|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Cazuza alertou para o problema da Aids
Atitude corajosa do cantor, que assumiu a doença, ajudou a derrubar os preconceitos
|
DA REPORTAGEM LOCAL
Cazuza causou polêmica ao assumir
publicamente que era portador do vírus HIV. Sua atitude, além de corajosa,
abriu a discussão pública sobre o assunto. Segundo Áurea Abade, fundadora e
presidente do Gapa (Grupo de Apoio e
Prevenção à Aids), a atitude foi essencial
para que a doença passasse a ser encarada como deveria realmente ser: "Ele foi
muito corajoso. A Aids é um caso de saúde pública, não de moral. Não importa se
a pessoa contraiu o vírus se drogando,
em transfusões de sangue ou se ela tem
condutas homossexuais. O que importa
é que a pessoa deve ser tratada como um
ser humano que precisa de cuidados específicos, e é assim que o Gapa lida com
as pessoas".
Áurea diz ainda que o apoio e carinho
da família também foram muito importantes: "O que ficou marcado foi a luta,
não só do próprio Cazuza, mas de toda a
família, contra a doença. Seus pais e amigos estiveram ao seu lado durante todo o
tratamento", lembra. "É fundamental
também que o paciente aceite a doença e
queira viver".
A mãe de Cazuza, Lucinha Araújo, encontrou uma boa maneira de manter viva a memória do filho e ainda ajudar pessoas soropositivas: ela criou a Sociedade
Viva Cazuza, no Rio de Janeiro, que é
mantida com o dinheiro dos direitos autorais da obra de Cazuza.
"Cuidamos de 25 crianças carentes
portadoras do vírus e ainda damos apoio
para mais 50 pacientes em suas casas. Tenho certeza de que estou fazendo a minha parte", diz, orgulhosa.
Lucinha acha que o filho, ao ajudar a
destruir preconceitos, também abriu os
olhos de muitos para a necessidade de se
investir mais dinheiro na prevenção da
doença: "Se meu filho tivesse sido infectado hoje, teria uma vida muito mais
longa e com muito mais qualidade. Os
tratamentos médicos estão muito avançados e, mesmo que ainda não exista
uma cura para a doença, não há motivos
para as pessoas terem vergonha e resistirem ao tratamento".
Em abril de 1989, a revista "Veja" publicou uma polêmica entrevista de capa,
na qual Cazuza aparecia muito magro e
com pouco cabelo. A reportagem mostrou a coragem com que o cantor encarava a doença, mas também causou revolta
entre amigos e familiares, que a consideraram sensacionalista.
Também causou polêmica, mas principalmente comoção, a aparição de Cazuza na entrega do Prêmio Sharp, no Rio de
Janeiro, em 1989. Cazuza, que estava internado numa clínica, chegou de cadeira
de rodas. Macérrimo, o cantor ganhou os
prêmios de melhor música e melhor álbum. Foi o foco de todas as atenções da
noite e, com esta atitude, colaborou para
que o problema da Aids passasse a ser
discutido mais abertamente no país.
(GABRIEL GAIARSA)
Texto Anterior: Musical homenageia poeta e emociona mãe Próximo Texto: Relembrando Cazuza Índice
|