|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
ENTREVISTA STEFANO DOMENICALI
Como Schumacher, Alonso está deixando a Ferrari do seu jeito
CHEFE DA EQUIPE ITALIANA DIZ QUE PROBLEMA DE MASSA NÃO É SÓ PNEU E QUE EM 2011, MESMO COM O PARCEIRO CAMPEÃO, DISPUTA COMEÇA DO ZERO
TATIANA CUNHA
DE SÃO PAULO
A fala mansa e o jeito amistoso podem até enganar à
primeira vista. Mas, após
atravessar uma das maiores
crises da Ferrari nos últimos
anos ao inverter as posições
de Felipe Massa e Fernando
Alonso no GP da Alemanha,
Stefano Domenicali, 45, mostrou estar preparado para lidar com situações difíceis.
Bastante criticado, o italiano diz que não se preocupa
com o que dizem. "Se fosse
me incomodar com o que falam, não estaria neste cargo", disse Domenicali à Folha na Coreia do Sul, antes
da vitória que deixou Alonso
na liderança do Mundial de
F-1 e perto de faturar o título
em seu primeiro ano como
piloto do time de Maranello.
"Fernando se parece muito com o Michael [Schumacher] em várias coisas. Em
pouco tempo, já está deixando a equipe como ele gosta."
Folha - Mesmo que a Ferrari
não ganhe nenhum título,
considera este um bom ano?
Stefano Domenicali - Temos que ser realistas. Considerando a situação deste ano
e o fato de a Red Bull ter feito
um grande carro, para mim,
é um milagre que estejamos
aqui lutando pelo título. Na
Ferrari, se tivéssemos um
carro como o deles, o campeonato já teria terminado.
Tivemos uma parte difícil no
ano, com muitas críticas,
muita pressão, mas o mais
importante é reagir, manter
as pessoas concentradas no
trabalho, e esta recuperação
rápida significa muito.
Isso tem alguma relação com
a chegada do Alonso?
Quando falamos em equipe, todo mundo é importante
para o sucesso. Dos engenheiros aos mecânicos, os pilotos, cada um tem que fazer
sua parte para o time vencer.
Já conhecíamos muito bem o
Felipe, sabíamos de sua força
e conhecíamos no papel a
força do Fernando. Ele nos
mostrou do que é capaz e estamos muito satisfeitos. Queríamos mostrar para ele como funcionamos como time
e conseguimos. Temos muito
o que melhorar ainda, mas
ele já entendeu que a atmosfera aqui na Ferrari é única.
Você trabalhou com o Schumacher. Como compara o
Alonso com ele?
Vejo duas coisas muito parecidas nos dois. Eles são
muito focados na vitória, e o
desejo de vencer é muito
grande. Em pouco tempo,
Fernando está deixando a
equipe como ele gosta. Ele
tem passado muito tempo
em Maranello com os rapazes, está fazendo o possível
para se integrar, não só profissionalmente mas também
em um nível pessoal, o que
também é importante.
Por outro lado, o Massa não
teve um grande ano. Ele diz
que o problema são os pneus.
É isso ou há mais coisas?
Conheço o Felipe há muito
tempo. Confio plenamente
nele e quero deixar claro que
ele é um grande jogador de
equipe, um grande piloto.
Quando fui criticado pela situação na Alemanha, disse
que ninguém mais do que eu
havia mostrado confiança
nele, apesar de muitos me dizerem para me livrar dele,
que ele não tinha capacidade
para estar na Ferrari. Acho
que em algum momento,
quando não se tem uma temporada perfeita, você tem de
olhar para você e reagir. Felipe sabe que o time está com
ele. Sabe que estamos aqui
para que ele seja o melhor piloto que ele pode ser. Mas
não acho que [seu desempenho] esteja só relacionado
aos pneus. É preciso colocar
todos os elementos na sua
frente e tentar entender quais
os motivos para ter tido um
ano que não é dos melhores.
Mesmo que o Alonso seja
campeão, em 2011 ele e o Massa começam o ano zerados?
Sim, assim como neste
ano. Os pilotos têm que saber
qual é o interesse do time.
Confirmo que o Felipe vai poder começar do zero em 2011,
mas sempre sabendo que a
Ferrari é o mais importante.
Espera algum tipo de reação
no Brasil depois do que aconteceu no GP da Alemanha?
Não espero. Acredito muito nos brasileiros e espero
que torçam pela Ferrari. Claro que mais pelo Felipe. Mas
não espero nada negativo,
porque, se isso acontecer,
mostrará que as pessoas não
são maduras o suficiente para entender o esporte. Mas
não acho que será o caso.
Muita gente comparou o que
aconteceu em Hockenheim
com a Áustria, em 2002, com
Schumacher e Barrichello...
São situações totalmente
diferentes. Não quero entrar
em detalhes, mas vou dar
dois fatos. Daquela vez estávamos falando da última curva, da última volta. O terceiro
carro estava quase uma volta
atrás. Na Alemanha, ainda
faltava 18 voltas para o fim da
corrida, o terceiro carro [de
Sebastian Vettel] estava se
aproximando e o segundo
[Alonso] era mais rápido que
o primeiro. É uma situação
completamente diferente.
Você foi duramente criticado
neste período. Chegou a pensar em desistir?
Não, isso é parte da nossa
mentalidade, nunca desistir.
Em 2007, faltando duas corridas, o Kimi [Raikkonen] estava 17 pontos atrás. Tínhamos
que torcer para um milagre
para ficar com o título. Mas
ganhamos. Você tem que fazer o máximo e acreditar. Se
os outros forem melhores,
paciência. Se alguém for melhor, é preciso aceitar, reagir
e tentar melhorar no ano seguinte. Não somos maduros
o suficiente no nosso esporte, no futebol também, e, para mim, temos a responsabilidade de desenvolver a mentalidade das pessoas.
Texto Anterior: MotoGP: Campeão busca terceira consecutiva no Estoril Próximo Texto: Raio-X: Stefano Domenicali Índice | Comunicar Erros
|