São Paulo, segunda-feira, 02 de fevereiro de 2004

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VOLTA ÀS AULAS

Quem chega ao 3º ano mergulha em tempo de escolhas

Hora da encruzilhada

ALESSANDRA KORMANN
DA REPORTAGEM LOCAL

Bem-vindos ao terceiro ano do ensino médio: são cerca de 2 milhões de estudantes que se formam por ano no Brasil e disputam 1 milhão de vagas universitárias com outros estudantes que não conseguiram passar no vestibular nos outros anos e com pessoas que retomam os estudos depois de algum tempo.
Além dessa pressão óbvia, jovens de 17 ou 18 anos têm de tomar uma das primeiras grandes decisões da vida: escolher que carreira seguir. Não há mais tempo para pensar no que vai ser quando crescer.
"A sobrecarga é muito grande. Com o estilo de vida da classe média, a adolescência ficou muito prolongada. A decisão acaba sendo prematura, mas não tem jeito. Tem uns que agüentam mais, outros estão menos preparados", observa a psicóloga Regina Sonia Gattas, professora da PUC-SP, que atende adolescentes no laboratório de orientação vocacional da universidade.
Para o estudante de escola pública (80,76% do total que conclui o ensino médio), a pressão é ainda maior. "O aluno de escola pública acaba tendo menos opções. Por não ter condição de fazer mais um ano de cursinho, ele normalmente escolhe um curso no qual possa entrar mais rápido e que ofereça mais cedo a possibilidade de um retorno no seu trabalho", afirma o psicólogo Maurício Ballarine, do Cursinho da Poli, voltado para alunos de baixa renda.
Para tornar essa fase um pouco menos difícil e ajudar na preparação dos estudantes, muitas escolas oferecem diminuição da carga horária ou atividades extra-curriculares. No Dante Alighieri, por exemplo, o calendário das provas finais é antecipado para que o aluno possa focar sua atenção nos vestibulares. No colégio, eles também já enfrentam uma primeira escolha antes mesmo de entrar no terceiro ano, na hora de optar que área (humanas, exatas ou biológicas) vão cursar.
"Eu estava em dúvida, sempre ouvi falar que os cursos de exatas e de biológicas são mais fortes, mas todas as matérias que eu amo são de humanas", diz Karina Masini Falzoni, 16, que quer fazer jornalismo. Mesmo se separando das amigas, que foram para outras turmas, ela resolveu fazer humanas. Karina só pretende fazer cursinho nos dois últimos meses para não prejudicar a escola. "Aí, no final do ano, eu me acabo", planeja.
Já Lucas Silva, 16, também do Dante, não tem a menor idéia do que vai prestar no vestibular. Na verdade, não sabe nem mesmo se vai prestar vestibular. "Meu pai sempre me deu o maior apoio em tudo, mesmo se eu resolver que não quero fazer faculdade", afirma. Ele tem aula de bateria e vai começar a fazer capoeira, mas não pretende fazer cursinho neste ano. "Acho que ainda é muito cedo para decidir."
Para outros, a experiência de cursinho é fonte de curiosidade. "O ambiente é diferente do de uma escola convencional", diz Albert Nissimoss, 16, do Colégio I.L. Peretz, que vai fazer cursinho no Anglo desde o começo do ano e pretende prestar engenharia eletrônica.
"Prefiro não ficar sobrecarregado no final do ano. E já estou acostumado a lidar com várias atividades ao mesmo tempo", diz ele, que fazia inglês, francês e academia. Além disso, no seu colégio há aulas o dia todo duas vezes por semana no segundo ano.
No terceiro ano do I.L. Peretz, essas aulas passam a ser optativas, e os alunos podem fazer aulas livres na piscina para relaxarem as tensões. Mais perto do vestibular, o colégio também oferece tai chi chuan.
Em outras escolas, como a Lourenço Castanho, também há atividades de relaxamento e aulas complementares. Já o Colégio Magno oferece um cursinho para os alunos do terceiro ano, sem nenhum custo adicional na mensalidade.
Fernando Capeletti, 16, que estuda no Magno, vai fazer o cursinho, mesmo sem ter certeza do que vai prestar. "A maioria faz o cursinho, mas sei que depois há muita desistência." Ele vai chegar na escola às 7h15 e sair às 17h30. Depois, vai para o inglês, das 18h30 às 20h. As baladas, portanto, vão ter de ficar para depois. "Vou ter de sair de cena neste ano, ficar mais controlado e sair só no final de semana", planeja.
Há quem prefira, no entanto, adiar um pouco a entrada na universidade, seja para fazer um curso de idioma, morar fora ou mesmo trabalhar -principalmente se a pessoa não está certa do que fazer.
É o caso de Olavo Nigel Meyer, 18, que está em dúvida entre economia e administração. Ele terminou o ensino médio no Porto Seguro no ano passado e agora vai fazer um estágio em uma empresa alemã, que conseguiu no Instituto de Formação Profissional Administrativa, depois de passar por processos seletivos de gente grande. "Lá, vou ver a realidade do trabalho e poder conversar com as pessoas para decidir o que quero fazer."
O problema, no entanto, é que nem todo mundo pode adiar as escolhas. "Temos alunos guerreiros, que vão para o trabalho, fazem o ensino médio à noite e freqüentam o cursinho nos finais de semana. Se eles conseguissem dormir menos para estudar mais, fariam isso", diz o psicólogo do Cursinho da Poli. "Uma hora de sono é melhor que uma hora de estudo.Às vezes, é preciso dar uma desacelerada. Quem já começa o ano com esse pique, no final vai estar estressado, com dor de cabeça, perdendo cabelo." Como tudo na vida, o melhor caminho é sempre o do meio.



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