São Paulo, quarta, 14 de maio de 1997.

Índice

O Universo Online publica nesta página trechos de gravações que mostram a existência de um mercado de votos para que deputados aprovassem a emenda da reeleição. As conversas ocorreram depois da votação em primeiro turno da emenda na Câmara dos Deputados, em 28/01/97. Para preservar a identidade da pessoa que fez as gravações, foram suprimidos do áudio todos os trechos das perguntas. A íntegra das reportagens está também na edição eletrônica da Folha de S.Paulo
  • Clique aqui para saber como ouvir arquivos de som


    Edição de 14/5/97

    Amazonino e Serjão

    Neste trecho, começa a ficar mais clara a participação do governador Amazonino Mendes, do Amazonas, e do ministro das Comunicações, Sérgio Motta, de acordo com as gravações em poder da Folha.
    Segundo o deputado João Maia (PFL-AC), os deputados do Acre esperavam receber dois pagamentos pela reeleição. Um do governador do Acre, Orleir Cameli, e "outro apoiamento a (sic) nível federal".
    Nesta parte da conversa, João Maia afirma que o dinheiro recebido pelos parlamentares acreanos, embora entregue por Orleir Cameli, foi providenciado por Amazonino Mendes e por Sérgio Motta. (FERNANDO RODRIGUES)

    Senhor X - Aquele cheque vocês devolveram?
    Maia -
    É, mas ele, ele, ele cobriu, né?
    Som Real Audio
    Som no formato wave

    Senhor X - Ele (Orleir) cobriu?
    Maia -
    Cobriu. No meu caso, pelo menos, ele cobriu.
    Som Real Audio
    Som no formato wave

    Senhor X - Ele cobriu? Mas acho que ele deu uma enroladinha em alguém por aí, não deu não?
    Maia -
    Enrolou nós mesmos porque aquele dinheiro era o dinheiro do Amazonino. Que o Amazonino mandou trazer, por ordem do... do... menino aqui, do Serjão. Ele pegou emprestado do Amazonino e cobriu o cheque.
    Som Real Audio
    Som no formato wave

    Senhor X - Ah, foi?
    Maia -
    Esse dinheiro seria um outro apoiamento a (sic) nível federal, sabe? Porque aquilo ali, o Orleir é vivo também, né? Ele não é besta. Sabia que estava tudo reservado. E já estava o dinheiro aí, o dinheiro e coisa. E daí que chegou o Orleir andou sabendo e, quer dizer: 'Não admito isso, não sei o quê'. Mas o Amazonino, disse, olha: 'Ficou mais fácil para ele'. Pegou e emprestou o dinheiro para o Orleir, ele cobriu o cheque, aquele dinheiro mesmo, esse cheque não ficou nem algumas horas na mão...
    Som Real Audio
    Som no formato wave

    Senhor X - Esse cheque foi o que o Eládio trouxe de Manaus?
    Maia -
    Sim, sim, sim.


    A ciranda dos contatos

    Neste trecho, o deputado João Maia explica com detalhes como era realizada a abordagem de parlamentares da região Norte na época da votação da reeleição, em janeiro passado.
    Segundo Maia, tudo começava com um contato inicial feito pelo deputado Pauderney Avelino, na época do PPB-AM e hoje com entrada anunciada no PFL.
    Se havia interesse por parte do parlamentar em negociar seu voto, diz João Maia, o passo seguinte era um contato com o então presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA).
    Em seguida, sempre segundo João Maia, Luís Eduardo se incumbia de agendar um encontro do deputado interessado com o ministro das Comunicações, Sérgio Motta. De Motta, o parlamentar era encaminhado para o governador Amazonino Mendes, do Amazonas, que coordenava a votação da reeleição junto aos deputados da região Norte:

    Senhor X - O Orleir se sentiu ferido com o Amazonino estar em Brasília coordenando o voto de vocês?
    Maia -
    É. E coincidiu que exatamente ele estava... Tinha saído lá e estava lá no... conversando com o Amazonino. E já tinha sido o Sérgio Motta -isso aí aqui na Presidência, né? Luís Eduardo vai falar com o Sérgio Motta, Sérgio Motta fala com o Amazonino, só que seria um troço..., quer dizer, não teria nada a ver com Orleir pagar os atrasados dele. O filho da puta! Quer dizer, né? Também o Amazonino acabou entregando e participando, eu sei, ele, o Pauderney, que é outro sacana, aí. Esse dinheiro era para o Orleir ter que pagar as dívidas dele atrasadas, você entendeu? Mais esse, Serjão e Amazonino. Mas, o problema é o seguinte: naquela época, bicho, eu estou jogando muito em função da sobrevivência política, pessoal, familiar minha.
    Som Real Audio
    Som no formato wave

    Senhor X - Claro, claro...
    Maia -
    Não jogo com essa hipocrisia de dizer: não dá para perdoar o que eu estou fazendo ainda que pode, etc e tal.
    Som Real Audio
    Som no formato wave

    Senhor X - Na realidade, o liberado foram 200? Do Orleir?
    Maia -
    É, o Orleir, 200.
    Som Real Audio
    Som no formato wave

    Senhor X - Aí não ficou devendo 100 a você e 100 ao Roni?
    Maia -
    Não, não. Ele tinha de fato ... esses 200, ele pagou os dois, pra mim ele pagou os dois.
    Som Real Audio
    Som no formato wave

