São Paulo, segunda, 1 de dezembro de 1997.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

escuta aqui
Mulheres, clipes e shows que valem a pena

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
especial para a Folha

Madrugada úmida e fria, na TV espectadores fazem seus pedidos de videoclipes. Liga uma menina de 16 anos, de Londrina (PR). Ela quer "qualquer um do Sonic Youth, menos 'Bull in the Heather'".
Alguém tem o bom gosto de atender, programando "Superstar", a versão estonteante do Sonic Youth para a triste melodia dos Carpenters. É nesse clipe que a baixista Kim Gordon aparece tocando bateria, como Karen Carpenter.
Numa cidade perdida de um país esquecido, alguém de 16 anos quer ver Sonic Youth. É uma esperança.

Falando na quarentona Kim Gordon: na recente edição da "Rolling Stone" sobre mulheres no rock, ela deu um depoimento irônico e bem-humorado. Pergunta: "Algum conselho que você gostaria de dar?" Resposta: "Não deixe que suas paqueras se transformem em obsessões". Anote.

Em compensação, na mesma revista, Shirley Manson, do Garbage, mostra que beleza e sabedoria compõem mesmo uma equação improvável. Uma página inteira e nada que valha mais do que dois segundos de reflexão. Pena.

Throwing Muses acabou de vez. A banda da região de Boston que transformou esquizofrenia em rock and roll cambaleava havia alguns anos.
Primeiro, saiu Tanya Donnely, que formou a Belly. A irmão de criação dela, Kristin Hersch, tentou carreira solo, depois ressuscitou a banda e agora resistiu.
Throwing Muses fazia música torturada para solitários. Seu fim representa uma esperança a menos para os jovens de sangue nas veias.

Estão sendo relançados nos Estados Unidos dois álbuns do lendário Pussy Galore, "Right Now!" e "Dial M for Motherfucker". Encomende na sua lojinha preferida, e entenda onde niilistas contemporâneos, como o Atari Teenage Riot, aprenderam a gostar de barulho.

A jornalista Denise Bobadilha, colaboradora da Ilustrada em Londres, manda e-mail contando sobre um show que viu no estádio de Wembley: Radiohead, com abertura de Teenage Fanclub e DJ Shadow.
O Radiohead tocou por mais de duas horas, sem esquecer uma única faixa de sua recente obra-prima, "Ok Computer". DJ Shadow fez a rapaziada viajar, enquanto Teenage Fanclub despejou, com suas guitarras, os habituais 35 minutos que valem por uma vida.

A revista americana "Alternative Press" informa que Scott Wieland, ex-cantor do Stone Temple Pilots, está gravando seu primeiro álbum solo, depois de ser chutado da banda por dependência incontrolável de heroína. Segundo Wieland, o disco será "muito experimental". Cuidado.

O clipe de "Everlong", dos Foo Fighters, é legal daquele jeito mesmo, ou tudo não passa de um sonho?


Álvaro Pereira Júnior, 34, é chefe de Redação da Rede Globo


Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.