|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Botafogo enterra tabus e acaba com concentração
Cuca invoca profissionalismo e afirma que elenco é que deve tomar conta de si
Jogadores só terão que se apresentar ao clube antes do almoço nos dias em que
o time alvinegro tiver jogo, mas dois titulares são contra
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
O Botafogo vai quebrar um
tabu de mais de 20 anos no futebol brasileiro: o técnico Cuca
comunicou aos jogadores que
vai abolir a concentração no
clube. Nos próximos dias, os
atletas não dormirão mais em
General Severiano.
Pelo planejamento de Cuca,
os jogadores serão liberados
após o último treino, vão passar
a noite fora do clube e só se
apresentarão pouco antes do
almoço em dias de jogos.
""Quero passar confiança ao
grupo, credibilidade e parceria.
Se o cara dorme aqui às 23h, ele
vai dormir nesse horário na casa dele. Isto é o profissionalismo", afirmou o treinador, um
dos responsáveis pela boa fase
do time alvinegro no início do
Estadual do Rio.
Cuca liberou os jogadores até
para fazer sexo antes dos jogos,
um outro tabu no esporte.
""Se ele acha que transar com
a mulher vai ser bom, isso é coisa dele. Só não precisa fazer
mais de uma vez [risos]. Se ele
não quiser [transar], está bom
também. Isso vai muito da pessoa. Eu não gostava de fazer antes do jogo, mas têm alguns que
gostam, dizem que ficam mais
leves. Nesse caso, tudo bem",
disse o treinador, que conversa
diariamente com os jogadores
sobre o fim da concentração.
""Quero que eles [os atletas]
tomem conta do grupo, e não
eu. Esse é o meu objetivo", contou Cuca, que gostava de se
concentrar quando era jogador.
""Eu adorava jogar baralho lá.
Além disso, a geladeira no Grêmio era boa. Agora, os tempos
mudaram. Todos têm iogurte,
sorvetinho em casa. Acho que,
se o cara puder ficar com o filho, com a mulher, a mãe antes
do jogo, ele vai se sentir melhor", acrescentou o técnico do
Botafogo. Como jogador, ele
atuou no Grêmio, no Palmeiras, no Santos e no Juventude.
A surpreendente decisão de
Cuca dividiu os titulares. Pelo
menos dois deles se manifestaram contra.
""Quando joguei no Japão,
não havia concentração, e os jogadores deixavam a desejar. Eu
gosto de concentração. Me ajuda a entrar em campo com a cabeça totalmente voltada para a
partida", disse o meia Zé Carlos, um dos destaques da equipe no Estadual do Rio.
Além do meia, o atacante
Wellington Paulista também
disse preferir concentrar.
Apesar da oposição dos dois
titulares, a maioria apóia a decisão do treinador. ""Será maravilhoso. Se no futebol de hoje o
profissionalismo está em todos
os lados, não cabe mais o jogador não atuar assim. A concentração nunca me fez bem", disse o volante Túlio, um dos líderes do time, que ontem goleou o
Mesquita por 6 a 2 no Estadual.
Cuca sabe que a decisão é polêmica e diz que os jogadores é
que serão os responsáveis pela
nova fase. ""Não vamos ficar vigiando os atletas, mas vou ter
que tomar uma posição desagradável caso alguém se comporte mal", disse o treinador,
que pode liberar os jogadores
da concentração já amanhã.
""Não adianta fazer isso na
véspera de um jogo com um time pequeno. Quero começar
contra um grande", afirmou.
No sábado, o Botafogo joga o
seu primeiro clássico, contra o
Vasco, no Maracanã. ""Além
disso, sei que temos que ganhar
os jogos para manter essa proposta", acrescentou Cuca.
Em 2002, por pouco tempo,
o Vasco aboliu concentração,
por problemas financeiros.
Texto Anterior: Portuguesa: Equipe perde pela 2ª vez no Paulista Próximo Texto: Cartilha: Liberdade do grupo tem limites Índice
|