São Paulo, quinta-feira, 30 de setembro de 2004

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Auditorias fecham portas para "noiva" do Corinthians

Ao menos duas das maiores empresas do setor rejeitaram negócios com a MSI, fundo que tem oito donos desconhecidos e sede em um paraíso fiscal

EDUARDO ARRUDA
GUILHERME ROSEGUINI
RICARDO PERRONE
DA REPORTAGEM LOCAL

A MSI (Media Sports Investments), criada nas Ilhas Virgens Britânicas para se tornar parceira do Corinthians, já espantou ao menos duas empresas especializadas em auditorias e um escritório de advocacia em São Paulo.
Executivos da empresa procuraram alguns dos principais peritos-contadores do país para checar a situação financeira do clube antes de assinar o contrato.
Bateram com a cara na porta em pelo menos duas oportunidades.
Motivo: os auditores costumam analisar seus futuros clientes com o objetivo de não vincular sua imagem à de uma empresa que seja suspeita de irregularidades.
A MSI não passou nesse teste.
Uma das empresas procuradas foi a Ernest & Young. Segundo um de seus funcionários, que pediu anonimato, a ficha da MSI, gerenciada pelo iraniano Kia Joorabchian, foi reprovada. Segundo ele, um dos motivos foi ter sido apresentado como escritório da empresa em Londres o endereço de uma academia de ginástica.
Joorabchian também se envolveu na compra de um jornal com o russo Boris Berezovski, acusado de vários crimes, entre eles assassinato, lavagem de dinheiro e ligações com a máfia tchetchena.
À Folha, Joorabchian disse ser amigo de Berezovski, mas nega o envolvimento dele com a MSI.
Esse, aliás, foi um dos motivos que a Deloitte Touche Tohmatsu alegou para não trabalhar com a MSI. Antes de aceitar um cliente, a Deloitte também investiga a empresa e quem a administra.
Se o negócio representar "riscos", o cliente é imediatamente rejeitado. No caso da MSI, Joorabchian responde como administrador do fundo de investimentos, que reúne, segundo o próprio presidente do Corinthians, oito empresas de sócios desconhecidos. A situação não agradou aos auditores.
Oficialmente, porém, a Deloitte diz que há um "código de ética" e se negou a fazer comentários sobre o contato com a MSI.
A Ernest & Young afirma que, após ser procurada pela MSI, solicitou uma série de documentos à empresa, que não os entregou, interrompendo o negócio.
Os documentos, pedidos a todos os possíveis clientes, revelariam dados como a situação financeira e idoneidade da empresa e de seus principais responsáveis.
Renato Duprat, que trabalha para Joorabchian na MSI, agora registrada também em Londres, afirmou ter procurado três grandes empresas de auditoria. "Mas elas cobraram caro, por isso fechamos com um outro grupo de advogados que está auditando o Corinthians", disse o empresário.
A Ernest & Young nega a hipótese e afirma que nem chegou a fazer um orçamento por não ter recebido os documentos requisitados. A Deloitte não disse quanto cobraria para realizar o trabalho.
Antes da busca pelas auditorias, a parceria já tinha gerado polêmica. Procurado no começo da negociação para confeccionar o contrato entre MSI e Corinthians, um escritório de advocacia da capital não aceitou o pedido.
Desconfiava que a parceria poderia ser usada como lavagem de dinheiro. A suspeita é a mesma de membros do Conselho Deliberativo do Corinthians. "Já arrumei duas parcerias. Se vem a terceira, é porque somos corretos. Antes de se associar, eles vão tirar informação até da avó da gente", declarou o presidente Alberto Dualib.
A empresa informou que injetaria US$ 35 milhões para pagamentos de dívidas, reestruturação do clube e contratação de atletas. Joorabchian disse que, se quisesse lavar dinheiro, faria um negócio que chamasse menos atenção.


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