São Paulo, quarta-feira, 31 de julho de 2002

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Empate diante do Olimpia dá título da Libertadores para o time do ABC

São Caetano decide para consagrar a nova ordem


Equipe, que disputa o torneio graças ao aumento de competidores, é símbolo dos novos tempos do futebol brasileiro e sul-americano


FÁBIO VICTOR
PAULO GALDIERI
RODRIGO BERTOLOTTO
DA REPORTAGEM LOCAL

São Caetano e Olimpia fazem hoje a final de uma Libertadores totalmente ""fora do eixo". E o time do ABC é quem está mais próximo do título, pois precisa só de um empate no Pacaembu.
Em suas trajetórias, as duas equipes deixaram para trás times tradicionais como Peñarol, Boca e Grêmio e se enfrentam em uma decisão que é o sinal dos tempos.
Tempos em que o principal torneio interclubes do continente sofre um inchaço e dá espaço para times e países intermediários.
Nos anos 60 e 70, a competição era dominada amplamente pelos grandes clubes de Argentina, Brasil e Uruguai, países fortes no futebol e com títulos mundiais.
Cada vez mais equipes de outras nações sul-americanas foram desafiando isso, chegando à decisão da Taça Libertadores (de uma nos anos 60 cresceu para cinco nos 70, para seis nos 80 e, finalmente, chegou a nove nos anos 90).
O clube paraguaio Olimpia, aliás, foi o pioneiro nisso: tornou-se o primeiro finalista (1960) e o primeiro campeão (1979) vindo de fora desse eixo. Depois, aportaram times peruanos, chilenos, colombianos, equatorianos e, por último, os mexicanos -convidados a participar a partir de 1998.
Já o time do ABC paulista entrou para a história do torneio devido a outro fator: o crescimento de participantes de 20 para 32 equipes, ocorrido em 2000.
Isso abriu a brecha para muitos times pequenos ou médios tentarem a sorte na Taça Libertadores.
Na edição de 2002, foi o caso do Montevidéu Wanderers (Uruguai), do Santiago Wanderers (Chile), do 12 de Octubre (Paraguai), Talleres (Argentina), Tuluá (Colômbia), Oriente Petrolero (Bolívia) e o próprio São Caetano, que ganhou lugar por ser vice nacional, condição que, entre 1989 e 1999, não garantia vaga.
E o prestigioso título sul-americano acabou virando uma desejada vingança, doce e tardia, do time do ABC, famoso por seu bi de vices no torneio brasileiro.
""Estamos de bem com a vida, e está chegando a vez do São Caetano", afirmou ontem Jair Picerni, técnico do time azul. ""Os títulos só vêm com persistência. E isso nós temos de sobra."
O clube de apenas 12 anos de vida quer entrar para o rol de campeões continentais. ""É claro que a vitória do São Caetano valoriza o formato desse torneio ampliado", disse Nicolás Leoz, presidente da Conmebol, entidade que comanda o futebol sul-americano.
Ele acredita que o número atual de times é o ideal e certifica que não haverá nem um enxugamento nem um novo inchaço.
O São Caetano pode se tornar o primeiro campeão a se beneficiar dessa ampliação, afinal, nas duas últimas edições, com a competição já agigantada, o campeão foi o consagrado Boca Juniors.
Como ganhou por 1 a 0 em Assunção, a equipe pode levar o título com um empate.
Já o time visitante quer fazer valer a fama de ""Rei de Copas", por ter muitas participações na Libertadores (33 em 41 edições, só perdendo para o uruguaio Peñarol), muitas finais (seis no total) e dois títulos (1979 e 1990).
""Temos a ilusão de reverter o resultado adverso. O grupo já fez coisas importantes e pode conseguir o grande objetivo", afirmou seu técnico, Nery Pumpido.
Em caso de vitória simples, a decisão vai para os pênaltis.
Para a final, a Conmebol vetou o estádio Anacleto Campanella, em São Caetano, por não ter capacidade para 40 mil espectadores (os ingressos esgotaram ontem de manhã), número considerado mínimo para abrigar uma decisão continental. O jeito foi transferir a partida para a vizinha São Paulo e seu estádio do Pacaembu.
""O Pacaembu é como se fosse nossa casa. Fizemos jogos importantíssimos no estádio. Até na minha vida pessoal: as primeiras partidas como jogador profissional eu fiz lá", disse Picerni.
O São Caetano faz sua segunda participação na Taça Libertadores. Em 2001, o time caiu nas oitavas-de-final diante do Palmeiras, em decisão por pênaltis.
Se levar o título, o São Caetano, que até agora tem o troféu da segunda divisão paulista como seu maior trunfo, entra para o rol de equipes brasileiras campeãs continentais, ao lado de Santos, Cruzeiro, Flamengo, Grêmio, São Paulo, Vasco e Palmeiras.
O curioso é que esses times, em outras épocas estavam recheados de estrelas e dinheiro, estão se adaptando atualmente ao baixo orçamento, seguindo uma receita próxima ao que é aplicado no grupo de Jair Picerni.
O troféu dá vaga na decisão do Mundial interclubes, no final do ano, em Yokohama (Japão), contra o milionário Real Madrid, de Zidane e Figo, um desafio ainda maior para o jovem time do ABC paulista. Os times europeus também estão controlando seus gastos hoje em dia, mas ainda em padrões acima dos sul-americanos.


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