São Paulo, segunda-feira, 02 de maio de 2005

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MAIORIDADE

Teens que são emancipados pelos pais se sentem mais responsáveis; no cotidiano, porém, pouca coisa muda; ao Folhateen eles falam dos pontos positivos e negativos

Que independência é essa?

ALESSANDRA KORMANN
DA REPORTAGEM LOCAL

Qual o adolescente que nunca sonhou ter 18 anos? Pois, hoje, existem muitos jovens que recebem dos próprios pais a proposta tentadora de serem emancipados, o que, na prática, significa a conquista da maioridade civil. Os motivos são variados, mas, em grande parte dos casos, passam longe da vontade dos pais de dar mais liberdade a seus filhos.
De acordo com os cartórios procurados pela reportagem, a causa mais comum para a emancipação é a criação de uma sociedade entre pais e filhos -para abrir uma microempresa, é obrigatório ter um sócio.
Henrique de Campos Silva, 17, emancipado desde novembro, trabalha com o pai em uma ONG, como assessor de marketing, há três anos. "Foi importante começar a trabalhar cedo. Entrei na faculdade agora, e minha experiência já está me ajudando. Eu saí na frente."
Para a advogada Claudia Lopes Fonseca, especialista em direito de família, com o maior número de divórcios, aumentou a quantidade de pais que colocam seus filhos na sociedade. "Antigamente, era comum o marido colocar a mulher como sócia, mas agora eles preferem os filhos, pois assim acreditam que não correm perigo de serem prejudicados em uma eventual separação."
Mas nem todos os que entram em uma sociedade com os pais trabalham de fato. "Normalmente é só pró-forma, eles continuam recebendo mesada, tudo igual", diz Magdalena Ramos, professora de psicologia da PUC-SP.
Para a psicóloga Silvana Martani, a emancipação envolve riscos. "É só no papel, porque emocionalmente não acontece de fato. Um jovem de 16, 17 anos não tem maturidade para gerir uma empresa, pode ser uma sobrecarga de responsabilidade. E se a empresa tiver algum problema, ele pode ficar com o nome sujo."
Renata Strengerowski, 17, achou positivo ter sido emancipada depois que seus pais se separaram, para que ela resolvesse com quem quer ficar e tivesse mais autonomia. "Achei bom que eles tenham me dado essa responsabilidade." Mas, na prática, ela não sentiu muita diferença. "Ainda não precisei fazer nada diferente. Vai ser mais fácil para viajar", acredita. Em janeiro, antes de embarcar para os Estados Unidos, ela teve problemas. Os pais já estavam lá, e ela havia perdido a autorização para viajar. "Passei meia hora de desespero até encontrar o papel. Agora, não teria problema."
Já a estudante Danielle Duanetti, 21, emancipada aos 16, disse que se sentiu mais madura. "O meu inconsciente fez com que eu me sentisse mais dona de mim. Coisa de adolescente", diz. Ela foi emancipada para trabalhar em uma empresa que exigia que ela fosse maior de idade ou tivesse a maioridade civil para assinar o contrato.
Quando Larissa Moreira Guedes, 20, foi emancipada, há três anos, quem achava que ela iria mudar eram os amigos, que diziam que ela ia ser a responsável da turma. "Mas eu já me sentia mais responsável por causa da minha índole mesmo", conta.
A idéia da emancipação foi da mãe, para que ela pudesse usar o dinheiro recebido do pai, que havia morrido cinco anos antes, para fazer um intercâmbio em Londres. "Me senti um pouco mais responsável, mas hoje vejo que isso não mudou nada na minha vida, só as coisas práticas."
Marjori Schroeder, 21, também acha que nada muda. Ela foi emancipada aos 16, para virar sócia do pai em uma empresa. "Nem sabia bem o que seria a empresa, mas achei interessante esse negócio de ter uma sociedade. Era muito glamouroso", diz. "Quando meu pai falou que ia me emancipar, achei o máximo. Quando você tem 16, essa questão de idade é um mito."
Mas, depois de alguns anos, ela percebeu que tudo não passou de "imaginação boba". "Você continua sendo uma adolescente e, apesar de mudarem alguns direitos civis, a vida e as limitações são as mesmas. É claro que falar para os amigos que você é emancipada é como uma vitória. Porém, logo esqueci e nem lembrava. Só quando tinha que assinar os papéis da empresa."


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