São Paulo, segunda-feira, 01 de março de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EDUCAÇÃO

Calouros com o pé na estrada

Novo sistema de seleção que substitui vestibulares favorece a mobilidade, e calouros se preparam para sair de casa

TARSO ARAUJO
DA REPORTAGEM LOCAL

Entrar para a universidade já é um rito de passagem e tanto. Para alguns calouros, porém, a mudança vai ser bem mais radical.
É que neste ano ficou mais fácil entrar numa faculdade longe de casa, com a substituição do vestibular pelo Sisu (Sistema de Seleção Unificada) no processo seletivo de 51 universidades e institutos públicos.
Um total de 47.913 vagas foi oferecido pelo sistema, e estudantes do Brasil inteiro puderam concorrer a elas sem sair de sua cidade para fazer prova.
"Eu nem me imaginava numa [universidade] federal. Terminaria meu curso técnico e procuraria emprego aqui na região. Agora, vou me aventurar em Mato Grosso", diz Adalto Vieira, 17, de Altinópolis (SP), que passou para história na UFMT, em Cuiabá.
Para alguns, sair da cidade era mesmo a única opção.
"Eu já estava preparado para sair, porque aqui não tem faculdade", disse Matheus Palú, 17, de Santa Helena (PR), um dia antes de embarcar para Pato Branco (PR) para cursar química na UTFPR.
Mas estudar em outro Estado não foi uma decisão pacífica para todos. Maria Laura Perini, 18, de Itápolis (SP), conseguiu uma cobiçada vaga de medicina na UFMT, a 1.300 km de distância de casa.
"Minha mãe não queria, porque é longe. Mas, no final, me deu os parabéns", diz, lembrando que também lutou contra a lentidão do Sisu. "Só consegui a inscrição no último dia."
Outra marca da estreia foi o baixo número de matrículas na primeira chamada. Muitos se inscreveram ou para garantir vaga, caso não passassem no vestibular desejado, ou para ver como o sistema funcionaria.
Esse foi o caso de Tamara Zawadski, 18, de Salto (SP), que passou para engenharia ambiental em Londrina (PR), mas não se matriculou. "Quero fazer medicina. Então vou fazer cursinho e tentar de novo."
Resultado: 60% das vagas sobraram para a segunda chamada. Sorte de outros.
Fúlvio Figueiredo, 18, classificado na segunda chamada da Unifesp de Santos, fez até um "autotrote" em Altinópolis.
"A gente se pintou e fez um pedágio para arrecadar dinheiro para uma festa", diz.

Vida republicana
Com o nome na lista de aprovados, começa a peregrinação: era preciso viajar logo após a divulgação dos resultados para fazer matrícula na faculdade e garantir a vaga.
"Peguei duas horas de carro até Ribeirão Preto e um avião até Cuiabá. Voltei no dia seguinte", diz Maria Laura.
Outra preocupação imediata é encontrar lugar para morar. Quitinetes, pensões e repúblicas são as opções básicas, da mais cara para a mais barata.
"Estava conversando agora com umas meninas pelo Orkut, na comunidade da Unifei, para montarmos uma república", diz Isabela Neves, 17, de Jacareí (SP), caloura de engenharia de saúde e segurança no campus de Itabira (MG).
Os retirantes já contabilizam prós e contras: "É longe da família, mas não vai ter hora para chegar", analisa Lucas Carnio, 18, outro que vai para Itabira, cursar engenharia elétrica.
"Não sei cozinhar nada. Então, a gente estava combinando no Orkut que a minha colega de república vai cozinhar e eu vou lavar a louça. Vida de universitário", diz Isabela.


Texto Anterior: Converse com a gente
Próximo Texto: MEC diz que vai aumentar verba para moradia estudantil
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.