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EDUCAÇÃO
Calouros com o pé na estrada
Novo sistema de seleção que substitui vestibulares favorece a mobilidade, e calouros se preparam para sair de casa
TARSO ARAUJO
DA REPORTAGEM LOCAL
Entrar para a universidade
já é um rito de passagem
e tanto. Para alguns calouros, porém, a mudança vai
ser bem mais radical.
É que neste ano ficou mais
fácil entrar numa faculdade
longe de casa, com a substituição do vestibular pelo Sisu (Sistema de Seleção Unificada) no
processo seletivo de 51 universidades e institutos públicos.
Um total de 47.913 vagas foi
oferecido pelo sistema, e estudantes do Brasil inteiro puderam concorrer a elas sem sair
de sua cidade para fazer prova.
"Eu nem me imaginava numa [universidade] federal. Terminaria meu curso técnico e
procuraria emprego aqui na região. Agora, vou me aventurar
em Mato Grosso", diz Adalto
Vieira, 17, de Altinópolis (SP),
que passou para história na
UFMT, em Cuiabá.
Para alguns, sair da cidade
era mesmo a única opção.
"Eu já estava preparado para
sair, porque aqui não tem faculdade", disse Matheus Palú, 17,
de Santa Helena (PR), um dia
antes de embarcar para Pato
Branco (PR) para cursar química na UTFPR.
Mas estudar em outro Estado não foi uma decisão pacífica
para todos. Maria Laura Perini,
18, de Itápolis (SP), conseguiu
uma cobiçada vaga de medicina
na UFMT, a 1.300 km de distância de casa.
"Minha mãe não queria, porque é longe. Mas, no final, me
deu os parabéns", diz, lembrando que também lutou contra a
lentidão do Sisu. "Só consegui a
inscrição no último dia."
Outra marca da estreia foi o
baixo número de matrículas na
primeira chamada. Muitos se
inscreveram ou para garantir
vaga, caso não passassem no
vestibular desejado, ou para ver
como o sistema funcionaria.
Esse foi o caso de Tamara Zawadski, 18, de Salto (SP), que
passou para engenharia ambiental em Londrina (PR), mas
não se matriculou. "Quero fazer medicina. Então vou fazer
cursinho e tentar de novo."
Resultado: 60% das vagas sobraram para a segunda chamada. Sorte de outros.
Fúlvio Figueiredo, 18, classificado na segunda chamada da
Unifesp de Santos, fez até um
"autotrote" em Altinópolis.
"A gente se pintou e fez um
pedágio para arrecadar dinheiro para uma festa", diz.
Vida republicana
Com o nome na lista de aprovados, começa a peregrinação:
era preciso viajar logo após a divulgação dos resultados para
fazer matrícula na faculdade e
garantir a vaga.
"Peguei duas horas de carro
até Ribeirão Preto e um avião
até Cuiabá. Voltei no dia seguinte", diz Maria Laura.
Outra preocupação imediata
é encontrar lugar para morar.
Quitinetes, pensões e repúblicas são as opções básicas, da
mais cara para a mais barata.
"Estava conversando agora
com umas meninas pelo Orkut,
na comunidade da Unifei, para
montarmos uma república",
diz Isabela Neves, 17, de Jacareí
(SP), caloura de engenharia de
saúde e segurança no campus
de Itabira (MG).
Os retirantes já contabilizam
prós e contras: "É longe da família, mas não vai ter hora para
chegar", analisa Lucas Carnio,
18, outro que vai para Itabira,
cursar engenharia elétrica.
"Não sei cozinhar nada. Então, a gente estava combinando
no Orkut que a minha colega de
república vai cozinhar e eu vou
lavar a louça. Vida de universitário", diz Isabela.
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