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azarão
Massa não se imagina ainda campeão
Das dificuldades na escola às da carreira na F-1, ferrarista conta como lida com a expectativa de levar o título mundial
Em entrevista, brasileiro
mais próximo do sucesso
desde Senna afirma que
Barrichello errou e que vai
saber ganhar ou perder
Antonio Lacerda/Efe
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Felipe Massa e Lewis Hamilton, ontem, em entrevista no autódromo
TATIANA CUNHA
DA REPORTAGEM LOCAL
Há cinco anos, Felipe Massa
olhava na internet se teria alguma chance na Indy caso "o pior
acontecesse". A partir de hoje,
com os primeiros treinos livres
para o GP Brasil, começa a buscar seu lugar na história da F-1
e do automobilismo nacional.
Pode ser o primeiro piloto
brasileiro desde Ayrton Senna
a ser campeão mundial. E, diferentemente do tricampeão,
moldado de pequeno para o sucesso, o ferrarista teve de lutar
desde cedo para chegar a Interlagos com chances de título.
Suas chances, porém, são pequenas. Tem de vencer ou ser
segundo e torcer por um mau
resultado de Lewis Hamilton.
Talvez por isso ainda não tenha se dado conta da dimensão
do que pode conseguir. "Até hoje isso não passou pela minha
cabeça. Fazer a última corrida
do ano em casa e ser campeão
do mundo... Isso é uma coisa
que não consigo imaginar."
Dos difíceis tempos no colégio à pressão criada pelo "efeito
Senna" e ao que considerou um
erro de Rubens Barrichello ao
chegar à categoria, Massa, 27,
falou ontem à Folha nos boxes
da Ferrari por quase meia hora.
FOLHA - Depois do segundo GP você não tinha nenhum ponto e seu
companheiro era o campeão. Achou
que seu ano tivesse acabado ali?
FELIPE MASSA - Achei que o começo tinha sido difícil. Perder
pontos importantes nas duas
primeiras corridas foi complicado, mas sabia que o campeonato era longo e que as coisas
podiam mudar. Sabia que estava numa situação em que não
podia errar, em que tinha que
marcar pontos em quase todas
as corridas. E se os outros também erraram, eu acabei tendo
mais problemas depois. Mas
consegui virar a situação e brigar de igual pra igual.
FOLHA - Se vê no mesmo nível de
Raikkonen, Alonso, Hamilton ou
acha que estar lutando pelo título se
deve a uma conjunção de fatores?
MASSA - De jeito nenhum. Temos um nível bem parecido, o
que se comprova ainda mais
por eu ter um companheiro de
equipe que foi campeão mundial no ano passado e neste ano
eu ter andado melhor que ele.
Isso mostra que tenho potencial e por isso me ponho 100%
nesse nível, sem dúvida.
FOLHA - Em algum momento de
sua carreira você pensou em desistir? Achou que não tinha nascido para isso, pensou em voltar a estudar?
MASSA - "Não nasci pra isso"
eu nunca pensei. E "vou voltar a
estudar" também não [risos].
Mas que ia ter que parar, eu
achei direto. Às vezes, eu fazia
uma corrida boa e sabia que
nem isso era suficiente. Você
perde um pouco o ânimo às vezes, mas a esperança, nunca.
Por isso, é importante manter a
motivação e o pensamento positivo. Depois que fui mandado
embora da Sauber, quando fui
piloto de testes [da Ferrari, em
2003], achei que as coisas tinham se complicado bastante.
Vários dias pensei "acho que
vai ser difícil voltar" ou "as coisas acontecem sempre comigo". Pra falar a verdade, já cheguei a estar em casa, sem fazer
nada, e comecei a ver na internet, na pior das hipóteses, o que
seria o ideal. Olhei Indy, turismo... Olhava pra ver se tinha
oportunidade nas outras categorias, mas nunca fiz contato.
Sempre coisas ligadas ao automobilismo. É o que sei fazer.
FOLHA - Estudou até quando?
MASSA - Acabei a escola com
muito esforço. Repeti a primeira e a segunda série. É difícil ver
alguém que repetiu as duas [risos]. E, por incrível que pareça,
consegui passar até a sétima,
mas, na oitava, mudei pra uma
escola mais fácil. Depois, comecei a correr e fiz o segundo e o
terceiro colegial no supletivo.
Arrumei um no Cambuci e ia de
ônibus. No ano seguinte, minha
mãe me encheu tanto o saco
que prestei publicidade na Belas Artes e entrei, mas era o primeiro ano do curso e acho que
todo mundo que prestou naquele ano entrou. Fiz seis meses e fui pra Europa.
FOLHA - Você acha que o peso que
se criou após a morte do Senna fez
mal aos pilotos brasileiros?
MASSA - Difícil dizer. Tenho o
Senna como piloto inatingível.
Você nunca vai me ver me comparando a ele. Na época já era
um dos melhores e, infelizmente, morreu e ficou essa coisa.
Sempre vai ter essa imagem de
deus do automobilismo. É importante pra um país que tem
tradição, mas você sempre vai
estar abaixo do Senna. O Brasil
é um país que cobra muito, mas
sou brasileiro, corro pelo meu
país. Você tem que ser homem
suficiente pra mostrar de onde
veio. Corro pra ter sucesso, mas
pela bandeira também.
FOLHA - E o efeito Barrichello? Ele
tem uma imagem de perdedor para
muitos. Acha que a torcida está mais
cautelosa com você por isso?
MASSA - Sou superamigo dele e
por isso posso dizer que a imagem dele como piloto é completamente diferente da dele como pessoa. O problema é que o
período dele foi muito difícil.
Foi logo depois da morte do
Senna, e as pessoas estavam
chateadas. Ele tentou fazer
uma coisa que podia parecer
certa, mas foi errada, que é prometer. Ele queria mostrar que
ia dar o gostinho de vencer novamente. Acho que você tem
que se colocar pra baixo do que
é porque não é você que tem
que dizer o que é. As pessoas é
que têm que perceber. Se você
não promete e faz seu trabalho,
as pessoas te colocam pra cima.
FOLHA - Isso pesou quando assumiu o lugar dele na Ferrari?
MASSA - Claro. Aprendi muita
coisa vendo o que estava acontecendo com ele e tentei fazer o
contrário, em razão do que ele
passou e do que passa.
FOLHA - O Brasil é um país em que
o segundo colocado é visto como
perdedor. Como lidar com isso e saber que suas chances são pequenas?
MASSA - Sou pé no chão, humilde, sei ganhar como sei perder. Isso não vai mudar nada na
minha característica como piloto nem como pessoa. Saindo
como segundo, saio de cabeça
erguida. O que mais quero é
vencer, claro, mas às vezes não
dá. Como brasileiro, e como
pessoa, sei perder. Vou fazer tudo que puder pra ganhar [o GP
Brasil e o Mundial], e espero
que as pessoas entendam. Mas
também se não entenderem, já
não é mais culpa minha.
NA TV - Treinos livres do GP Brasil
Sportv, ao vivo, às 10h e às 14h
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