São Paulo, segunda-feira, 31 de maio de 2004

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FUTEBOL

Nivelamento por baixo

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Lembra de quando o clássico São Paulo x Corinthians era chamado de "Majestoso"? Pois esqueça. O empate entre os dois clubes, ontem no Morumbi, foi injusto. Ambos mereciam perder. O Corinthians, um pouco mais.
Durante os 90 minutos de jogo, houve raros lances bonitos, ou ao menos inesperados. Em compensação, foi um festival de passes errados, matadas de canela, chutes tortos, corta-luzes para ninguém.
Uma das poucas boas jogadas do São Paulo foi a do gol de Simplício, depois de tabela rápida com Diego Tardelli. E talvez o único lance inteligente do Corinthians tenha sido a cobrança de falta de Renato, rasteira, aproveitando que a barreira quase sempre pula, esperando a bola pelo alto. Matou Rogério Ceni.
No mais, foi um jogo truncado, previsível e sem inspiração. De certo modo, um retrato deste Brasileirão, um torneio equilibrado porque nivelado por baixo.
No ano passado, o Cruzeiro e o Santos acabaram se destacando das demais equipes e monopolizando a dianteira da tabela no segundo turno. Este ano, a julgar pelo que temos visto, é difícil imaginar algum time se impondo categoricamente sobre os demais.
A começar por Santos e Cruzeiro, a maioria dos grandes clubes parece ter piorado.
O Santos, embora mantenha praticamente o mesmo elenco, faz uma performance pífia, irreconhecível. O Cruzeiro, quando não conta com Alex, é um time bom, mas comum.
De outros grandes é melhor nem falar: Flamengo, Corinthians, Vasco, Botafogo, Grêmio, Atlético-MG.
E a qualidade do futebol tende a piorar na metade do ano, quando vários bons jogadores deverão ser negociados com clubes europeus. O São Paulo sem Luís Fabiano, o Cruzeiro sem Alex, o Palmeiras sem Vágner Love etc. Vai ser duro de assistir.
Nesse contexto, crescem, a meu ver, as chances de clubes sem grandes estrelas, mas com bom conjunto e uma certa consistência tática: São Caetano, Criciúma e o próprio Atlético-PR, que dá mostras de recuperação e que conta com dois jogadores muito criativos: Jádson e Dagoberto.
E criatividade é um artigo em falta nos campos brasileiros. Há até alguns jogos corridos, disputados e cheios de gols, mas muito pouca invenção, muito pouca surpresa, muito pouca ousadia.
Em tempo: talvez essa minha avaliação sombria do Brasileirão fosse outra se, em vez de São Paulo 1 x 1 Corinthians, eu tivesse visto Atlético-MG 3 x 3 Santos, que parece ter sido um ótimo jogo.
O fato é que uma partida ruim influi sobre o humor, o raciocínio e a visão de mundo de qualquer um.
 
Na Libertadores, está pintando mais uma final entre brasileiros e argentinos. Mas o São Paulo que se cuide: o Once Caldas mostrou contra o Santos que é um time "encardido" (traiçoeiro, difícil de vencer). E o tricolor tem tido altos e baixos. Se pegar os colombianos num momento baixo, adiós.

Estrela cadente
No clássico carioca, coitado do Botafogo, massacrado pelo Vasco. Se continuar assim, o clube da estrela solitária vai passar tão pouco tempo na Série A quanto o que passou na Série B. Se bem que ainda tem chão pela frente. E, mais que isso, tem muito time ruim nesse campeonato.

Clássico mundial
Uma grande expectativa cerca o jogo de quarta-feira entre Brasil e Argentina. As eliminatórias são longas, o resultado do confronto não vai definir a classificação, mas, para qualquer uma das duas seleções, uma vitória sobre os arqui-rivais é um alento inestimável. Se passar pela Argentina, o Brasil ganha embalo para vencer o Chile e disparar na liderança.

E-mail
jgcouto@uol.com.br


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