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MAIORIDADE
Teens que são emancipados pelos pais se sentem mais responsáveis; no cotidiano, porém, pouca coisa muda; ao Folhateen eles falam dos pontos positivos e negativos
Que independência é essa?
ALESSANDRA KORMANN
DA REPORTAGEM LOCAL
Qual o adolescente que nunca sonhou ter 18 anos? Pois, hoje, existem muitos jovens que recebem dos próprios pais a proposta tentadora
de serem emancipados, o que, na prática,
significa a conquista da maioridade civil.
Os motivos são variados, mas, em grande
parte dos casos, passam longe da vontade
dos pais de dar mais liberdade a seus filhos.
De acordo com os cartórios procurados
pela reportagem, a causa mais comum para
a emancipação é a criação de uma sociedade entre pais e filhos -para abrir uma microempresa, é obrigatório ter um sócio.
Henrique de Campos Silva, 17, emancipado desde novembro, trabalha com o pai
em uma ONG, como assessor de marketing, há três anos. "Foi importante começar
a trabalhar cedo. Entrei na faculdade agora,
e minha experiência já está me ajudando.
Eu saí na frente."
Para a advogada Claudia Lopes Fonseca,
especialista em direito de família, com o
maior número de divórcios, aumentou a
quantidade de pais que colocam seus filhos
na sociedade. "Antigamente, era comum o
marido colocar a mulher como sócia, mas
agora eles preferem os filhos, pois assim
acreditam que não correm perigo de serem
prejudicados em uma eventual separação."
Mas nem todos os que entram em uma
sociedade com os pais trabalham de fato.
"Normalmente é só pró-forma, eles continuam recebendo mesada, tudo igual", diz
Magdalena Ramos, professora de psicologia da PUC-SP.
Para a psicóloga Silvana Martani, a
emancipação envolve riscos. "É só no papel, porque emocionalmente não acontece
de fato. Um jovem de 16, 17 anos não tem
maturidade para gerir uma empresa, pode
ser uma sobrecarga de responsabilidade. E
se a empresa tiver algum problema, ele pode ficar com o nome sujo."
Renata Strengerowski, 17, achou positivo
ter sido emancipada depois que seus pais se
separaram, para que ela resolvesse com
quem quer ficar e tivesse mais autonomia.
"Achei bom que eles tenham me dado essa
responsabilidade." Mas, na prática, ela não
sentiu muita diferença. "Ainda não precisei
fazer nada diferente. Vai ser mais fácil para
viajar", acredita. Em janeiro, antes de embarcar para os Estados Unidos, ela teve
problemas. Os pais já estavam lá, e ela havia
perdido a autorização para viajar. "Passei
meia hora de desespero até encontrar o papel. Agora, não teria problema."
Já a estudante Danielle Duanetti, 21,
emancipada aos 16, disse que se sentiu mais
madura. "O meu inconsciente fez com que
eu me sentisse mais dona de mim. Coisa de
adolescente", diz. Ela foi emancipada para
trabalhar em uma empresa que exigia que
ela fosse maior de idade ou tivesse a maioridade civil para assinar o contrato.
Quando Larissa Moreira Guedes, 20, foi
emancipada, há três anos, quem achava
que ela iria mudar eram os amigos, que diziam que ela ia ser a responsável da turma.
"Mas eu já me sentia mais responsável por
causa da minha índole mesmo", conta.
A idéia da emancipação foi da mãe, para
que ela pudesse usar o dinheiro recebido
do pai, que havia morrido cinco anos antes,
para fazer um intercâmbio em Londres.
"Me senti um pouco mais responsável, mas
hoje vejo que isso não mudou nada na minha vida, só as coisas práticas."
Marjori Schroeder, 21, também acha que
nada muda. Ela foi emancipada aos 16, para
virar sócia do pai em uma empresa. "Nem
sabia bem o que seria a empresa, mas achei
interessante esse negócio de ter uma sociedade. Era muito glamouroso", diz. "Quando meu pai falou que ia me emancipar,
achei o máximo. Quando você tem 16, essa
questão de idade é um mito."
Mas, depois de alguns anos, ela percebeu
que tudo não passou de "imaginação boba". "Você continua sendo uma adolescente e, apesar de mudarem alguns direitos
civis, a vida e as limitações são as mesmas.
É claro que falar para os amigos que você é
emancipada é como uma vitória. Porém, logo esqueci e nem lembrava. Só
quando tinha que assinar os papéis
da empresa."
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