São Paulo, sexta-feira, 31 de agosto de 2007

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FÁBIO SEIXAS

Ultrapassai-vos uns ao outros



São 17 GPs, estamos no 12º. Foram 3.537 km em disputa. Sabe quantas ultrapassagens pela liderança? Uminha


O CAMPEONATO é o melhor dos últimos anos, quatro pilotos podem chegar a Interlagos na luta pelo título, o trono do alemão ainda está vago e deve permanecer assim por um bom tempo, o menino prodígio começa a ratear, Alonso não embala, a Ferrari cresce a olhos vistos, as duas próximas pistas favorecem a equipe italiana, as três últimas, ninguém sabe.
Mas as corridas... Ah, as corridas... Fernando Carmona Simões, de Ribeirão Preto, resumiu assim a situação: "Campeonato disputado, mas as corridas são um saco". No ponto.
O Mundial começou em março, estamos no último dia de agosto. São 17 GPs na temporada, estamos no 12º. Até agora, já foram 3.537 quilômetros em disputa. Sabe quantas ultrapassagens pela liderança? Uma. Apenas uma. Uminha. De Alonso sobre Massa, na caótica corrida de Nurburgring.
Se levarmos em consideração as largadas, o espanhol também superou o brasileiro na Malásia. Mais do que um alívio, porém, esse é outro agravante. Em 12 GPs, só uma vez o líder perdeu a posição nos primeiros metros da corrida? Afe.
"Detalhe": na largada, pelo menos na F-1, todo mundo começa parado. Não há aquela turbulência usada como justificativa para a falta de ultrapassagens. O que acontece, então?
Acontece, imagino, que os pilotos esqueceram como ultrapassar. Esqueceram o prazer esportivo, lúdico, sádico, de deixar o outro pra trás.
Sentados num regulamento que premia 36% do grid, como lembrou Alessandra Alves na última transmissão da BandNews FM, deixam para trás a idéia de ousar, de partir pra cima, de arriscar na freada no fim da reta para conquistar um, dois pontos a mais no Mundial.
Por que arriscar chegar em terceiro quando o prêmio em relação ao quarto lugar é de só um ponto? Por que partir para cima do líder, quando já se tem oito pontos no bolso?
É o anti-esporte, a antidisputa, a anticompetição. Um regulamento feito para segurar o ímpeto de Schumacher, mas que perdeu o sentido com o fora de série aposentado.
Pior: nas categorias de base, o que não falta é ultrapassagem. Basta ver uma corrida da GP2 ou da F-3 inglesa. Mas os Hamiltons da vida, quando chegam à F-1, são forçados a pensar, repensar e tripensar antes de tentar passar alguém.
Pilotos de hoje... Lembrai-vos dos tempos de kart, quando era tão bacana sair do meio do pelotão e superar todo mundo, um a um. Recordai-vos do doce prazer de enxergar pelo retrovisor alguém que há instantes só lhe oferecia o aerofólio traseiro.
Revedes e revedes o duelo Piquet x Senna na Hungria. Respirais fundo antes de mergulhar naquela curva cega. E carregais na carga do pé direito -a área de escape é gigantesca, seu carro não vai atolar. Ultrapassai-vos uns aos outros, enfim. É muito bacana, o povo gosta, vos garanto. E não é pecado.

fseixas@folhasp.com.br

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