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VOLTA ÀS AULAS
Quem chega ao 3º ano mergulha em tempo de escolhas
Hora da encruzilhada
ALESSANDRA KORMANN
DA REPORTAGEM LOCAL
Bem-vindos ao terceiro ano
do ensino médio: são cerca de 2 milhões de estudantes que se formam por ano
no Brasil e disputam 1 milhão de vagas universitárias
com outros estudantes que
não conseguiram passar no
vestibular nos outros anos e
com pessoas que retomam
os estudos depois de algum
tempo.
Além dessa pressão óbvia,
jovens de 17 ou 18 anos têm
de tomar uma das primeiras
grandes decisões da vida: escolher que carreira seguir.
Não há mais tempo para
pensar no que vai ser
quando crescer.
"A sobrecarga é muito
grande. Com o estilo de vida da classe
média, a adolescência ficou muito prolongada. A decisão acaba sendo prematura, mas não tem jeito. Tem uns que
agüentam mais, outros estão menos preparados", observa a psicóloga Regina Sonia Gattas, professora da PUC-SP, que
atende adolescentes no laboratório de
orientação vocacional da universidade.
Para o estudante de escola pública
(80,76% do total que conclui o ensino
médio), a pressão é ainda maior. "O aluno de escola pública acaba tendo menos
opções. Por não ter condição de fazer
mais um ano de cursinho, ele normalmente escolhe um curso no qual possa
entrar mais rápido e que ofereça mais cedo a possibilidade de um retorno no seu
trabalho", afirma o psicólogo Maurício
Ballarine, do Cursinho da Poli, voltado
para alunos de baixa renda.
Para tornar essa fase um pouco menos
difícil e ajudar na preparação dos estudantes, muitas escolas oferecem diminuição da carga horária ou atividades extra-curriculares. No Dante Alighieri, por
exemplo, o calendário das provas finais é
antecipado para que o aluno possa focar
sua atenção nos vestibulares. No colégio,
eles também já enfrentam uma primeira
escolha antes mesmo de entrar no terceiro ano, na hora de optar que área (humanas, exatas ou biológicas) vão cursar.
"Eu estava em
dúvida, sempre
ouvi falar que os
cursos de exatas e
de biológicas são
mais fortes, mas
todas as matérias
que eu amo são
de humanas", diz
Karina Masini
Falzoni, 16, que
quer fazer jornalismo. Mesmo se
separando das
amigas, que foram para outras
turmas, ela resolveu fazer humanas. Karina só
pretende fazer
cursinho nos dois últimos meses para
não prejudicar a escola. "Aí, no final do
ano, eu me acabo", planeja.
Já Lucas Silva, 16, também do Dante,
não tem a menor idéia do que vai prestar
no vestibular. Na verdade, não sabe nem
mesmo se vai prestar vestibular. "Meu
pai sempre me deu o maior apoio em tudo, mesmo se eu resolver que não quero
fazer faculdade", afirma. Ele tem aula de
bateria e vai começar a fazer capoeira,
mas não pretende fazer cursinho neste
ano. "Acho que
ainda é muito cedo
para decidir."
Para outros, a experiência de cursinho é fonte de curiosidade. "O ambiente é diferente
do de uma escola
convencional", diz
Albert Nissimoss,
16, do Colégio I.L.
Peretz, que vai fazer
cursinho no Anglo
desde o começo do
ano e pretende
prestar engenharia
eletrônica.
"Prefiro não ficar
sobrecarregado no
final do ano. E já estou acostumado a lidar com várias atividades ao mesmo
tempo", diz ele, que fazia inglês, francês e
academia. Além disso, no seu colégio há
aulas o dia todo duas vezes por semana
no segundo ano.
No terceiro ano do I.L. Peretz, essas aulas passam a ser optativas, e os alunos
podem fazer aulas livres na piscina para
relaxarem as tensões. Mais perto do vestibular, o colégio também oferece tai chi
chuan.
Em outras escolas, como a
Lourenço Castanho, também há atividades de relaxamento e aulas complementares. Já o Colégio Magno oferece um cursinho para os
alunos do terceiro ano, sem
nenhum custo adicional na
mensalidade.
Fernando Capeletti, 16, que
estuda no Magno, vai fazer o
cursinho, mesmo sem ter
certeza do que vai prestar. "A
maioria faz o cursinho, mas
sei que depois há muita desistência." Ele vai chegar na
escola às 7h15 e sair às 17h30.
Depois, vai para o inglês, das
18h30 às 20h. As baladas,
portanto, vão ter de ficar para depois. "Vou ter de sair
de cena neste ano, ficar
mais controlado e sair só no
final de semana", planeja.
Há quem prefira, no entanto, adiar um
pouco a entrada na universidade, seja
para fazer um curso de idioma, morar fora ou mesmo trabalhar -principalmente se a pessoa não está certa do que fazer.
É o caso de Olavo Nigel Meyer, 18, que
está em dúvida entre economia e administração. Ele terminou o ensino médio
no Porto Seguro no ano passado e agora
vai fazer um estágio em uma empresa
alemã, que conseguiu no Instituto de
Formação Profissional Administrativa,
depois de passar por processos seletivos
de gente grande. "Lá, vou ver a realidade
do trabalho e poder conversar com as
pessoas para decidir o que quero fazer."
O problema, no entanto, é que nem todo mundo pode adiar as escolhas. "Temos alunos guerreiros, que vão para o
trabalho, fazem o ensino médio à noite e
freqüentam o cursinho nos finais de semana. Se eles conseguissem dormir menos para estudar mais, fariam isso", diz o
psicólogo do Cursinho da Poli. "Uma
hora de sono é melhor que uma hora de
estudo.Às vezes, é preciso dar uma desacelerada. Quem já começa o ano com esse pique, no final vai estar estressado,
com dor de cabeça, perdendo cabelo."
Como tudo na vida, o melhor caminho é
sempre o do meio.
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