UOL


São Paulo, sábado, 31 de maio de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Às vésperas da eleição na CBF e da rediscussão da nova legislação esportiva no Congresso, os principais dirigentes do futebol nacional acertam trégua em reunião secreta em São Paulo

Desgaste e receio selam a paz entre Teixeira e Farah

FÁBIO VICTOR
DO PAINEL FC

Sem alarde, os dois mais influentes cartolas do futebol brasileiro fizeram as pazes nesta semana. Na última quarta-feira, Ricardo Teixeira, presidente da CBF, foi recebido em almoço por Eduardo Farah, que comanda a Federação Paulista de Futebol.
O encontro aconteceu na sede da FPF, um prédio luxuoso na zona sudoeste de São Paulo, e foi agendado a pedido de Farah, licenciado da presidência desde janeiro. Quem fez o convite a Teixeira foi Marco Polo del Nero, vice da federação e atual braço direito do dirigente paulista.
Além dos três, participaram do almoço Reinaldo Carneiro Bastos, que ocupa interinamente o lugar de Farah, e representantes dos grandes clubes do Estado: Alberto Dualib e Antônio Roque Citadini pelo Corinthians, Marcelo Portugal Gouvêa e Juvenal Juvêncio pelo São Paulo e Mustafá Contursi pelo Palmeiras.
Enfraquecido após a extinção da Liga Rio-São Paulo e com sua gestão investigada por Ministério Público, Receita Federal e Polícia Civil, Farah se reaproxima de Teixeira às vésperas das eleições na CBF, que devem ocorrer no início do segundo semestre.
O presidente da CBF topou o cessar-fogo por considerar que não valia a pena continuar rompido com o paulista, que, apesar do desgaste, comanda a mais rica e mais forte entidade estadual.
A lógica de Teixeira foi que, se não lhe traz ganho, a reaproximação com Farah lhe tira uma perda.
E o cartola gostaria de vencer a eleição sem oposição, como quase sempre ocorreu.
O atual presidente está praticamente reeleito -recebeu no início do ano apoio formal de 25 das 27 federações estaduais.
O colégio eleitoral da CBF é composto por estas entidades e pelos 24 clubes da primeira divisão do Brasileiro, onde Teixeira também tem maioria absoluta.
Farah era um dos dois únicos a lhe fazer oposição. O outro era o Carlos Alberto de Oliveira, da Federação Pernambucana.
Não por coincidência, Oliveira foi recebido anteontem no gabinete de Teixeira no Rio, após bombardear o mandatário da CBF por mais de um ano.
O pernambucano disse que foi convidado por Teixeira para o encontro. "Ele me chamou e pediu para eu não tirar licença", contou Oliveira, que ameaçou se afastar de sua federação por se dizer impedido de cumprir todas as determinações do Estatuto do Torcedor. "Sempre fui deputado e sei conviver com as pessoas", completou o dirigente estadual, ao dizer que a conversa não foi um sinal de que passou a concordar com as idéias de Teixeira.
Tanto na reunião entre os dois na CBF quanto no almoço na Federação Paulista, a nova legislação esportiva foi abordada.
Os cartolas se queixaram dos pontos que consideram inviáveis de serem cumpridos no Estatuto do Torcedor e concordaram que deveriam se unir para tentar modificá-los no Estatuto do Desporto, que deve unificar a legislação do setor no segundo semestre.
Pouco antes do motim contra o Estatuto do Torcedor, na semana passada, cartolas cogitaram entrar na Justiça para paralisar o Brasileiro. O Sindbol, sindicato dos clubes de São Paulo, presidido por Marco Polo del Nero, foi sugerido por alguns como a entidade ideal para bancar a ação.
Mas tanto interlocutores de Teixeira quanto de Farah negaram que novas investidas contra a nova lei tenham sido planejadas na reunião do cessar-fogo.
Ao concorrer a mais um mandato -deverá ser o seu quarto-, Teixeira tem como desejo entrar para a história como o dirigente que mais tempo comandou o futebol brasileiro.
Consumada sua reeleição e cumpridos mais quatros anos à frente da CBF, terá somado 18 anos de poder, mais que os 17 do seu ex-sogro João Havelange.


Texto Anterior: Painel FC
Próximo Texto: Frase
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.