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Gargalos da economia real desafiam Mundial
País vive crise com provisão de cimento, energia e com estrutura aeroportuária
Fifa exige que não faltem eletricidade e espaços exclusivos nos aeroportos; preço de insumo vai fazer custo dos estádios crescer
EDUARDO OHATA
PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Se a Fifa confirmar amanhã o
Brasil como sede do Mundial
de 2014, o que parece certo, será a hora de os organizadores
enfrentarem os gargalos que
travam o crescimento do país.
O Mundial vai exigir muito
cimento, segurança elétrica, espaço nos aeroportos e transporte, tudo que com ou sem a
competição é um problema nacional para os próximos anos.
Em documento chamado
"Acordo para sediar a Copa", a
Fifa diz que "é imperativo que a
queda de energia não leve ao
cancelamento ou adiamento de
um jogo ou de uma transmissão
pela TV". No Pan, a energia caiu
no Riocentro e no Engenhão.
O próprio presidente Lula
não garante a oferta de energia
(uma incógnita na próxima década) de acordo com a demanda para depois de 2010, quando
acaba o seu segundo mandato.
O Instituto Acende Brasil,
que representa os principais investidores privados em energia, calcula em 14% o risco de
racionamento em 2011.
"É necessário atrair investidores para outras hidrelétricas,
investir em energia da cana-de-açúcar, e o país não pode crescer no estilo chinês, tem que
continuar em 4%. Se crescer
muito, em 8%, vai haver problemas", afirma Rafael Schechtman, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura.
Nas suas exigências para um
país organizar um Mundial, a
Fifa pede postos de "check in"
exclusivos para as pessoas envolvidas na competição nos aeroportos do país-sede.
A falta de espaço para esses
postos é um dos pilares da crise
aérea, principalmente nos aeroportos mais movimentados.
Se conseguir um espaço reservado, a Fifa irá enfrentar a
ira de Paulo Candiota, presidente da Associação Nacional
de Defesa do Direito do Passageiro do Transporte Aéreo.
"Eles querem criar uma casta
privilegiada fora do apagão aéreo. Mas não vão conseguir fazer isso. [A idéia de um "check
in" para a família Fifa] parece
totalmente inviável. Nem há
balcões nos aeroportos para
atender a todo mundo. Não
acho que as companhias aéreas
vão conseguir operacionalizar
isso", afirma Candiota, que não
descarta uma ação judicial contra o "privilégio" dado à Fifa.
Em algumas regiões do país,
como no Centro-Oeste, vem
faltando cimento, o insumo básico para construção e reforma
de estádios em massa que a Copa exige. A indústria do setor
diz que foram problemas pontuais e que a demanda para os
estádios, por seu porte, não tem
como afetar a oferta, que, segundo ela, está garantida.
Mas os custos vão aumentar.
Segundo projeção da consultoria Tendências, o preço do cimento deve subir 8,5% neste
ano e 10% em 2008.
Isso significa que para a edificação de um estádio do porte
do Engenhão, por exemplo, um
aumento de cerca de R$ 1,5 milhão no custo da obra.
"O preço [do cimento] será o
de mercado, mas nossos preços
são os mais competitivos do
continente americano", diz José Otavio Carvalho, secretário
executivo do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento.
A Fifa também trabalha com
a hipótese de o trem-bala planejado para ligar Rio e São Paulo estar pronto em 2014. Mas
isso hoje parece ficção. Mesmo
que os planos atuais tenham
sucesso, a projeção é que a ferrovia, que ligaria as cidades em
pouco mais de duas horas, só
deve estar finalizada em 2015,
quando a Copa será passado.
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