Magia e mistério encontram a mitologia em livro de suspense

LUANA VILLAC
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A combinação magia e mistério é uma das mais antigas receitas da literatura e da arte de contar histórias. Depois do sucesso mundial da saga do bruxinho Harry Potter, que a utilizou em dosagens habilidosas, ela passou a ser cada vez mais perseguida pelo filão infanto-juvenil do mercado editorial.
O recém-lançado livro "O Segredo do Caleidoscópio - O Vôo dos Sonhos", que une esses ingredientes a pitadas de mitologia grega, é mais um fruto dessa safra. "Harry Potter veio abrir um leque muito grande para nós, que escrevemos para esse público", diz o autor, o carioca Marcos Lopes. "Li todos os livros e acho a autora brilhante: ela pegou uma idéia não tão original e a transformou numa literatura muito ágil."
O autor, no entanto, nega que a série escrita por J.K.Rowling tenha sido uma influência para ele. "Acho que os romances policiais e, principalmente, Agatha Christie são referências muito mais importantes para mim. Ela foi uma mestra do suspense."
O suspense, de fato, é o caminho trilhado por Lopes para contar três histórias paralelas, que, aos poucos, se encontram: no Oráculo de Delfos, um sacerdote recebe a incumbência de proteger dois gêmeos, guardar um retângulo espelhado mágico e levar as crianças a um lugar sagrado onde se cumprirá uma profecia. No Mercado de Ágora, um homem encontra na barriga de um peixe outro espelho mágico, mas é assassinado por uma sedutora feiticeira que rouba o objeto para fins malignos. No sul de Chipre, um náufrago perde a memória e um terceiro espelho mágico, e é trancado numa cela repleta de guerreiros desmemoriados à espera de um comando do mal.
Se as tramas são promissoras, o excesso de recortes compromete o envolvimento do leitor com o enredo. Como nos ensinaram tão bem Hercule Poirot e Miss Marple, o sucesso do suspense depende muito do ritmo, e o "O Segredo do Caleidoscópio" peca ao contar suas histórias de forma sincopada demais.
Outra deficiência do volume é a linguagem, que mistura clichês do universo lendário com expressões contemporâneas de forma caótica, sem levar em conta a individualidade de cada personagem. Assim, o "Vôo dos Sonhos" não decola.