São Paulo, segunda-feira, 01 de maio de 2006

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Álvaro Pereira Júnior

Caetano, Led, Francis

"Eu tinha ido ver uma apresentação do conjunto americano Led Zeppelin..."
Quem será o autor da bobagem? Quem chamou de "americano" o grupo inglês Led Zeppelin?
Sim, ele, Caetano Veloso. Foi em um texto de novembro de 1969, publicado no "Pasquim".
E como eu sei disso? Como fui desencavar esse vacilo? Graças a um grande livro recém-lançado: "O Pasquim - Antologia (1969-1971)".
Os jovens merecem a explicação. Se esta coluna é escrita desse jeito coloquial, meio como se eu estivesse conversando com você (pelo menos eu tento); se, lá na Ilustrada, José Simão sacaneia todo mundo; se hoje a imprensa brasileira não usa fraque e cartola; enfim, se os jornais do Brasil são um pouco menos chatos do que gostariam de ser, isso se deve ao "Pasquim", um semanário que era editado no Rio, em formato tablóide, e teve seu auge nos anos 70 (durou até 1991, mas aí já sem a importância dos bons tempos).
Os intelectuais que faziam o "Pasquim" trouxeram para o papel a linguagem solta das ruas e bares de Ipanema. O jornal era pop e erudito. Era o novo.
Estudantes de jornalismo, não percam a antologia pasquiniana. Caetano chamando Led Zeppelin de "americano" é só uma mancada que não tira o brilho do resto do material. Textos de Paulo Francis e Ivan Lessa daqueles de pendurar na parede. Quadrinhos do Fradim, do Henfil, em seu ápice escatológico. Entrevistas, banhadas em uísque, de grandes figuras, como Leila Diniz e Chico Buarque.
Se não for por nenhuma outra razão, compre o livro por causa das páginas 210 e 211. Elas contêm um texto de Paulo Francis (se você não sabem quem é, não sou eu quem vai explicar) chamado "Duas ou Três Coisas que Eu Sei de Mim", em que o autor discorre sobre seu assunto predileto: ele próprio. Melhor do que comentar é transcrever:
"Acredito em rigorosamente nada, à exceção de meu intelecto, e neste apenas como instrumento de sobrevivência."
"Li "Crime e Castigo" aos 14 anos (...) Entendi o livro perfeitamente, inclusive o final calhorda."
"Solidão. Nonsense. Ninguém nunca foi tão só como eu, entre 14 e 28 anos. Até que é bom, quando se considera a companhia disponível."


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