São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2010

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PAULO VINICIUS COELHO

Refém de si mesmo


Os camisas 10 do Brasil hoje são suficientes para a seleção? Não, e isso também vale para Ronaldinho


RONALDINHO GAÚCHO jogou sua última partida pela seleção em 1º de abril de 2009. Parecia mentira que, em Porto Alegre, Dunga o deixasse no banco de reservas na vitória por 3 a 0 sobre o Peru. Entrou aos 30min do segundo tempo e não foi bem. Nunca mais voltou.
Há boas razões para Mano Menezes convocá-lo para o amistoso contra a Argentina. Há também motivos para não chamá-lo. Uma das justificativas da convocação é tática. Ronaldinho agora atua como meia de ligação do Milan -não mais pela ponta-esquerda-, função que mais tem feito o técnico da seleção sofrer. Mano escalou Paulo Henrique Ganso no primeiro amistoso, contra os EUA. Com a lesão do santista, testou Carlos Eduardo na semana de treinos em Barcelona e percebeu que o meia do Rubin Kazan larga demais a faixa central do campo. Contra o Irã, Robinho e Carlos Eduardo revezaram-se na organização. Não funcionou. Com a Ucrânia, Elias jogou bem, mas tanto Mano como o jogador preferem a posição de segundo volante.
Essa procura pelo titular da armação explica a convocação de Ronaldinho mais do que seu futebol no Milan. Em outras palavras, eu não o convocaria.
Mas, em sua entrevista ao portal Terra, na terça, Mano Menezes fez uma bela avaliação sobre os craques que já estiveram entre os melhores do planeta. Disse que o jogador passa a ser comparado com ele mesmo, em vez de se fazer a pergunta fundamental para uma convocação: ele é melhor do que os outros?
De fato, Ronaldinho pode enfrentar a Argentina por ser melhor armador do que Carlos Eduardo, Robinho e Elias. Importa pouco se perde de longe para o Ronaldinho de 2004, 2005 e 2006. Esses não existem mais.
Esse raciocínio ainda não responde a outra pergunta: os camisas 10 que o Brasil possui hoje são suficientes para o que a seleção exige? Neste caso, a resposta é não. Isso vale para Carlos Eduardo, Elias, Robinho e para Ronaldinho. "Está claro que Ronaldinho não é um jogador no fim. Não é o Ronaldo", diz o jornalista Marco Zunino, da revista "Guerin Sportivo", da Itália. "Se joga para ser convocado? Nem tanto. É uma escolha pessoal de cada treinador", conclui.
Mano tem razão quando diz que Ronaldinho e seu futebol razoável são hoje reféns de seu passado. Isso não é justo. Mas o fato de os melhores armadores do Brasileiro serem os argentinos Montillo, D'Alessandro e Conca diz muito sobre a procura de Mano Menezes pelo novo camisa 10 da seleção.

pvc@uol.com.br


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