São Paulo, segunda-feira, 04 de abril de 2011

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OS NOVOS VELHOS

VINIL DO PAI E MÁQUINA FOTOGRÁFICA DA AVÓ DEIXAM JOVENS COM SAUDADES DO QUE NÃO VIVERAM

Angélica Mazzoni/Folhapress
Marina registrada em imagem lomográfica

TAÍS TOTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Para alguns, a encomenda de um novo vinil pela internet ou a revelação de um filme fotográfico é bem mais aguardada do que o lançamento da próxima novidade da Apple. Esses jovens não dispensam o iPod ou o computador, mas encontram nas mídias analógicas uma experiência diferente e prazerosa.
Quando a avó de Marina Berlowitz, 18, descobriu que ela se interessava por fotografia, deu para a neta sua câmera reflex. "A máquina é de 1957 ou 1958. Ela ganhou de presente de 15 anos", conta a estudante.
Nos quase três anos em que possui a câmera, Marina costuma levá-la para viagens ou para o centro de São Paulo, onde gosta de fotografar. Ela também comprou uma Polaroid e recorre à internet para conseguir os raros filmes. "As fotos saem bem legais, ficam antiguinhas."
Essa estética envelhecida também chamou a atenção de Karen Veiga, 18, que usa a fotografia analógica como referência para seus trabalhos de design. "Minha avó não jogava nada fora. Então, mexia nas coisas dela e achava relíquias de cem anos atrás."
Após se aventurar com câmeras de filme, seus próximos objetos de desejo são uma Polaroid e uma Lomo -a marca de câmeras com lente de plástico virou uma nova febre ao proporcionar efeitos diferentes às fotos e pelo seu baixo custo.

HERDEIROS
Karen compartilha o interesse pelas tecnologias obsoletas com o namorado Cédric Fanti, 18, que também herdou uma câmera da família. Sua incursão na fotografia analógica foi interrompida pela dificuldade de encontrar um lugar que conserte a lente quebrada, mas ele agora investe em outra herança: o toca-discos de seu pai.
"Antes nem ligava para isso, queria iPod. Agora vejo que há coisas bem bacanas que podem ser recicladas." Além de tirar do armário os discos do pai, ele também encomenda LPs pela irmã, que mora nos Estados Unidos, e às vezes compra em livrarias.
Quem também investe nas bolachas é Maria Pia Fahham, 19, que costuma frequentar lojas especializadas no centro, sebos e feiras de antiguidades. "Os novos são muito caros para importar", lamenta. Foi na feira do Bexiga, em São Paulo, que ela comprou sua vitrola, para ouvir seus quase 70 vinis.
Além de ampliar seu interesse por música, Maria também está experimentando a fotografia analógica. "Comecei a gostar de fotografia neste ano, e comprei uma Lomo. Fica bem diferente", diz a jovem, que só havia usado filme na infância.
O costume, entre esses jovens, é combinar o uso do digital e analógico, sendo este reservado para situações especiais, já que é mais caro e demorado. "Apesar do charme, tem todo o bom senso. Não trocaria o computador por uma máquina de escrever na hora de fazer um trabalho", exemplifica Karen.



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