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JOSÉ GERALDO COUTO
Essa lua, esse conhaque
A última coluna do ano é pretexto para um balanço da relação com os leitores e do uso feito deste espaço nobre
É FIM de ano e, como dizia
Drummond, "essa lua, esse
conhaque, botam a gente comovido como o diabo".
Mais que a lua, mais que o conhaque, o que costuma nos emocionar
nas viradas de ano é a tendência a fazer uma retrospectiva do que passou, rebobinando o filme dos últimos doze meses.
No futebol, se pararmos para pensar, aconteceram tantas coisas em
2006 que é até difícil resumi-las numa única coluna. A Itália ganhou sua
quarta Copa, Zidane transformou
seu canto do cisne em chifrada de
touro, Puskas morreu, o Internacional conquistou o Mundial de Clubes,
o Atlético-MG voltou à elite, surgiram novos craques, jovens morreram estupidamente em brigas de
torcida, marcaram-se milhares de
gols, bateram-se recordes.
Alguns desses assuntos desfilaram tropegamente por esta coluna,
outros tantos ficaram de fora. Seria
talvez hora de fazer também um balanço crítico do uso que tenho feito
do espaço nobre que o jornal me
concede e que você, se estiver lendo
agora, prestigia com sua atenção.
Quando eu era garoto, estava em
voga um "best seller" chamado "Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas". (E que um amigo meu, Alex
Antunes, um gênio a ser reconhecido, rebatizou de "Como Influenciar
Amigas e Fazer Pessoas").
Pois bem: nunca tive muita vontade de influenciar pessoas, mas de fazer amigos sim. E uma das satisfações que esta coluna tem me dado é
a de ter feito amigos pelo Brasil afora
e até no exterior. Amigos virtuais,
que só conheço por escrito, e que
eventualmente se materializam em
encontros reais.
Creio não cair na demagogia
quando digo que esta coluna é feita
em grande parte por esses amigos
invisíveis, por suas demandas e sugestões, suas críticas e descobertas,
por seu amor contagiante ao futebol.
É nesses amigos que eu penso neste momento de balanço e é a eles que
ofereço um brinde. Lembro aqui os
nomes de alguns dos mais assíduos,
para que, além de invisíveis, eles não
permaneçam anônimos. José Rosa
Filho, Nelson Cunha, Conrado Giacomini, Dea Lucia Dias, Jônatas de
Freitas Tallarico, Bento Bravo, Fred
Navarro, Paulo Betti, João Eustáquio, Oswaldo Couto Jr., José Luiz
do Couto Moraes (até primos a coluna me fez encontrar).
Claro que não estou mencionando
os que já eram amigos e que me escrevem ocasionalmente para espinafrar, digo, comentar a coluna. Todos eles são co-autores deste pequeno retângulo semanal de idéias, dúvidas e especulações. Os erros, que
não são poucos, são só meus.
E antes que eu resvale de vez para
o sentimentalismo (essa lua, esse
conhaque) termino a última coluna
deste ano com versos do mesmo
poeta que a abriu: "Minha vida, nossas vidas/ formam um só diamante./
Aprendi novas palavras/ e tornei outras mais belas".
Não quero mais que isso.
ORQUESTRA RUBRO-NEGRA
O especial que o Sportv exibiu sobre os 25 anos da conquista do
Mundial pelo Fla mostrou o que tínhamos esquecido: aquele time era
tão bom ou melhor que o atual Barcelona. Com Zico, Júnior, Leandro,
Adílio e Andrade em campo, o futebol chegou a ser quase música.
VIDA IMITA ARTE
O jogador Eduardo Costa, que se
destacou no Grêmio e chegou à seleção antes de ir para a Europa (hoje atua no Espanyol), foi detido por
engano pela polícia em Florianópolis, confundido com um ladrão
de carros. Os policiais deram uma
exibição de racismo e prepotência
semelhante, em todos os detalhes,
à cena do craque Azul, em "Boleiros", de Ugo Giorgetti. Pior é que,
incomodado com a publicidade que
o episódio ganhou, Costa não quis
processar os policiais racistas.
jgcouto@uol.com.br
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