São Paulo, domingo, 30 de novembro de 2008

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PAULO VINICIUS COELHO

Craque três em um


Êxodo fez o Brasileiro trocar os times de craques pelas equipes fortes no conjunto, mas ainda há Hernanes

GANHAR O tri do Brasileirão, hoje, é a senha para uma outra glória de Hernanes, no final de 2008. Ele é o único indicado para o prêmio de melhor jogador do campeonato tanto entre os especialistas, quanto entre os torcedores.
Thiago Silva, do Fluminense, e Juan, do Flamengo, disputam o prêmio da torcida. Kléber Pereira, do Santos, e Alex, do Inter, concorrem entre os jornalistas. Hernanes agrada nas duas frentes.
Também é amado tanto pelos são-paulinos quanto pelos rivais. Na semana do clássico contra o Palmeiras, ouviu o técnico Vanderlei Luxemburgo afirmar que é o único craque do campeonato.
No Tricolor, Hugo é o meia e Jean, cabeça-de-área. Nesse caso, Hernanes também responde nas duas frentes: "Quando tem a bola e sai para jogar, atua como meia. Joga na mesma linha do Hugo. Quando não tem, marca como volante. Não importa o nome", analisa Muricy.
A entrada de Hernanes na lista dos candidatos a melhor do campeonato apaga um pouco a impressão de que os destaques do torneio concentraram-se na parte de baixo da tabela. O êxodo fez o Brasileiro trocar os times de craques pelas equipes de conjunto. Em vez do Cruzeiro de Alex, do Santos de Robinho, do Corinthians de Tevez, vence o São Paulo de Rogério Ceni.
Em vez dos atacantes, que sumiram da lista dos premiados, vencem os defensores. E agora vence Hernanes. Ou é pelo menos o favorito contra Alex, que jogou demais -e como atacante. Incríveis mudanças de posição durante a campanha. Alex é meia e jogou no ataque. Hernanes é volante e joga como meia-armador.
Isso não é novidade no futebol brasileiro. Há exemplos de volantes criativos, armadores mesmo, como Fausto, nos anos 30, Danilo Alvim, nos anos 40. Ou exemplos mais recentes. Toninho Cerezo vestia a camisa 5. Mas era volante? "Hoje o Ramires é ainda mais meia do que era o Toninho Cerezo", diz o técnico do Cruzeiro, Adílson Batista, referindo-se a outro volante que virou armador durante o Brasileirão 2008. No caso de Hernanes, a primeira comparação importante, quando se tornou titular do São Paulo, foi com Paulo Roberto Falcão. Não pela qualidade do futebol, mas pelo lugar que ocupa no gramado.
Como Cerezo, Falcão vestia a 5 do Inter. Como Hernanes, raras vezes jogou como cabeça-de-área. No Inter campeão brasileiro de 1975, Falcão jogava à frente de Caçapava. No ano seguinte, era o mais avançado do meio-de-campo, protegido por Caçapava e Batista. Em 1979, ano do tri (não consecutivo), Falcão era armador. Fez o gol do título -Hernanes fez o mesmo em 2007.
Embora não seja um revolucionário, Hernanes é um reformador. Nos últimos 15 anos, a palavra volante virou sinônimo de brucutu, mesmo que Rincón, Mazinho e Vampeta tenham honrado a posição.
Desde 2005, um jogador de linha não ganhava o prêmio do Brasileirão, entregue duas vezes a Rogério Ceni. Se o prêmio for de Hernanes será justo, mas ainda haverá quem pergunte por que razão, pelo terceiro ano seguido, um atacante não fica com o troféu. Então, não esqueça.
Hernanes não é um jogador de defesa. No São Paulo do tri, o nome de sua posição é armador.

pvc@uol.com.br


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