São Paulo, segunda-feira, 31 de outubro de 2005

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FUTEBOL

O dinheiro pode tudo

JUCA KFOURI
COLUNISTA DA FOLHA

O Corinthians lidera o futebol brasileiro com o dinheiro russo e sujo de Boris Berezovski.
Como o Palmeiras e o Vasco comandaram o futebol sul-americano com o dinheiro da Parmalat e do Bank of America.
Ou o próprio Corinthians, que chegou ao título mundial e ao bicampeonato brasileiro com o investimento da Hicks Muse.
Ou o Cruzeiro, com a nunca bem explicada parceria com a Energil C.
Com dinheiro é fácil.
E sem dinheiro é impossível, a não ser por um desses acasos que fizeram os dois raios como Pelé e Robinho caírem na mesma Vila Belmiro no espaço de 45 anos.
A questão está em como se traz o dinheiro, para que não acabe tudo como acabou no mesmo Corinthians quando a Hicks saiu.
Ou no Vasco, com a cassação de Eurico Miranda pelo voto depois que espancou o investidor.
Ou no Palmeiras, que foi à segunda divisão sem o dinheiro lavado da Parmalat.
Ou no eterno vaivém dos armazéns Perrellas em Minas.
Agora, o Flamengo, que teve muito dinheiro da ISL, procura a MSI, como revelou esta Folha na sexta-feira.
No Flamengo, como no Grêmio da mesma ISL, as coisas funcionaram diferente.
Em vez de títulos, os cartolas enriqueceram despudoradamente, como comprovaram o impedimento do presidente rubro-negro de então e o inquérito policial que rola em Porto Alegre, com uma dúzia de indiciados.
Porque se dinheiro traz felicidade imediata, o dinheiro mal explicado traz problemas, mais cedo ou mais tarde. Que o digam os Lalaus, Malufs e a esmagadora maioria dos partidos políticos nacionais, para não ficar só no simbólico Delúbio Soares, coitado.
A questão, portanto, não é simplesmente ter dinheiro.
Limpo, como era o da Hicks e do Bank of America, ou sujo, que por todos os motivos é inaceitável -e cobra seu alto preço.
O da falência, como no Flamengo, ou o da falência e da segunda divisão, como no Grêmio (e também no Flamengo?), ou o da cadeia, como alguns exemplos citados acima.
A questão é como fazer dinheiro bem feito, como tantos clubes pelo mundo afora. E para isso é preciso profissionalismo, organização, credibilidade, qualidades escassas, raríssimas no Brasil.
Imaginar que a MSI possa ser a solução, por mais que o discurso de Kia Joorabchian seja melhor que o de Alberto "1-0-0" Dualib, é algo que revela a que ponto chegou o desnorteamento na Gávea, agora governada por um triunvirato que veio para provar que três cabeças são capazes de pensar ainda pior que uma, já superada.
A MSI montou um time superior aos demais com uma montanha de dinheiro e ao que tudo indica levará o Corinthians ao tetracampeonato brasileiro.
Quanto custará a fugaz felicidade saberemos em futuro próximo, provavelmente ainda antes que os corintianos vivam seu centenário, em 2010.

Campeão?
O Corinthians quase perdeu para si mesmo um jogo que tinha a obrigação de vencer. E até fez por isso, diga-se, diante da ruindade do Vasco. Mas o líder do Brasileirão queimou gordura quando não podia, diferentemente do que seria queimá-la na próxima partida, contra o Cruzeiro, no Mineirão. Parecia até que o Corinthians golearia. Mas perdeu Roger e a serenidade, embora tenha criado inúmeras chances de gol. Caberá ao Inter hoje não cometer o mesmo vacilo contra o Paysandu para manter o Brasileirão aceso. Porque o Corinthians está longe de ser um time que encante, como foram o Cruzeiro e o Santos nos dois campeonatos anteriores. Quem viu o 1 a 1 no Pacaembu pôde constatar que o tetra está mais distante do que imaginam os corintianos.

blogdojuca@uol.com.br

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