Documentário "Botinada" mostra o começo do punk rock no Brasil

LETICIA DE CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando o punk surgiu no Brasil, no final dos anos 70, liderado por adolescentes da periferia, Gastão Moreira (ex-apresentador da MTV e da TV Cultura) era um garoto de classe média, aluno do tradicional colégio Dante Alighieri.
Mesmo vivendo num universo tão distante, a agressividade e o lema "faça você mesmo" do punk tiveram impacto imediato na vida do então estudante, que decidiu montar uma banda e passou a acompanhar a cena.
Agora, mais de 20 anos depois, Gastão, 40, recuperou a história do movimento no documentário "Botinada - A Origem do Punk no Brasil", lançado em DVD, com exibição na sala Cinemateca, que traz entrevistas com integrantes das principais bandas e imagens raras -como as de um show do Inocentes no extinto Gallery, freqüentado na época pela nata da burguesia paulistana, e uma apresentação do Cólera num programa de calouros da TV Tupi que nunca foi ao ar.
"Eu quis mostrar a diversidade do movimento, que reunia pessoas que só queriam saber de música e outras interessadas na parte política, de contestação", diz Gastão.
O documentário fala rapidamente da cena de Brasília, mas centraliza o foco na de São Paulo, dividida entre as gangues da capital e as do ABC.
Um episódio quase inacreditável mostra a rivalidade que existia entre os dois grupos.
Durante um show na casa de bailes Construção (reduto dos punks da capital), Pádua, da banda Passeatas (do ABC), perdeu a mão quando atirava um coquetel molotov no público. "Na época, a intenção era machucar todo mundo mesmo", conta Pádua, que hoje usa um gancho no braço direito.