São Paulo, segunda-feira, 02 de setembro de 2002

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ESCUTA AQUI

A gente gosta do que mandam a gente gostar

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA

Deve haver uma razão para alguém gostar de The Vines, deve haver alguma razão para alguém gostar de The Vines, deve haver uma razão para alguém gostar de The Vines...
Por favor, cérebro cansado, ajude este velho colunista a entender, quem sabe se eu ficar repetindo, quem sabe se eu me concentrar muito, muito mesmo, você tenha um lampejo e consiga me explicar por que alguém gosta de The Vines...
(The Vines é uma banda da Austrália que imita o Nirvana. Ou melhor, xeroca o Nirvana. Ou, melhor ainda, xeroca o pior do Nirvana. The Vines está para o Nirvana assim como o Creed está para o Pearl Jam. Entendeu? Então continue comigo).
De verdade, já ouvi "Highly Evolved", álbum de estréia do The Vines, umas cinco vezes. O máximo que consegui sentir foi... vergonha. Sabe quando acontece uma cena humilhante na TV, como quando a cadeira quebra, o apresentador despenca ao vivo e você fica constrangido pelo cara? Pois foi essa sensação que me veio à mente ao ouvir coisas como a faixa cinco, "Homesick", que mais parece o sertanejo Daniel incorporando Kurt Cobain.
Mas é claro: impossível que "Escuta Aqui" seja a única proprietária da verdade em todo o planeta, que só esta coluna perceba o embuste que é o The Vines, e que todos os outros críticos, revistas internacionais e milhões de fãs estejam errados. The Vines deve ser bom. Ou não?
Acontece o seguinte: muitas vezes, a música não significa nada. Vale o jeito de vestir, as declarações, a atitude, o que está em volta, enfim. E, óbvio, os milhões de dólares que a máquina de publicidade investe para enfiar na cabeça de todo mundo que determinado artefato é legal.
Perguntei na semana passada à sublime dupla Damon & Naomi, que esteve tocando no Brasil, o que eles achavam de Strokes e White Stripes, duas bandas da moda.
A überdeusa Naomi respondeu que nunca tinha ouvido Strokes, mas que achava impossível uma banda tão jovem ser tão boa quanto se diz (discordei). E contou que já tinha visto White Stripes, que tinha achado "bonitinho".
Por que essa falta de entusiasmo? Porque Naomi falou de um ponto de vista estritamente musical. Cool abaixo de zero, a baixista formada em artes visuais em Harvard está pouco se lixando para o que os outros dizem que é bacana. Ela fixa suas próprias regras, segue as tendência que bem entende, ou que ela própria cria.
White Stripes? Bonitinho. The Vines? Nem isso.


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