São Paulo, domingo, 31 de maio de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JUCA KFOURI

O melhor que pode acontecer


Está a cada dia, a cada jogo mais claro que o Palmeiras precisa levar um choque para não nos frustrar


QUE O palmeirense desculpe e não imagine que o que lerá aqui é coisa de quem não gosta do Palmeiras. Que se lembre, ao menos, de toda a confiança e esperança aqui depositadas quando Luiz Gonzaga Belluzzo assumiu o comando do Palestra Itália. Confiança que se mantém, esperança que se reduziu. E por quê? Porque o professor Belluzzo caminha celeremente para ser mais uma vítima da estrutura carcomida do futebol, capaz de triturar até gente da melhor qualidade, em todos os sentidos, como ele.
Daí o vatícinio terrível, que nada tem de quanto pior melhor, teoria que nem mesmo na ditadura brasileira fez a cabeça deste colunista: mas o melhor que pode acontecer ao Palmeiras, agora, é ser eliminado da Libertadores pelo Nacional. Para que Belluzzo se liberte, sem trocadilhos sem graça. Se liberte da gastança desenfreada e nem sempre bem explicada de seu verdadeiro primeiro-ministro, Gilberto Cipullo.
Se liberte de uma comissão técnica que, faz tempo, só tem custo e nenhum benefício, como até as ruas próximas ao Parque Antarctica estão cansadas de saber. Se liberte de um treinador que agora deu para acusar a torcida alviverde de ser pouco participativa, além de alimentar um doentio complexo de perseguição. E de ver são- -paulinos e corintianos em sua sombra quando foi ele quem tirou Keirrison para fazer entrar Jumar e avalizou Obina, para não falar de Capixaba, Mozart e por aí afora. E se liberte de uma parceria que, aos poucos, de adiantamentos em adiantamentos, até para pagar os nababescos salários do treinador, torna-se sócia majoritária de um clube que se perde também nas promessas de uma arena que caminha para virar picadeiro, como já aconteceu em outro Parque. Belluzzo anda envenenado pelo ambiente do futebol, refém das mazelas que envolvem os ditos torcedores organizados, irritado com as críticas que viram manifestações "fascistas", por mais corretas que sejam, ferido ainda pela tal "mídia alviverde", aliada nos tempos de oposição a Mustafá Contursi. Contursi que tem velhos correligionários como Antonio Corcione e Mauro Marques entre os que hoje apoiam os situacionistas, no velho estilo das alianças que infelicitam o país há mais de 500 anos.
Belluzzo veio para mudar isso, consciente que sempre foi da necessidade de um choque, de uma ruptura em busca da modernidade, alicerçada por uma sólida erudição que não pode se limitar a apontar a ignorância alheia, mas que deve respaldar a mudança bem fundamentada. Nem que o custo seja o da política realista, pés no chão, que não permita grandes conquistas imediatas, mas a construção de alicerces suficientemente bem estruturados que possibilitem ao Palmeiras ser no século 21 o que foi no 20. Porque só está faltando ouvir Belluzzo juntar sua voz à dos cartolas que atribuem à Lei Pelé o estado falimentar de nosso futebol. Por isso, o melhor é cair fora da Libertadores. Porque, enquanto o sonho persistir, nada mudará. E, se for realizado, apenas sedimentará tudo o que está errado.
blogdojuca@uol.com.br


Texto Anterior: Paz na arquibancada: Clubes esquecem polêmica de ingressos
Próximo Texto: Sem Libertadores, Palmeiras se distrai com o Brasileiro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.