâmia
e aos heróis do grande Iraque",
ganharam espaço nos festejos.
O primeiro-ministro Nuri Al
Maliki também espera que a vitória nos campos possa, de alguma forma, mudar um pouco
a realidade de seu povo.
"Com essa conquista, vimos
que existem muitas maneiras
de o impossível triunfar e conseguir a vitória. Espero que todos possam viver livres e vitoriosos em um país em que os assassinos não têm lugar", afirmou o líder político iraquiano.
Maliki fez questão de parabenizar seus jogadores por telefone e partiu dele uma recompensa pelo feito: cada atleta vai
receber US$ 10 mil pelo título.
O jogador Younis Mahmoud,
autor do gol que encheu milhares de compatriotas de felicidade, centrou o foco das suas declarações para além da esfera
esportiva e falou sobre a opressão que vive o seu povo.
"Eu quero que os Estados
Unidos desocupem o Iraque.
Hoje, amanhã ou depois, mas
que vão embora. Espero que
eles não invadam mais o Iraque
e que isso se resolva o mais breve possível", disse o jogador que
defende o Al Gharafa, do Qatar.
Mahmoud revelou ainda que,
apesar do momento de felicidade que o Iraque vive com a conquista, não pretende voltar a
seu país com a delegação.
"Eu não quero que o povo iraquiano fique bravo comigo,
mas se eu voltar com o time, alguém poderia me matar ou tentar me machucar", afirmou.
A conquista na Ásia também
teve um toque de Brasil, apesar
da distância. O treinador da seleção iraquiana é o brasileiro
Jorvan Vieira, que já anunciou
sua saída da seleção do Iraque.
"Vou sair. Quero ir para casa
e, depois, ir à praia", afirmou.
Vieira, que trabalha no
Oriente Médio desde 1978, é casado com uma marroquina e
mora no Marrocos. Treinador
do Iraque há pouco mais de
dois meses, ele só esteve uma
vez no país de sua seleção.
Mas, ao contrário de Mahmoud, ele pretende voltar ao
país para ver festa dos iraquianos. "Estou feliz por levar um
sorriso ao rosto dos iraquianos.
Sei da importância dessa conquista para todos no país", falou o treinador brasileiro.
Com agências internacionais
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