São Paulo, segunda-feira, 02 de maio de 2011 |
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POR DENTRO DA CARECA PARCELA DOS SKINHEADS QUER DESMISTIFICAR ESTIGMA DE RACISTAS ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER DE SÃO PAULO Está na cara. Com cabeça raspada e fama de brigão, skinhead virou sinônimo de encrenca nas ruas paulistas. Está também nos pés. Para amarrar o coturno (aquela bota preta, estilo militar), o universitário Pedro*, 19, usa cadarços vermelhos. Na cultura skinhead, a cor é bandeirada para a violência. "Todos brigam. É a lei de qualquer skinhead", diz. Sim, eles batem e apanham pela causa. Alguns, contudo, lutam para mostrar que, apesar da cabeleira tosada a máquina zero, têm algo na cabeça quando o assunto é direitos humanos. É o caso do S.H.A.R.P., sigla em inglês para "skinheads contra o preconceito racial". Essa parcela combate o skin preconceituoso, que traz má fama ao movimento. Skinheads são nacionalistas, fãs de futebol, quase sempre vêm de classes baixas e mantêm visual parecido. Mas o grupo contrário ao preconceito quer honrar o "skin original" -nascido da convivência entre imigrantes jamaicanos e o proletariado inglês, nos anos 60. A cultura hoje é associada à vertente neonazista, avessa a gays, negros e nordestinos. Em São Paulo, os lados rivais costumam duelar na rua Augusta e nas imediações de algumas estações do Metrô. Carlos*, 16, ganhou uma cicatriz no nariz após golpe de soco inglês. "Estava com um amigo negro. Eles [neonazis] falaram que sou loiro de olhos verdes, não devia andar com um macaco." Discutir sobre nazismo e fascismo nunca foi tabu na casa do escritor David Vega, 22. Movido pela curiosidade, ele passou dois anos imerso na cultura skinhead, "para pesquisar". A experiência rendeu "Cadarços Brancos". No livro de 2010, um personagem narra o "êxtase indescritível" de ler "Mein Kampf" (minha luta), a "Bíblia nazista" de Hitler. David -que nunca foi skin- concluiu que a rixa entre os "cabeças-raspadas" tem paralelo à briga entre torcidas de futebol. "Assim que você veste uma camisa, está indo contra a outra." Mas as subdivisões no movimento podem ser nebulosas. Veja o caso de Pedro, o dos cadarços vermelhos. Ele se diz um "skin reggae". Respeita sobretudo a raiz jamaicana da cultura. Ao mesmo tempo, revolta-se por não poder ostentar por aí seu "orgulho de ser branco". "Tenho que ter vergonha de ser quem sou." * Nomes fictícios NUMEROLOGIA 88 O número inspira bandas e tatuagens skins. H é a oitava letra do alfabeto. Dobrada, vira HH, ou "heil Hitler" - a saudação nazista 25 Em São Paulo, a Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância) identificou cerca de 200 membros espalhados por 25 gangues que perseguem gays e nordestino COMO OS SKINS SÃO ENQUADRADOS Crimes de injúria (pena de um a seis meses) Crimes de racismo (de um a três anos) Formação de quadrilha (de um a três anos) Lesão corporal (de três meses a um ano) Lesão corporal grave (de um a cinco anos) Lesão corporal gravíssima (de dois a oito anos) Texto Anterior: Sexo & Saúde - Jairo Bouer: Bullying não é o único vilão em assassinatos Próximo Texto: Polícia monitora skinheads pela internet Índice | Comunicar Erros |
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