São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2010

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TOSTÃO

Acima da razão


O esporte não pode ser apenas uma disputa pela vitória nem um jogo somente baseado na razão


O PROBLEMA dos aeroportos brasileiros, pensando na Copa de 2014, não é só de incapacidade física para atender bem a tantas pessoas. É também de organização.
Sempre que chego a São Paulo, do exterior, em conexão para Belo Horizonte, nunca sei em qual das duas cidades devo retirar minha mala e mostrar meu passaporte à Polícia Federal. Cada vez é de um jeito. Às vezes, tenho de mostrar o passaporte nas duas cidades.
As informações no exterior, onde embarco, são geralmente diferentes das do Brasil.
Na Europa, José Mourinho está com tudo e está prosa. O Real Madrid, dirigido pelo técnico português, vence e dá espetáculo. Os torcedores do Real e do Barcelona querem as duas coisas.
No Brasil, basta vencer, mesmo jogando mal, para a maioria dos treinadores, torcedores e jornalistas achar uma maravilha.
Estão empobrecendo o futebol brasileiro, agravado por tantos pênaltis mal marcados, com o apoio corporativista de ex-árbitros comentaristas.
A imprensa da Europa deu muito destaque ao resultado de um trabalho feito por uma universidade da Alemanha, de que os jogadores alemães atuaram dopados na final da Copa do Mundo de 1954, contra a Hungria.
Se for verdade, não será surpresa. O doping era muito mais frequente do que hoje, no Brasil e em todo o mundo, já que não havia exames para detectá-lo.
Há vários tipos de infrações e condutas antiéticas no esporte que precisam ser avaliadas separadamente. O doping é uma infração grave.
Quando um time perde um jogo de propósito para enfrentar, em seguida, um adversário mais fácil, com o objetivo de ser campeão, fato comum no esporte, a equipe e o atleta, racionalmente, em suas visões competitivas, estariam certos e teriam direito legal de fazer isso. Mas é antiético. A ética tem de estar acima da razão.
Uma coisa interessante que vi em Bologna, na Itália, uma belíssima e antiga cidade, foram os debates na praça principal. Alguém subia em um banquinho e falava o que quisesse. Outro retrucava, e um grande número de pessoas participava da discussão, sem brigas nem confusões.
Em Curitiba, na Boca Maldita, havia algo parecido, que não sei se ainda existe.
Senti-me como se estivesse em outro mundo, outra época, quando os filósofos iam para as ruas debater suas ideias. Muito melhor do que ver hoje pela TV, na época das eleições, tantas discussões enganosas e dissimuladas.


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