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Empate diante do Olimpia dá título da Libertadores para o time do ABC
São Caetano decide para consagrar a nova ordem
Equipe, que disputa o torneio graças ao aumento de competidores,
é símbolo dos novos tempos do futebol brasileiro e sul-americano
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FÁBIO VICTOR
PAULO GALDIERI
RODRIGO BERTOLOTTO
DA REPORTAGEM LOCAL
São Caetano e Olimpia fazem
hoje a final de uma Libertadores
totalmente ""fora do eixo". E o time do ABC é quem está mais próximo do título, pois precisa só de
um empate no Pacaembu.
Em suas trajetórias, as duas
equipes deixaram para trás times
tradicionais como Peñarol, Boca e
Grêmio e se enfrentam em uma
decisão que é o sinal dos tempos.
Tempos em que o principal torneio interclubes do continente sofre um inchaço e dá espaço para
times e países intermediários.
Nos anos 60 e 70, a competição
era dominada amplamente pelos
grandes clubes de Argentina, Brasil e Uruguai, países fortes no futebol e com títulos mundiais.
Cada vez mais equipes de outras
nações sul-americanas foram desafiando isso, chegando à decisão
da Taça Libertadores (de uma nos
anos 60 cresceu para cinco nos 70,
para seis nos 80 e, finalmente,
chegou a nove nos anos 90).
O clube paraguaio Olimpia,
aliás, foi o pioneiro nisso: tornou-se o primeiro finalista (1960) e o
primeiro campeão (1979) vindo
de fora desse eixo. Depois, aportaram times peruanos, chilenos, colombianos, equatorianos e, por
último, os mexicanos -convidados a participar a partir de 1998.
Já o time do ABC paulista entrou para a história do torneio devido a outro fator: o crescimento
de participantes de 20 para 32
equipes, ocorrido em 2000.
Isso abriu a brecha para muitos
times pequenos ou médios tentarem a sorte na Taça Libertadores.
Na edição de 2002, foi o caso do
Montevidéu Wanderers (Uruguai), do Santiago Wanderers
(Chile), do 12 de Octubre (Paraguai), Talleres (Argentina), Tuluá
(Colômbia), Oriente Petrolero
(Bolívia) e o próprio São Caetano,
que ganhou lugar por ser vice nacional, condição que, entre 1989 e
1999, não garantia vaga.
E o prestigioso título sul-americano acabou virando uma desejada vingança, doce e tardia, do time do ABC, famoso por seu bi de
vices no torneio brasileiro.
""Estamos de bem com a vida, e
está chegando a vez do São Caetano", afirmou ontem Jair Picerni,
técnico do time azul. ""Os títulos
só vêm com persistência. E isso
nós temos de sobra."
O clube de apenas 12 anos de vida quer entrar para o rol de campeões continentais. ""É claro que a
vitória do São Caetano valoriza o
formato desse torneio ampliado",
disse Nicolás Leoz, presidente da
Conmebol, entidade que comanda o futebol sul-americano.
Ele acredita que o número atual
de times é o ideal e certifica que
não haverá nem um enxugamento nem um novo inchaço.
O São Caetano pode se tornar o
primeiro campeão a se beneficiar
dessa ampliação, afinal, nas duas
últimas edições, com a competição já agigantada, o campeão foi o
consagrado Boca Juniors.
Como ganhou por 1 a 0 em Assunção, a equipe pode levar o título com um empate.
Já o time visitante quer fazer valer a fama de ""Rei de Copas", por
ter muitas participações na Libertadores (33 em 41 edições, só perdendo para o uruguaio Peñarol),
muitas finais (seis no total) e dois
títulos (1979 e 1990).
""Temos a ilusão de reverter o resultado adverso. O grupo já fez
coisas importantes e pode conseguir o grande objetivo", afirmou
seu técnico, Nery Pumpido.
Em caso de vitória simples, a decisão vai para os pênaltis.
Para a final, a Conmebol vetou o
estádio Anacleto Campanella, em
São Caetano, por não ter capacidade para 40 mil espectadores (os
ingressos esgotaram ontem de
manhã), número considerado
mínimo para abrigar uma decisão
continental. O jeito foi transferir a
partida para a vizinha São Paulo e
seu estádio do Pacaembu.
""O Pacaembu é como se fosse
nossa casa. Fizemos jogos importantíssimos no estádio. Até na minha vida pessoal: as primeiras
partidas como jogador profissional eu fiz lá", disse Picerni.
O São Caetano faz sua segunda
participação na Taça Libertadores. Em 2001, o time caiu nas oitavas-de-final diante do Palmeiras,
em decisão por pênaltis.
Se levar o título, o São Caetano,
que até agora tem o troféu da segunda divisão paulista como seu
maior trunfo, entra para o rol de
equipes brasileiras campeãs continentais, ao lado de Santos, Cruzeiro, Flamengo, Grêmio, São
Paulo, Vasco e Palmeiras.
O curioso é que esses times, em
outras épocas estavam recheados
de estrelas e dinheiro, estão se
adaptando atualmente ao baixo
orçamento, seguindo uma receita
próxima ao que é aplicado no grupo de Jair Picerni.
O troféu dá vaga na decisão do
Mundial interclubes, no final do
ano, em Yokohama (Japão), contra o milionário Real Madrid, de
Zidane e Figo, um desafio ainda
maior para o jovem time do ABC
paulista. Os times europeus também estão controlando seus gastos hoje em dia, mas ainda em padrões acima dos sul-americanos.
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