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CAPA
Ritmo brasileiro teve seu auge nos anos 70, manteve-se em bailes da periferia e retorna nos braços da classe média
Você vai cair no samba-rock
"Valorizo música brasileira, e samba-rock dá para dançar
de maneira mais solta e descontraída."
Tatiana Brandão, 18, estudante
"Samba-rock não é novidade,
a não ser para a molecada.
O pessoal está curtindo,
então, vamos lá"
Bebeto, 49, cantor e compositor
Fabiana Beltramin/ Folha Imagem
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Érica Figueiredo, 24, e Lúcio de Almeida, 26, dançam ao som do samba-rock de Bebeto |
AUGUSTO PINHEIRO E FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
Você já ouviu samba-rock? Mais ainda, você sabe o
que é isso? Se a resposta for não, prepare-se para topar com esse som das antigas nas pistas e nas rádios.
Samba-rock é um ritmo melódico e requebrado, daqueles para dar uma rebolada, que flerta com o funk, o
samba e o rock ingênuo da Jovem Guarda. Muitas vezes
tem letras românticas e uma pitadinha meio brega do
bem. Surgiu no final dos anos 60, estourou na década de
70 e se manteve vivo até hoje em bailes de periferia.
Agora, aparentemente, sem nenhuma razão específica nem marketing de gravadora, ele renasce em clubes
de classe média e conquista o público jovem, arrebatando alternativos de plantão e muitos dos frequentadores
do forró universitário.
Tatiana Brandão, 18, é um deles. Não abdicou do arrasta-pé durante a semana, mas já foi seduzida pela cadência do samba-rock. "Conheci o ritmo no Jive (casa
noturna de São Paulo) e achei legal, bem diferente",
conta. "Valorizo música brasileira, e samba-rock dá para dançar de maneira mais solta e descontraída."
Quem pilota o som do Jive é o DJ Alex Cecci, 31, também conhecido como Don KB. "Sem falsa modéstia, eu
me sinto responsável pelo revival do samba-rock", dispara. Ele começou a tocar o som no ano passado nas
festas de sexta-feira do hotel Cambridge, que eram chamadas de Jive. "Introduzi aos poucos, para não assustar. Tocava primeiro um lounge, depois enfiava umas
músicas latinas, então colocava o samba-rock." E aí a
galera sacudia para valer.
Ele conta que a moçada aprovou o repertório cheio de
suingue -o que resultou nas atuais noites de sexta-feira, no clube Jive. "Acho muito boa essa onda, contagia a
galera pelo ritmo mesmo."
Além de mandar ver nos pick-ups, o DJ também tem
um selo, o Gorila Hi-Fi, com artistas como Mamelo
Sound System, Academia Brasileira de Rimas, Black
Alien & MC Speed e MC Max B.O. Para completar a ligação com o samba-rock, Alex, que toca bateria no trio
3 Dux, é agente do Trio Mocotó.
Além das noites nos clubes de São Paulo (há ainda o
Avenida Club, o Grazie a Dio, o KVA e o baile Green Express, no centro da cidade), a nova onda ganha força
com a notícia de que artistas consagrados pelo sucesso
do ritmo 30 anos atrás voltam aos estúdios para gravar
hits da época e músicas inéditas. Entre eles, estão o Trio
Mocotó, Banda Black Rio e o cantor Bebeto, que já providenciou sua volta com "Bebeto Ao Vivo", lançado este ano (leia texto na pág. 8).
Novos artistas também investem no filão. Wilson Simoninha, que já tocou na banda de Jorge Benjor, o
maior ícone do gênero, usa bastante a levada do samba-rock em seu último disco. João Suplicy, Funk Como Le
Gusta e Matolli e Clube do Balanço engrossam a lista.
Mas o som já havia dado as caras em canções de bandas como Nação Zumbi, Mundo Livre S/A, Planet
Hemp e O Rappa, entre outras.
Fato é que agora aquela batida feita no violão, gostosa
de dançar, tem nome e história. "A expressão está ficando famosa agora, mas o samba-rock está aí faz muito
tempo", conta a estudante de cinema Juliana Mesquita,
23, que diz ter conhecido o ritmo por amigos músicos.
Ela frequenta a noite de samba-rock do Grazie a Dio, na
Vila Madalena, aos domingos, com som ao vivo.
"Meu pai não acreditou quando me pegou ouvindo
essas músicas, que são da época dele", brinca. "Tenho
muitos amigos que estão ouvindo discos bem antigos.
Jorge Benjor está muito em alta agora." Mas ela deixa
claro que essa alta não vem de sucessos mais recentes,
como "W/Brasil", mas das canções cheias de suingue
que ele entoava nos anos 60.
Não é para menos, Benjor, quando ainda era Jorge
Ben e tocava com o Trio Mocotó, criou um ritmo novo,
altamente positivo e cheio de balanço, que misturava
sopros e um turbilhão de influências que vão do soul ao
jazz, bem na época em que o slogan "black is beautiful"
ganhava adeptos no Brasil. O som logo ganhou admiradores no meio artístico, que abraçaram o samba-rock e
fizeram dos anos 70 seu tempo áureo. Essa turma é
grande e vai de Erasmo Carlos a Tim Maia, passando
por nomes menos conhecidos hoje como Branca Di Neve, Luís Vagner, Marku Ribas e Orlandivo.
O casal Érica Figueiredo, 24, e Lúcio de Almeida, 26,
de Osasco, que gosta de dançar juntinho, rodopiando e
requebrando ao som do ritmo, conta que lá os bailes
existem há muitos anos. "Gosto dos programas de samba-rock da 105 FM, de São Paulo", diz Érica.
Bruno Freddy Mancuso, 20, estudante de audiovisual,
é da turma do funk, mas já está curtindo samba-rock.
"Valorizo o som nacional, mas espero que essa moda
não se espalhe muito, senão todo mundo vai tocar e não
vai haver outros ritmos para dançar", acha.
Os irmãos Pablo, 23, e Tatyana Horta, 25, e a amiga
Amanda Cardoso, 21, curtem o som nacional há pelo
menos três anos. "Gostamos de Jorge Benjor, Wilson
Simonal e Tim Maia", diz Pablo. Os três, que frequentam as sextas-feiras do Jive, comemoram a crescente febre do samba-rock. "Agora existem vários lugares para
dançar", exalta Tatyana. "Aonde houver samba-rock eu
estou indo", completa.
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