São Paulo, domingo, 31 de janeiro de 2010

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Meia ainda incomoda Roberto Carlos

Em entrevista, lateral do Corinthians só se irrita quando questionado sobre o lance decisivo contra a França na Copa-06

Jogador diz estar tranquilo e adaptado ao seu novo clube e que vai menos ao ataque "para não levar bola nas costas e sofrer gol"

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Roberto Carlos, que passou por União São João, Atlético-MG, Palmeiras, Inter de Milão, Real Madrid e Fenerbahce, exibe aliança

MARTÍN FERNANDEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Roberto Carlos, 36, ri de quase tudo. Mas não de deboche, ri porque desfruta da vida. Sorri quando conta que logo será pai pela oitava vez e brinca com o fato de ter que pagar pensão alimentícia a seis filhos.
Ri de ter passado 20 dias trancado numa concentração em Itu. Sorri quando fala de Corinthians, Palmeiras, Libertadores, Mano Menezes e Lula.
Não se altera para falar de Galvão Bueno, desafeto declarado. Mas se irrita ao ser questionado sobre o episódio da meia. A que ele ajeitava, fora da área, quando Henry fez o gol que tirou o Brasil da Copa-06.
Hoje o Corinthians recebe o Palmeiras no Pacaembu, e Roberto Carlos será o astro -enfrenta pela primeira vez o clube onde se projetou, de 1993 a 95. Na quarta, ele conversou com a Folha no Parque São Jorge.

 

FOLHA - Como vai ser jogar pelo Corinthians e contra o Palmeiras?
ROBERTO CARLOS -
É um clássico. É a mesma coisa que jogar contra o São Paulo ou o Santos. Tive muitos clássicos na vida e este é mais um. Joguei há muito tempo lá, encaro como normal. Como nós queremos ser campeões, temos que ganhar dos times grandes. Não é só ganhar do Mirassol ou do Monte Azul.

FOLHA - Teme alguma reação da torcida palmeirense?
ROBERTO CARLOS -
Não creio. Porque no futebol eu crio amigos, não crio inimigos. Quando eu ia jogar contra o Barcelona pelo Real Madrid, aquela rivalidade toda, a torcida do Barcelona sempre me respeitou. Aqui não pode ser diferente.

FOLHA - Já se sente totalmente em casa no Corinthians?
ROBERTO CARLOS -
Muito. Em relação a companheiros, comissão técnica, torcida, tudo está melhor do que eu esperava. Os jogos estão sendo emocionantes, por causa da torcida.

FOLHA - Depois de 15 anos fora, como é morar de novo no Brasil?
ROBERTO CARLOS -
Está bem melhor, né? Mas ainda vai melhorar muito. Sou muito fã do Lula, sempre disse isso. Agora eu voltei, reativei o título de eleitor, vou votar aqui, fazer tudo isso.

FOLHA - Como tem sido a convivência com o Mano Menezes?
ROBERTO CARLOS -
Trabalhar de perto com ele é ótimo. Pessoa muito correta, grandíssimo treinador. Fala na cara o que pensa, pede opiniões sobre o que deve fazer. Estou tendo um paizão. Peço muito conselho.

FOLHA - Já tomou bronca?
ROBERTO CARLOS -
Ainda não. Mas na hora que eu fizer a primeira... E vou aceitar na maior tranquilidade, porque ele é mais velho, mais experiente...

FOLHA - Como foi ficar 20 dias em Itu? Ronaldo reclamou muito.
ROBERTO CARLOS -
É complicado. Muito tempo fora do ambiente familiar, dos amigos, só no telefone, a internet cai toda hora. Mas eu procurei ser jogador, tenho que passar por isso mesmo.

FOLHA - Ronaldo se queixou da música sertaneja...
ROBERTO CARLOS -
Ele reclama de tudo [risos]. A gente dividia o som. No quarto e na musculação. Um dia era sertanejo, no outro ele vinha com música eletrônica. Revezávamos.

FOLHA - Você parece mais preocupado em marcar. É pedido do Mano?
ROBERTO CARLOS -
Eu estou chegando agora. Não quero dar a impressão de "o melhor jogador do time".

FOLHA - Você pensa nas críticas que pode receber?
ROBERTO CARLOS -
Claro. Não adianta eu querer arrebentar agora no começo. Porque posso me arrebentar fisicamente. Vou degrau a degrau. Podem achar que estou atacando pouco, mas pelo meu lado ali não entra. Prefiro que me critiquem no ataque a levar bola nas costas e sofrer gol. Estou me resguardando, sim.

FOLHA - Até quando?
ROBERTO CARLOS -
Vou me soltando pouco a pouco. Eu não quero dar oportunidade para ninguém me criticar.

FOLHA - Crítica ainda incomoda?
ROBERTO CARLOS -
Hoje já não.

FOLHA - Não mesmo?
ROBERTO CARLOS -
Crítica injusta, sim, incomoda. Eu vejo na TV, leio algumas coisas, e acho engraçado. É como eu entrar no teu trabalho e falar que é errado, que tuas perguntas não são boas. Incomoda quando as pessoas criticam a mim, ao Ronaldo, ao Gaúcho, e elogiam Petkovic, estrangeiros.

FOLHA - Por quê?
ROBERTO CARLOS -
Porque não valorizam o que temos aqui, o jogador brasileiro. Nós, eu, Cafu, Ronaldo, jogadores que fizemos história na seleção, não entendemos isso.

FOLHA - Vocês conversam?
ROBERTO CARLOS -
Muito. A gente faz muita crítica a jornalista. Você liga a televisão e tem um senhor de 80 anos falando sobre futebol moderno.

FOLHA - E o Galvão Bueno?
ROBERTO CARLOS -
Não tenho problema nenhum. Só acho que ele não foi correto comigo.

FOLHA - Iria ao programa dele?
ROBERTO CARLOS -
No dia que ele não estiver, eu vou. Quando estiver o Cléber Machado ou outro. Ele queria falar comigo na F-1, em Mônaco, e eu não quis. Não conheço o Galvão, não quero criticá-lo. Só acho que foi o inventor de uma história que não existiu.

FOLHA - Está superada a história da meia? É motivo de piada para você?
ROBERTO CARLOS -
[Irritado] Piada? Minha mãe é que faz piada pra caramba com isso.

FOLHA - Mas você não parou de se importar com as críticas?
ROBERTO CARLOS -
Não é que eu parei de me importar. Mas tento levar com normalidade, com tranquilidade. Você fica velho e começa a ver tudo o que passou, todas as dificuldades, tudo que as pessoas não sabem. Aí a crítica tem menos importância.

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