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São Paulo, domingo, 30 de novembro de 2003

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OLIMPÍADA

Comitê teme que atletas façam uso de atestados falsos para utilizar inalador e obter melhora de desempenho

"Brecha olímpica", asma volta a ser preocupação do COI

ADALBERTO LEISTER FILHO
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL

A asma entrou de novo na lista de preocupações dos controles antidoping para os Jogos de Atenas-04. Desconfia-se que um grande número de atletas, que diz usar remédios para controlar a doença, na verdade estaria obtendo melhora de performance.
Nos Jogos de Sydney-00, 7% dos competidores apresentaram atestados se dizendo asmáticos. Com isso, não estariam sujeitos à punição em caso de testes positivos para alguns esteróides anabólicos.
O índice é altíssimo, já que a Organização Mundial da Saúde calcula que só 1% da população sofra da doença. Para o Comitê Olímpico Internacional, a brecha jurídica foi usada para escamotear casos verdadeiros. A questão já foi mais séria. Nos Jogos de Inverno de Lillehammer-94, 70% dos atletas foram autorizados a usar o inalador.
Segundo a Folha apurou, o COI pretende ser mais rigoroso em 2004. Na Grécia, além de apresentar um atestado médico, o competidor teria que comprovar, com exames, a condição de asmático.
A medida visa prevenir uma enxurrada de fraudes. Em Atenas, o problema pode ser crônico. O alerta foi dado pelo Instituto Médico Olímpico da Inglaterra. A entidade divulgou, nesta semana, um estudo revelando que o nível de poluição por ozônio em Atenas pode prejudicar a performance dos asmáticos, particularmente no triatlo e em provas de resistência da natação e do atletismo.
O ozônio é um poluente que, na troposfera (camada de ar que vai até 10 km de altura), é um oxidante. Em contato com o homem, diminui os mecanismos de defesa do sistema respiratório e pode causar inflamação no pulmão.
"Atenas é quente e poluída. Essa mistura tem um efeito negativo sobre os atletas. Nos últimos dez anos, o nível de ozônio tem excedido os limites seguros estabelecidos pela OMS", diz Greg Whyte, pesquisador-chefe do instituto.
O maior exemplo inglês é Paula Radcliffe, dona da melhor marca da maratona (2h15min25s), que sofre com crises periódicas. Na natação, o australiano Grant Hackett, atual campeão olímpico dos 1.500 m, e o americano Tom Dolan, ouro em Sydney nos 400 m medley, também têm a doença.
Segundo Whyte, medidas preventivas, como a ingestão de suplementos de vitaminas C e E, podem evitar recaídas. Mas o próprio comitê inglês desaconselhou o estratagema. Muitos suplementos contêm esteróides na fórmula, mas não alertam o fato nas bulas.
Para alguns, a pesquisa pode servir para endossar novas fraudes olímpicas em um momento em que o esporte se vê bombardeado por escândalos de doping.
"Isso parece desculpa para fazer uso desse tipo de medicamento. Cada vez aparece mais asmático. Atenas é poluída, mas não é pior do que Londres e do que a maioria das cidades em que os atletas de elite treinam", argumenta João Grangeiro Neto, diretor médico do Comitê Olímpico Brasileiro.
A doença também afeta alguns atletas do país, como o nadador Pedro Monteiro, especialista em provas de borboleta, que ainda não obteve o índice para Atenas.
No entanto, segundo Marcos Bernhoefit, diretor médico da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos, os inaladores seriam dispensáveis na Grécia.
"É possível evitar crises de asma em locais poluídos se você fizer um período maior de adaptação. Em Atenas, basta chegar uns cinco dias antes da competição. Usamos medicamentos só em situações extremas", diz Bernhoefit.


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