São Paulo, segunda-feira, 03 de maio de 2010

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Beleza fabricada

Adolescentes encaram cirurgias plásticas para melhorar a aparência, apesar de riscos envolvidos

João Brito/ Folha Imagem


TARSO ARAUJO
DA REPORTAGEM LOCAL

Desde os 12 anos, Ligia Moreno, 20, se incomodava com sua aparência. "Sempre fui muito magrinha. Era o patinho feio da sala", diz.
Quando tinha a mesma idade, Ricardo*, 18, começou a buscar o termo "operação de orelha" na internet. "Era de abano, tamanho razoável. Mas pra gente parece muito."
Pois é, a orelha dele "era" de abano e Ligia "era" magrinha. Os dois mudaram sua imagem à base de bisturi.
"Cada dia pessoas mais jovens procuram a plástica. É resultado da influência da mídia na busca pelo belo", diz Sebastião Guerra, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).
"O motivo é a competição social. Eles querem estar com o nariz bonito, a orelha no lugar, o busto em pé. É uma manifestação do sexo própria dessa idade", diz o médico.
Para frear busca dps jovens por plásticas, a SBCP discute mudanças nas regras para cirurgias plásticas em menores.
Hoje, eles precisam de autorização verbal dos pais. A ideia é que isso passe a ser formal, registrado em cartório. "Queremos que funcione como um grito de alerta", diz Guerra.
Nas palavras de Ricardo, há um "desespero das pessoas de mudarem sua aparência para serem mais aceitas".
Esse foi o tipo de sentimento que fez Ligia buscar essa saída. "Os seios são o que mais chama a atenção no meu corpo. Mas o que mudou mesmo foi minha auto estima. Sou muito mais confiante agora",diz.
"O adolescente costuma chegar ao consultório já se programando para operar", diz a cirurgiã Luciana Pepino.
"Se o jovem é motivo de muita chacota, a cirurgia pode ser importante. Mas se uma menina quer fazer lipo ou implante de mama, a abordagem é diferente. É preciso ver se realmente será benéfico ou se ela quer fazer por modismo", diz.
Muitas vezes os teens também não consideram que até procedimentos menos complexos podem ter complicações.
Ricardo, por exemplo, teve queloide, lesão no local da cicatriz. É um grande inchaço, avermelhado, que ele precisa tratar até hoje, dois anos depois da cirurgia.
Antes de operar ele precisou inclusive assinar um termo de responsabilidade sobre possíveis complicações. "Quando li ocontrato, fiquei horrorizado."

Último recurso
Apesar dos riscos, alguns consideram operar a última saída para a crise com o espelho. Marcella Pachello, 19, fez 11 anos de balé e cinco de academia.
"Já fiz tudo para tirar o culote. É hereditário. Desde os 12 anos comecei a ter esse quadril e quero operar", diz.
Sua mãe a fez esperar, para seu corpo completar as transformações típicas da puberdade. Agora, maior de idade, está com lipo marcada para julho.
"Às vezes, me olho no espelho e fico pensando como ficaria com a perna mais fina",diz.
Pedro*, 14, também não vê a hora de "entrar na faca" para consertar sua orelha de abano, nas férias de julho. "Tô ansioso. Queromudar."

*Nomes fictícios.



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