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São Paulo, segunda-feira, 02 de junho de 2003

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ÀS VEZES ELES VOLTAM

Radiohead lança novo ataque à cultura na próxima segunda

2 + 2 = 5

GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL

A matemática improvável do título ao lado tem razão de ser. Afinal, são cinco os membros do Radiohead, e a soma dos elementos que eles trabalham em seus discos, desde "OK Computer", nunca é exata. Se você achou tudo isso uma viagem sem fim, então pode pensar que é apenas uma homenagem ao novo álbum da banda, "Hail to the Thief", que será lançado na próxima segunda-feira, e abre com a faixa "2+2 = 5".
Voltando à matemática improvável, só ela pode explicar como, em pouco mais de dez anos, o Radiohead deixou de ser um forte candidato a banda de uma nota só (o hit "Creep") para se transformar no embaixador da música experimental dentro do primeiro escalão da indústria cultural.
Tudo começa em Oxford, Inglaterra, nos anos 80, com a banda On A Friday, formada pelos amigos de escola Thom Yorke (vocais e guitarra), Phil Selway (bateria), Colin Greenwood (baixo), seu irmão mais novo, Jonny, e Ed O'Brian (guitarras). Foi com a segunda demo do On A Friday, já nos anos 90, que eles conseguiram um contrato com a EMI. Sacaram que o nome não era dos melhores e buscaram inspiração numa canção do Talking Heads, lançada no disco "True Stories".
"Pablo Honey", seu primeiro álbum, foi lançado em 93 sem muito estardalhaço no Reino Unido. Contudo os americanos descobriram a balada grunge "Creep", e a banda virou o equivalente inglês do Nirvana. Aí surgiram as suspeitas de que o Radiohead era mais um desses grupos que lançam um grande hit e somem da face da Terra. Ouvindo "Pablo Honey" hoje, parece injusto. O disco é irregular, soa bastante como U2 em algumas faixas, mas a alquimia entre os três guitarristas já era evidente e explodiu no álbum mais pop da banda até hoje, "The Bends", de 95.
Com uma produção melhor, um triunvirato de guitarras e letras que alternavam tristeza sem fim, escárnio e críticas à sociedade de consumo, "The Bends" invadiu as rádios com um single atrás do outro, e a crítica percebeu que tinha nas mãos um filho legítimo de um triângulo amoroso formado por Pixies, Sonic Youth e R.E.M..
Era pouco. Em 96, um novo personagem surge para ajudar a banda a forjar o seguinte e mais duradouro assalto à cultura. O produtor Nigel Godrich leva o Radiohead para uma mansão, onde é gestado um dos mais louvados discos da história do rock, "OK Computer". Um álbum conceitual, magnífico em sua investigação da relação entre homem e máquina na era pós-industrial, com vocais torturados e poesia oblíqua, mas crítica.
Mesmo na contramão da aposta mercadológica de empurrar o lixão para as massas, "OK Computer" chegou ao topo das paradas, ganhou Grammy e foi eleito pelos leitores da revista "Q 4 Music" o melhor álbum de todos os tempos.
Depois de megaturnês em estádios lotados, o Radiohead poderia descansar sossegado e repetir a fórmula vencedora ao infinito. Mas deu seu salto mais ambicioso. No estúdio com Godrich, pôs as guitarras de molho, incorporou instrumentos eletrônicos estranhos, como o Ondes Martenot (uma espécie de teremim mais preciso) e passou a usar técnicas de gravação inspiradas nos métodos de Brian Eno (ex-membro do Roxy Music, produtor musical e inventor da ambient music). Resultado: os desafiadores "Kid A" e "Amnesiac".
Usando a mesa de mixagem como instrumento, a banda aproxima-se da eletrônica de vanguarda do selo Warp (Aphex Twin, Autechre), dilui os significados das letras e trucida melodias. O estranho é que, mesmo descartando o jeitão de hino de suas canções, o Radiohead consegue manter o status de gigante da mesma indústria que critica.
Agora, a banda volta com "Hail to the Thief", título surrupiado dos protestos contra a eleição de George W. Bush, em 2000, quando os manifestantes seguravam cartazes com os dizeres "Hail to the thief, our commander in chief" (Viva o ladrão, nosso comandante em exercício).
A reportagem do Folhateen não ouviu o novo disco. Mas, como qualquer fã que tenha um computador e uma linha telefônica, baixou a versão que vazou na internet, ainda sem a mixagem final, segundo a banda. Como a mixagem é parte do processo criativo do Radiohead, fica difícil julgar essa versão. Só dá para dizer que terá mais guitarras e que a fascinante estranheza eletrônica permanece um elemento crucial.



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