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Livros
Futuro junkie
O escritor de ficção científica Philip K. Dick descreve o inferno das drogas
LEANDRO FORTINO
DA REPORTAGEM LOCAL
Antes de ser um livro sobre junkies
dependentes de
uma droga mortal,
"O Homem Duplo"
é uma obra política, que
mostra como poderão (ou,
quem sabe, já podem) funcionar organizações de traficantes e de produtores de entorpecentes e as relações deles com a polícia e o governo.
Mas é sobretudo uma obra
autobiográfica, sobre como
"brincar" com drogas pode
levar a perdas irreversíveis.
Foi o que aconteceu com pessoas próximas do autor, o
americano Philip K. Dick,
que "queriam continuar a se
divertir para sempre e foram castigadas por isso", como conta em nota final.
Dick é um dos principais
mestres da ficção científica,
autor de dezenas de contos e
de livros como "Do Androids
Dream of Electric Sheep?"
(em que foi baseado o filme
"Blade Runner - O Caçador
de Andróides") e "Minority
Report" (adaptado para o cinema por Steven Spielberg).
Morreu em 1982, aos 53
anos, por derrame cerebral.
Quando publicou "O Homem Duplo", em 1977, Dick
já havia passado pelo pior:
enquanto se afundava nos
barbitúricos, teve alucinações e entrou em paranóia,
sentindo-se até perseguido
por espiões da KGB.
Dick chegou a acreditar
que tinha um vida dupla, que
era dois homens ao mesmo
tempo, assim como acontece
com o protagonista do livro.
O ano é 1994. Bob Arctor é
um agente de narcóticos disfarçado, Fred, que se infiltra
entre dependentes de uma
droga chamada Slow Death
(morte lenta). Conhecida
por substância D, quem a
consome vai morrer por causa dela. Mas a pior morte
acontece antes, no cérebro, e
leva os usuários à loucura.
Bob divide sua casa com
dois amigos doidões, o suspeito Jim Barris e o avoado
Ernie Luckman. Para parecer um verdadeiro usuário,
ele experimenta a droga e
acaba dependente.
Quando Fred é designado
para espionar a si próprio,
surta e vive a angústia de ter
sua personalidade dividida.
Como disfarce, o agente
veste um "traje misturador", feito de um material
programado para misturar
milhões de imagens de pessoas diferentes sobre quem o
usa e, assim, tornar o policial
irreconhecível. Por meio de
"holo-scanners" (tipo de câmera que capta imagens holográficas) colocados na casa
de Bob, Fred grava seus amigos, a estranha namorada,
Donna, e, obviamente, a si
próprio, só que sem o traje.
Entre a preocupação com a
traição de seus amigos e o
consumo excessivo de D, ele
entra em uma viagem sem
retorno. A mistura dessa
droga com a situação de vida
dupla leva Fred/Bob à loucura total: os dois hemisférios
de seu cérebro passam a
competir entre si.
Por ter vivido e visto algumas dessas situações, Dick
não parece se orgulhar da
história. Ele escreveu, ao final do livro: "Eu mesmo não
sou um personagem deste
romance, sou o romance", e
o dedica a amigos que morreram, que ficaram psicóticos
e que tiveram sérios danos
cerebrais. Deixa nesta obra
seu arrependimento.
O HOMEM
DUPLO (1977)
Philip K. Dick
Rocco
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