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MOTOR
A culpa foi dele
FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL
A culpa já foi do sistema hidráulico. Já foi da telemetria, que não acusou falta de gasolina, e do motor, que explodiu.
Já foi dele mesmo, como há três
anos, quando bateu em Ralf.
Mas, no domingo, até Rubens
Barrichello se enrolou para explicar o problema de pneu que jogou
fora sua "vitória certa" em Interlagos. Numa inquisitória entrevista coletiva após o GP, chegou a
ser socorrido por Montoya, que,
da mesma forma, não conseguiu
definir com muita clareza o que
tinha destroçado o dia do amigo.
Os pneus intermediários não
rendiam no chove-não-molha?
Mas como, se ele ultrapassou
Raikkonen e estava na liderança
quando entrou nos boxes? E se
não funcionavam, por que ficou
na pista e não os trocou na mesma volta de seus adversários?
Barrichello e Montoya até deram algumas dicas, mas se embananaram nas respostas, ficaram
irritados com a insistência dos repórteres e deixaram a sala de imprensa de Interlagos bufando.
Taí uma raridade. Qualquer
pessoa que já tenha convivido o
mínimo que seja com pilotos sabe
que uma especialidade da profissão é uma retórica particular para explicar problemas na pista.
Do kart à F-1, desenvolvem, ao
longo dos anos, um repertório
enorme, criativo, engraçado, às
vezes, tamanha a cara-de-pau.
Puro instinto de sobrevivência.
É muito mais fácil colocar a culpa
na quebra de uma rebimboca
qualquer do que admitir um erro
que pode abalar o ego, manchar a
carreira ou até custar o emprego.
E há o outro lado, quando as
próprias equipes criam histórias
mirabolantes para encobrir uma
falha infantil ou preservar algum
componente secreto ou ilícito.
Já ouvi explicações absurdas, e
não é difícil puxar na memória.
No fim de semana, um piloto
começou colocando a culpa nos
pneus (o mesmo de Montoya),
passou pelo equilíbrio do carro
(idêntico ao do companheiro,
meio segundo mais rápido) e encerrou dizendo que estava com febre (ok, pára que eu vou chorar).
Não por coincidência, Cristiano
da Matta, que em seus 28 GPs
sempre confessou os erros com
uma franqueza cortante, perdeu
a vaga. Ele não dava desculpas.
Mas dá para compreender o
que se passou com Barrichello e
Montoya. Os dois estavam atônitos. O primeiro, pela surpresa da
derrota. O outro, porque não
imaginava a vitória. Por isso foi
tão complicado, naquele momento, encontrar as palavras certas.
Bastava terem dito: "Aquela é a
única condição, a única, que derruba a Ferrari. O asfalto estava
seco demais para os pneus intermediários da Bridgestone e muito
molhado para os secos. Era escolher entre ser mais lento ou rodar
na primeira curva. A primeira
opção pareceu mais sensata".
O caso de Barrichello e da Ferrari, no domingo, não foi para
desculpas. Não havia o que encobrir, nenhuma peça misteriosa
quebrou, ele não cometeu nenhum erro naquelas 71 voltas.
Não é o caso também de culpar
a Bridgestone. No mano a mano,
a Michelin perdeu feio neste ano.
Registre-se: a culpa em 2004 foi
do mais pesado, abominável e
implacável azar. E mais nada.
Tudo ou nada
A F-1 já está em 2005, e a Toyota deve ser a primeira a testar o novo
carro, pouco antes do Natal. Será o primeiro modelo com a grife de
Paul Gascoyne, que neste ano só pôde remendar um carro ruim.
Acabaram-se as desculpas. O ano que vem será de vai ou racha.
Tudo
Michael Jordan causou alvoroço em Valência ao declarar que estuda
montar uma equipe na MotoGP. Disse que é uma paixão antiga e que
só largou sua Honda 60 por causa do basquete. Jordan e Rossi sob o
mesmo teto? E assim a F-1 vai perdendo cada vez mais espaço...
Nada
Não estranhe se a Williams demorar a se decidir. A queda de braço é
dura. De um lado, BMW e Heidfeld. Do outro, Petrobras e Pizzonia.
E-mail fseixas@folhasp.com.br
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