São Paulo, segunda-feira, 30 de julho de 2007

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Sob terror, Iraque ganha Copa da Ásia e pede paz

Mahmoud, autor do gol do título, diz não voltar ao país por temer a segurança

Para diminuir a violência, é decretado toque de recolher em Bagdá; herói da conquista pede a saída das tropas dos EUA do país

DA REPORTAGEM LOCAL

Celebração, histeria, emoção. E, acima de tudo, um grito de liberdade. O clima de terror que assombra os iraquianos desde a invasão dos EUA, em março de 2003, deu lugar, por poucas horas ontem, à comemoração da população pela conquista do inédito título da Copa da Ásia de futebol.
Duas explosões de carros-bomba ao norte de Bagdá deixaram ao menos sete mortos.
Tão logo veio o apito final na decisão, que decretou a vitória de 1 a 0 do Iraque sobre a Arábia Saudita, ontem, em Jacarta, na Indonésia, rajadas de armas automáticas foram disparadas para o alto como comemoração em Bagdá. A atitude veio principalmente de militares, policiais e agentes de segurança.
Nada fora capaz de conter a euforia da população. Nem o toque de recolher, que impedia os veículos de circular pela capital iraquiana, além das cidades de Kirkuk e Nínive, nem o temor por novos atentados -como o ocorrido após a classificação do Iraque para a final, quando carros-bomba explodiram em meio às comemorações pelas ruas da cidade matando 50 pessoas e ferindo outras 135.
Yaser Al Bayati, de Mosul, cidade que fica a 400 quilômetros da capital iraquiana, definiu a importância da conquista.
"Vamos sair às ruas independentemente dos perigos que podemos encontrar. Queremos passar a imagem de alegria nessas ruas que viraram cenário de morte e destruição", disse.
As manifestações políticas também foram exibidas pela população com faixas nas ruas do centro da capital expressando a dor de ser um país ocupado. "Força ao Iraque unido" e "Viva os leões da Mesopotâmia e aos heróis do grande Iraque", ganharam espaço nos festejos.
O primeiro-ministro Nuri Al Maliki também espera que a vitória nos campos possa, de alguma forma, mudar um pouco a realidade de seu povo.
"Com essa conquista, vimos que existem muitas maneiras de o impossível triunfar e conseguir a vitória. Espero que todos possam viver livres e vitoriosos em um país em que os assassinos não têm lugar", afirmou o líder político iraquiano.
Maliki fez questão de parabenizar seus jogadores por telefone e partiu dele uma recompensa pelo feito: cada atleta vai receber US$ 10 mil pelo título.
O jogador Younis Mahmoud, autor do gol que encheu milhares de compatriotas de felicidade, centrou o foco das suas declarações para além da esfera esportiva e falou sobre a opressão que vive o seu povo.
"Eu quero que os Estados Unidos desocupem o Iraque. Hoje, amanhã ou depois, mas que vão embora. Espero que eles não invadam mais o Iraque e que isso se resolva o mais breve possível", disse o jogador que defende o Al Gharafa, do Qatar.
Mahmoud revelou ainda que, apesar do momento de felicidade que o Iraque vive com a conquista, não pretende voltar a seu país com a delegação.
"Eu não quero que o povo iraquiano fique bravo comigo, mas se eu voltar com o time, alguém poderia me matar ou tentar me machucar", afirmou.
A conquista na Ásia também teve um toque de Brasil, apesar da distância. O treinador da seleção iraquiana é o brasileiro Jorvan Vieira, que já anunciou sua saída da seleção do Iraque.
"Vou sair. Quero ir para casa e, depois, ir à praia", afirmou.
Vieira, que trabalha no Oriente Médio desde 1978, é casado com uma marroquina e mora no Marrocos. Treinador do Iraque há pouco mais de dois meses, ele só esteve uma vez no país de sua seleção.
Mas, ao contrário de Mahmoud, ele pretende voltar ao país para ver festa dos iraquianos. "Estou feliz por levar um sorriso ao rosto dos iraquianos. Sei da importância dessa conquista para todos no país", falou o treinador brasileiro.


Com agências internacionais


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