    Senhor X - Mas você sabe que na cabeça dele ele pagou pelo voto da reeleição.
    Maia -
    Sim, é claro. Mas é uma coisa que eu estou dizendo. Eu estou ali também, no fundo, esse pessoal é sacana, filho da puta. Na realidade, ele queria, mais uns outros daqui, Serjão e de Amazonino. O negócio cruzou aqueles troços. O Amazonino... Mas na última hora...
    Som Real Audio
    Som no formato wave

    Senhor X - O Pauderney em cima. O aliciamento começou com ele?
    Novo trecho em áudio
    Maia -
    Pelo que eu sei bem é o seguinte: eram os 200 do Serjão, via Amazonino, que era a cota federal, aí do acordo... Ele falou, pra todo mundo, aí, meio mundo, aí. Eu falei com o Luís Eduardo. O Luís Eduardo marcou uma audiência com o Serjão. Daí, o Serjão marcou com o Amazonino. Acho que foi na quinta, à noite. E, depois, na segunda, fui lá falar com o Amazonino. Só que tinha chegado o Orleir, e nesse tempo o Orleir acabou pegando a gente lá.. Sabe? E volta de novo... E aí deu aquela coisa. Eu disse: 'Não senhor. São duas coisas distintas. Tem aí os nossos acertos, os nossos atrasados, e também tem essa coisa aqui que é federal'. Ele falou: 'Eu não acredito', não sei o quê. Eu disse para ele: 'Tem os atrasados'. E ele: 'Não, não sei o quê'. Daí ele mandou entregar. Isso foi na segunda de manhã. Não, foi na terça...
    Som Real Audio
    Som no formato wave


    Edição de 13/5/97

    O negócio

    Neste trecho, o deputado Ronivon Santiago (PFL-AC) é indagado sobre um suposto pagamento que o governador do Acre, Orleir Cameli, teria de fazer aos deputados federais do Estado -com alguma ligação a aprovação de projetos no Orçamento federal.
    O deputado muda de assunto e diz que recebeu apenas R$ 100 mil "agora para a votação". No final deste trecho, é possível identificar que "a votação" era a da emenda da reeleição. Ronivon também explica que recebeu R$ 100 mil em dinheiro. E mais R$ 100 mil lhe seriam pagos por intermédio de uma empreiteira, a CM. Essa empresa teria executado uma obra para o governo do Acre e lhe repassaria R$ 100 mil quando recebesse o pagamento do governador Orleir Cameli. (FERNANDO RODRIGUES)

    Senhor X - Ele (Orleir Cameli) não pagou nada daqueles do Orçamento de 94, de 95?
    Ronivon Santiago - Não. Ele me deu R$ 100 mil... R$ 100 mil agora para a votação. Deu em cheque e em dinheiro. Me deu um cheque. Aí, depois, me deu dinheiro. Eu devolvi o cheque. Me deu R$ 100 mil, em dinheiro.
    Som Real Audio
    Som no formato wave

    Senhor X - Para a votação?
    Ronivon - É. Mas, dentro daquele negócio. Aí, eu fui e acertei com ele. Eu digo, olha, faz o seguinte: aí tem uma nota para mim, quando eu receber de 400 e poucos mil de um (trabalho) que a firma fez, que é para poder me reter o meu dinheiro. Mas está lá para pagar e até hoje não pagou esse dinheiro. E esse dinheiro que dá para pagar todos esses pagamentos. Estou aguardando.
    Som Real Audio
    Som no formato wave

    Senhor X - Mas, me diga uma coisa. Ele não deu 200 mil para cada um?
    Ronivon - Mas eu peguei só 100.
    Som Real Audio
    Som no formato wave

    Senhor X - E quem foi que pegou?
    Ronivon - Não, todo mundo pegou 200.
    Som Real Audio
    Som no formato wave

    Senhor X - Todo mundo pegou 200... pela votação?
    Ronivon - E eu peguei 100. Mas eu tinha um assunto meu. Que ele ia me pagar isso aqui. Aí ficou pra CM. Aí, eu, né...? Ficou pra CM, porque a empresa que está lá, pra faturar essa nota, que é para poder me pagar tudo. Aí, ficou dentro os meus outros 100. Tô pra receber, ele vai me pagar...
    Som Real Audio
    Som no formato wave

    Senhor X - Orleir chegou a dizer a algumas pessoas lá no Acre que os votos tinham sido pagos...
    Ronivon - 200 paus.

    Senhor X - 200 paus para cada um?
    Ronivon - É.

    Senhor X - E você, tirou 200?
    Ronivon - Só um. Mas eu tenho... vou receber. Está negociado.

    Senhor X - O João Maia também recebeu os 200?
    Ronivon - Recebeu.
    Som Real Audio
    Som no formato wave

    Senhor X - Os 200?
    Ronivon - Todo mundo... Osmir, Zila...
    Som Real Audio
    Som no formato wave

    Senhor X - Então quer dizer que, nesse caso, na reeleição, tudo o que se votou, isso? Hein? O Inocêncio não lhe arrumou nada de dinheiro, não?
    Ronivon - Não. Inocêncio, não.

    Índice


  • Copyright 1997 Empresa Folha da Manhã