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Às vésperas da eleição na CBF e da rediscussão da nova legislação esportiva no Congresso, os principais dirigentes do futebol nacional acertam trégua em reunião secreta em São Paulo
Desgaste e receio selam a paz entre Teixeira e Farah
FÁBIO VICTOR
DO PAINEL FC
Sem alarde, os dois mais influentes cartolas do futebol brasileiro fizeram as pazes nesta semana. Na última quarta-feira, Ricardo Teixeira, presidente da CBF,
foi recebido em almoço por
Eduardo Farah, que comanda a
Federação Paulista de Futebol.
O encontro aconteceu na sede
da FPF, um prédio luxuoso na zona sudoeste de São Paulo, e foi
agendado a pedido de Farah, licenciado da presidência desde janeiro. Quem fez o convite a Teixeira foi Marco Polo del Nero, vice da federação e atual braço direito do dirigente paulista.
Além dos três, participaram do
almoço Reinaldo Carneiro Bastos, que ocupa interinamente o
lugar de Farah, e representantes
dos grandes clubes do Estado: Alberto Dualib e Antônio Roque Citadini pelo Corinthians, Marcelo
Portugal Gouvêa e Juvenal Juvêncio pelo São Paulo e Mustafá Contursi pelo Palmeiras.
Enfraquecido após a extinção
da Liga Rio-São Paulo e com sua
gestão investigada por Ministério
Público, Receita Federal e Polícia
Civil, Farah se reaproxima de Teixeira às vésperas das eleições na
CBF, que devem ocorrer no início
do segundo semestre.
O presidente da CBF topou o
cessar-fogo por considerar que
não valia a pena continuar rompido com o paulista, que, apesar do
desgaste, comanda a mais rica e
mais forte entidade estadual.
A lógica de Teixeira foi que, se
não lhe traz ganho, a reaproximação com Farah lhe tira uma perda.
E o cartola gostaria de vencer a
eleição sem oposição, como quase
sempre ocorreu.
O atual presidente está praticamente reeleito -recebeu no início do ano apoio formal de 25 das
27 federações estaduais.
O colégio eleitoral da CBF é
composto por estas entidades e
pelos 24 clubes da primeira divisão do Brasileiro, onde Teixeira
também tem maioria absoluta.
Farah era um dos dois únicos a
lhe fazer oposição. O outro era o
Carlos Alberto de Oliveira, da Federação Pernambucana.
Não por coincidência, Oliveira
foi recebido anteontem no gabinete de Teixeira no Rio, após
bombardear o mandatário da
CBF por mais de um ano.
O pernambucano disse que foi
convidado por Teixeira para o encontro. "Ele me chamou e pediu
para eu não tirar licença", contou
Oliveira, que ameaçou se afastar
de sua federação por se dizer impedido de cumprir todas as determinações do Estatuto do Torcedor. "Sempre fui deputado e sei
conviver com as pessoas", completou o dirigente estadual, ao dizer que a conversa não foi um sinal de que passou a concordar
com as idéias de Teixeira.
Tanto na reunião entre os dois
na CBF quanto no almoço na Federação Paulista, a nova legislação esportiva foi abordada.
Os cartolas se queixaram dos
pontos que consideram inviáveis
de serem cumpridos no Estatuto
do Torcedor e concordaram que
deveriam se unir para tentar modificá-los no Estatuto do Desporto, que deve unificar a legislação
do setor no segundo semestre.
Pouco antes do motim contra o
Estatuto do Torcedor, na semana
passada, cartolas cogitaram entrar na Justiça para paralisar o
Brasileiro. O Sindbol, sindicato
dos clubes de São Paulo, presidido por Marco Polo del Nero, foi
sugerido por alguns como a entidade ideal para bancar a ação.
Mas tanto interlocutores de Teixeira quanto de Farah negaram
que novas investidas contra a nova lei tenham sido planejadas na
reunião do cessar-fogo.
Ao concorrer a mais um mandato -deverá ser o seu quarto-,
Teixeira tem como desejo entrar
para a história como o dirigente
que mais tempo comandou o futebol brasileiro.
Consumada sua reeleição e
cumpridos mais quatros anos à
frente da CBF, terá somado 18
anos de poder, mais que os 17 do
seu ex-sogro João Havelange.
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