São Paulo, segunda, 3 de maio de 1999

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eles tecem o futuro "Quem tem deve dar para quem precisa"


Vinicius Souza, 18, usa a "facilidade" para aprender música nas suas aulas para adolescentes carentes. Ele conta sua história na série de reportagens sobre jovens com experiências solidárias


Jorge Araújo/Folha Imagem
O músico Vinícios, 18, durante manifestação pela paz na Iugoslávia, ococrrida no dia 6/4


FÁTIMA GIGLIOTTI
da Reportagem Local

Vinicius Souza, 18, começou a estudar contrabaixo aos 12 anos. "Ouvia muito Red Hot Chilli Peppers, os slaps, o funk, mas são sabia o que era. Quando descobri que aquela pegada era o contrabaixo, comecei a estudar", conta Vinicius, que já integrou a banda de thrash metal Xuxus Anarquistas, a banda de blues Mãe Preta e a orquestra do Sesc Anchieta.
Aluno do primeiro ano de bacharelado em contrabaixo acústico na Fasm (Faculdade Santa Marcelina), Vinicius confessa que tem facilidade para música, "o que acaba sendo ruim, porque eu me dedico menos." Plugado na realidade a sua volta, fez dessa "facilidade" um precioso instrumento de ensino.
"Existe muita gente que tem e muita gente que precisa. Quem tem deve dar para quem precisa", diz. Foi com esse espírito que ele participou da criação do projeto Baticantu, do NAC (Núcleo de Ação Comunitária) da Fasm. Por meio dele, Vinicius dá aulas de música para carentes de 10 a 17 anos que frequentam o Centro Comunitário da favela do Parque Continental.
Antes, trabalhou com menores de rua. De julho a dezembro de 98, toda segunda à noite saía com o grupo da Casa Serena, um abrigo de menores, pelo centro de São Paulo, para brincar com eles.
"A gente levava lanche para eles e tentava convencê-los a ir para a casa, porque lá é para morar, tem de querer mudar de vida, largar o crack, a cola e o cigarro", explica. Vinicius queria ensinar música para o pessoal da casa, mas foi para a rua para conhecer o trabalho.
A oportunidade real surgiu com o Baticantu e as aulas semanais para cerca de 50 crianças da favela. "A gente trabalha com o corpo o ritmo da música, faz brincadeira de roda, canto e até instrumentos musicais com sucata", afirma Vinicius. Para ele, a música ajuda os garotos a desenvolver o senso crítico, a percepção auditiva, visual, a coordenação motora, o raciocínio, o espírito de equipe.
Vinicius explica que toda aula em grupo deve ser um laboratório para a vida em sociedade, mas seus alunos ainda convivem com a carência, "os pais trabalham, houve aluna que trouxe o irmão recém-nascido para não perder a aula, porque eles usam o espaço para se expressar, se divertir e aprender".
Para aprender cânones -canções com a mesma melodia cantada em tempos diferentes-, por exemplo, os garotos têm de estar ligados uns nos outros para saber a hora de entrar. "É demais. Eu imagino que isso deve funcionar na vida, o cara ouve, percebe o que o outro faz do seu lado para agir sem atrapalhar e, melhor ainda, para conseguir construir em conjunto."
Vinicius emprega a mesma filosofia na Rede Jovem (www. redejovem@egroups.com), "gente que tem e quer dar". "Nós, do NAC, vamos chamar pessoas da rede para participar de outros projetos e colocar nossa experiência à disposição de novos projetos também". A idéia já está dando certo. Márcio Costa Alberto, um aliado da rede de São Carlos, interior do Estado, pretende levar o projeto Baticantu para a sua cidade.



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