São Paulo, segunda-feira, 03 de julho de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cazuza alertou para o problema da Aids


Atitude corajosa do cantor, que assumiu a doença, ajudou a derrubar os preconceitos


DA REPORTAGEM LOCAL

Cazuza causou polêmica ao assumir publicamente que era portador do vírus HIV. Sua atitude, além de corajosa, abriu a discussão pública sobre o assunto. Segundo Áurea Abade, fundadora e presidente do Gapa (Grupo de Apoio e Prevenção à Aids), a atitude foi essencial para que a doença passasse a ser encarada como deveria realmente ser: "Ele foi muito corajoso. A Aids é um caso de saúde pública, não de moral. Não importa se a pessoa contraiu o vírus se drogando, em transfusões de sangue ou se ela tem condutas homossexuais. O que importa é que a pessoa deve ser tratada como um ser humano que precisa de cuidados específicos, e é assim que o Gapa lida com as pessoas".
Áurea diz ainda que o apoio e carinho da família também foram muito importantes: "O que ficou marcado foi a luta, não só do próprio Cazuza, mas de toda a família, contra a doença. Seus pais e amigos estiveram ao seu lado durante todo o tratamento", lembra. "É fundamental também que o paciente aceite a doença e queira viver".
A mãe de Cazuza, Lucinha Araújo, encontrou uma boa maneira de manter viva a memória do filho e ainda ajudar pessoas soropositivas: ela criou a Sociedade Viva Cazuza, no Rio de Janeiro, que é mantida com o dinheiro dos direitos autorais da obra de Cazuza.
"Cuidamos de 25 crianças carentes portadoras do vírus e ainda damos apoio para mais 50 pacientes em suas casas. Tenho certeza de que estou fazendo a minha parte", diz, orgulhosa.
Lucinha acha que o filho, ao ajudar a destruir preconceitos, também abriu os olhos de muitos para a necessidade de se investir mais dinheiro na prevenção da doença: "Se meu filho tivesse sido infectado hoje, teria uma vida muito mais longa e com muito mais qualidade. Os tratamentos médicos estão muito avançados e, mesmo que ainda não exista uma cura para a doença, não há motivos para as pessoas terem vergonha e resistirem ao tratamento".
Em abril de 1989, a revista "Veja" publicou uma polêmica entrevista de capa, na qual Cazuza aparecia muito magro e com pouco cabelo. A reportagem mostrou a coragem com que o cantor encarava a doença, mas também causou revolta entre amigos e familiares, que a consideraram sensacionalista.
Também causou polêmica, mas principalmente comoção, a aparição de Cazuza na entrega do Prêmio Sharp, no Rio de Janeiro, em 1989. Cazuza, que estava internado numa clínica, chegou de cadeira de rodas. Macérrimo, o cantor ganhou os prêmios de melhor música e melhor álbum. Foi o foco de todas as atenções da noite e, com esta atitude, colaborou para que o problema da Aids passasse a ser discutido mais abertamente no país.
(GABRIEL GAIARSA)


Texto Anterior: Musical homenageia poeta e emociona mãe
Próximo Texto: Relembrando Cazuza
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.