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São Paulo, segunda-feira, 03 de novembro de 2003

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Relação candidato-vaga para a carreira de modelo no país supera a de todos os cursos superiores

Fogueira das vaidades

FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

Ver as listas de relação candidato-vaga dos vestibulares das principais universidades brasileiras é sempre um susto. Publicidade na USP (Universidade de São Paulo): 69,66 candidatos por vaga. Medicina na Unesp (Universidade Estadual Paulista): 105.
Existe, no entanto, uma outra espécie de vestibular ainda mais concorrida. Nela, a relação chega a 15 mil candidatos por vaga, e os conhecimentos de física, matemática e química dão lugar à avaliação de altura, medidas e beleza. São os concursos de modelo, que atraem milhares de adolescentes na disputa pelo sonho de ser a próxima Gisele Bündchen.
O Elite Model Look 2003 teve 92 mil inscritas. O Supermodel Brazil, o concurso da Ford Models, teve 300 mil candidatas em sua última edição. E o Riachuelo Mega Model teve 650 mil candidatas. Tamanha competição faz da carreira de modelo uma das mais cobiçadas entre as jovens do país. Fama, glamour, bons tratos, festas, dinheiro, viagens... Só falta botar nessa espécie de conto de fadas moderno um pouco de realidade.
E foi isso o que a empresária e consultora de moda Costanza Pascolato fez com o guia "Como Ser uma Modelo de Sucesso" (Ed. Jaboticaba), escrito em parceria com a jornalista Milly Lacombe. O livro, em formato de bolso, quebra mitos da profissão, revela o que existe por trás da imagem de glamour construída pela moda e dá dicas sobre os caminhos mais certos para chegar às passarelas e aos estúdios fotográficos. Traz capítulos para meninas, garotos, crianças e pais.
"Nos anos 70, escolhia meninas para editoriais de moda a olho, em fila de cinema e na porta de escolas", conta ela. "Hoje, tudo é muito mais violento e profissional. As meninas são produtos. Quando boas, são produtos de exportação de primeiríssima qualidade. A intenção de ser modelo é algo dessa geração."
Costanza deixa claro quais são as qualidades desejadas em uma modelo, dá dicas para se dar bem na carreira, avisa do estresse do universo da moda, explica que fama e sucesso nem sempre andam juntos e sinaliza possíveis arapucas, como a depressão, as drogas e a anorexia, além de pôr abaixo idéias preconcebidas -e completamente enganadas- sobre a profissão.
"É impressionante como todas as meninas têm ilusões a respeito da carreira. Elas criam um universo de sonho, de Cinderela e acham que tudo vai mudar da noite para o dia", afirma Olivier Daube, 40, diretor da agência Elite Model, que compara a carreira de modelo para as meninas com a de jogador de futebol para os meninos.
Na porta de sua agência, no dia em que novos candidatos são avaliados, não é difícil encontrar gente que já caiu na real.
"Estou trabalhando há sete anos. E tem horas em que desanimo muito. Tenho de vir de Jundiaí a São Paulo quase todo dia para as seleções, não tenho o apoio da minha família e tive de arrumar outro emprego porque não deu para viver só dos trabalhos de modelo", lamenta Graziela Cardozo, 22. Para Bruno Guerino, 19, o pior é a frieza de grande parte das pessoas que lidam com os candidatos a trabalhos como modelo. "Muitas vezes, tratam a gente que nem cachorro. É isso o que me dá mais raiva."
Ana Paula Pires, 19, conheceu um lado da profissão ainda mais complicado. "Tive uma colega que tomava leite com detergente para fazer mal ao estômago e, assim, parar de comer e ficar magra", conta. Mas foi com a opinião de Johnny Beckhann que todos concordaram: "O pior de tudo é a rejeição".
"É complicado para uma menina de 15 anos ser rejeitada numa carreira tão ligada à vaidade", reforça Denise Céspedes, diretora da Ford Models Brasil.
Costanza conta em seu livro que a própria musa máxima, Gisele, teve de amargar quatro anos antes de estourar por acharem seu nariz comprido demais.



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