São Paulo, quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

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Botafogo enterra tabus e acaba com concentração

Cuca invoca profissionalismo e afirma que elenco é que deve tomar conta de si

Jogadores só terão que se apresentar ao clube antes do almoço nos dias em que o time alvinegro tiver jogo, mas dois titulares são contra


SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

O Botafogo vai quebrar um tabu de mais de 20 anos no futebol brasileiro: o técnico Cuca comunicou aos jogadores que vai abolir a concentração no clube. Nos próximos dias, os atletas não dormirão mais em General Severiano.
Pelo planejamento de Cuca, os jogadores serão liberados após o último treino, vão passar a noite fora do clube e só se apresentarão pouco antes do almoço em dias de jogos.
""Quero passar confiança ao grupo, credibilidade e parceria. Se o cara dorme aqui às 23h, ele vai dormir nesse horário na casa dele. Isto é o profissionalismo", afirmou o treinador, um dos responsáveis pela boa fase do time alvinegro no início do Estadual do Rio.
Cuca liberou os jogadores até para fazer sexo antes dos jogos, um outro tabu no esporte.
""Se ele acha que transar com a mulher vai ser bom, isso é coisa dele. Só não precisa fazer mais de uma vez [risos]. Se ele não quiser [transar], está bom também. Isso vai muito da pessoa. Eu não gostava de fazer antes do jogo, mas têm alguns que gostam, dizem que ficam mais leves. Nesse caso, tudo bem", disse o treinador, que conversa diariamente com os jogadores sobre o fim da concentração.
""Quero que eles [os atletas] tomem conta do grupo, e não eu. Esse é o meu objetivo", contou Cuca, que gostava de se concentrar quando era jogador. ""Eu adorava jogar baralho lá. Além disso, a geladeira no Grêmio era boa. Agora, os tempos mudaram. Todos têm iogurte, sorvetinho em casa. Acho que, se o cara puder ficar com o filho, com a mulher, a mãe antes do jogo, ele vai se sentir melhor", acrescentou o técnico do Botafogo. Como jogador, ele atuou no Grêmio, no Palmeiras, no Santos e no Juventude.
A surpreendente decisão de Cuca dividiu os titulares. Pelo menos dois deles se manifestaram contra.
""Quando joguei no Japão, não havia concentração, e os jogadores deixavam a desejar. Eu gosto de concentração. Me ajuda a entrar em campo com a cabeça totalmente voltada para a partida", disse o meia Zé Carlos, um dos destaques da equipe no Estadual do Rio.
Além do meia, o atacante Wellington Paulista também disse preferir concentrar.
Apesar da oposição dos dois titulares, a maioria apóia a decisão do treinador. ""Será maravilhoso. Se no futebol de hoje o profissionalismo está em todos os lados, não cabe mais o jogador não atuar assim. A concentração nunca me fez bem", disse o volante Túlio, um dos líderes do time, que ontem goleou o Mesquita por 6 a 2 no Estadual.
Cuca sabe que a decisão é polêmica e diz que os jogadores é que serão os responsáveis pela nova fase. ""Não vamos ficar vigiando os atletas, mas vou ter que tomar uma posição desagradável caso alguém se comporte mal", disse o treinador, que pode liberar os jogadores da concentração já amanhã.
""Não adianta fazer isso na véspera de um jogo com um time pequeno. Quero começar contra um grande", afirmou.
No sábado, o Botafogo joga o seu primeiro clássico, contra o Vasco, no Maracanã. ""Além disso, sei que temos que ganhar os jogos para manter essa proposta", acrescentou Cuca.
Em 2002, por pouco tempo, o Vasco aboliu concentração, por problemas financeiros.


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