São Paulo, domingo, 31 de maio de 2009

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Maratona de SP faz teste de cotas

Primeiro grande evento no país com reserva de mercado para atletas nacionais terá só 3 quenianos

Organizadores se mostram reticentes com medida, mas esperam que a redução de africanos possa resgatar a força dos sul-americanos

ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Mais internacional neste ano, a Maratona de São Paulo é o primeiro evento de grande porte com reserva de mercado para os fundistas nacionais.
No ano em que os organizadores anunciam a transmissão de TV para 115 países, a corrida, cuja largada será às 8h35 (feminino) e às 8h55 (masculino), tornou-se mais provinciana.
Desde fevereiro, a CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo) baixou norma limitando a presença de estrangeiros nas provas de rua do país.
Pela regra, nas competições mais importantes, denominadas classe A1 pela CBAt, como a Maratona de São Paulo, é permitida a participação de só três fundistas por país no masculino e três no feminino.
"Assim como os brasileiros disputam corridas lá fora sem limitações, o Brasil deveria adotar essa regra aqui. Isso [participação estrangeira] ajuda o crescimento técnico dos nossos atletas", defende Ricardo D'Angelo, membro do Conselho Técnico da confederação.
Em São Paulo, a nova medida já trouxe consequências práticas na linha de largada. No ano passado, 11 quenianos correram os 42,195 km na cidade (sete homens e quatro mulheres).
Neste ano, esse número caiu para três quenianos. A Etiópia, por sua vez, terá quatro (dois homens e duas mulheres).
"Não gosto de limitações. Mas, neste momento, ainda estamos avaliando a situação", afirma Thadeus Kassabian, diretor de operações da Yescom, organizadora da maratona.
Por conta da restrição, Kassabian diz que mudou de estratégia na hora de fazer convites aos estrangeiros. "Os etíopes começaram a aparecer, e vamos voltar a olhar para os fundistas da América do Sul."
Nos anos 70 e 80, corredores de países como Equador e Colômbia fizeram sucesso por aqui, principalmente com vitórias na São Silvestre. Contudo, a partir dos anos 90, esse grupo foi substituído, em conquista e prestígio, pelos quenianos.
O país africano, conhecido mundialmente por seus fundistas, ganhou tanto espaço no Brasil que gerou celeuma. Atletas reclamavam da perda de espaço no país -e de dinheiro de premiação- para os rivais quenianos até em provas menores.
O clamor de atletas e treinadores chegou à CBAt, que resolveu disciplinar o assunto, editando medida restritiva. Mas há quem se queixe da regra.
"Isso me deixa um pouco triste. Cheguei a ter oito quenianos treinando no Brasil. Hoje só tenho dois", lamenta Luiz Antonio dos Santos, que não conseguiu inscrever nenhum deles na maratona paulistana.
Um dos maiores fundistas da história do Brasil -foi bicampeão da Maratona de Chicago (1993 e 1994)-, Santos critica os atuais fundistas do país.
Apesar de não bater de frente contra a regulamentação, Kassabian ressalta que a limitação poderá ser um problema em corridas como a São Silvestre.
"É uma prova em que talvez seja necessário estudar uma exceção", espera ele, que integra o comitê organizador do evento.


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