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ESCUTA AQUI
A gente gosta do que mandam a gente gostar
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA
Deve haver uma razão para alguém gostar de
The Vines, deve haver alguma razão para
alguém gostar de The Vines, deve haver uma
razão para alguém gostar de The Vines...
Por favor, cérebro cansado, ajude este velho
colunista a entender, quem sabe se eu ficar repetindo, quem sabe se eu me concentrar muito, muito mesmo, você tenha um lampejo e
consiga me explicar por que alguém gosta de
The Vines...
(The Vines é uma banda da Austrália que
imita o Nirvana. Ou melhor, xeroca o Nirvana. Ou, melhor ainda, xeroca o pior do Nirvana. The Vines está para o Nirvana assim como
o Creed está para o
Pearl Jam. Entendeu? Então continue
comigo).
De verdade, já ouvi
"Highly Evolved",
álbum de estréia do
The Vines, umas
cinco vezes. O máximo que consegui
sentir foi... vergonha. Sabe quando acontece uma cena humilhante na TV, como quando a cadeira quebra,
o apresentador despenca ao vivo e você fica
constrangido pelo cara? Pois foi essa sensação
que me veio à mente ao ouvir coisas como a
faixa cinco, "Homesick", que mais parece o
sertanejo Daniel incorporando Kurt Cobain.
Mas é claro: impossível que "Escuta Aqui"
seja a única proprietária da verdade em todo o
planeta, que só esta coluna perceba o embuste
que é o The Vines, e que todos os outros críticos, revistas internacionais e milhões de fãs
estejam errados. The Vines deve ser bom. Ou
não?
Acontece o seguinte: muitas vezes, a música
não significa nada. Vale o jeito de vestir, as declarações, a atitude, o que está em volta, enfim. E, óbvio, os milhões de dólares que a máquina de publicidade investe para enfiar na
cabeça de todo mundo que determinado artefato é legal.
Perguntei na semana passada à sublime dupla Damon & Naomi, que esteve tocando no
Brasil, o que eles achavam de Strokes e White
Stripes, duas bandas da moda.
A überdeusa Naomi respondeu que nunca
tinha ouvido Strokes, mas que achava impossível uma banda tão jovem ser tão boa quanto
se diz (discordei). E contou que já tinha visto
White Stripes, que tinha achado "bonitinho".
Por que essa falta de entusiasmo? Porque
Naomi falou de um ponto de vista estritamente musical. Cool abaixo de zero, a baixista formada em artes visuais em Harvard
está pouco se lixando para o que os outros
dizem que é bacana. Ela fixa suas próprias
regras, segue as tendência que bem entende, ou que ela própria cria.
White Stripes? Bonitinho. The Vines?
Nem isso.
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