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02 NEURÔNIO
Síndromes DIGITAIS
JÔ HALLACK
NINA LEMOS
RAQ AFFONSO
COLUNISTAS DA FOLHA
Sim, amamos a tecnologia. Temos celulares, várias contas de e-mail, serviço de
mensagens, enviamos torpedo, queimamos CDs, pagamos contas pela internet.
Até aí, lindo. Isso se a gente não fosse louca. Claro, porque todo esse bafafá tecnológico só serve para aumentar a nossa neurose. Como tudo, de resto. Por isso descobrimos que sofremos dos seguintes males:
A síndrome do e-mail maravilhoso
Quando você, sem nenhum motivo, começa a ter certeza de que vai receber uma
mensagem incrível falando qualquer sandice: que uma prima distante de quem você nunca tinha ouvido falar lhe deixou
uma herança, um convite para uma viagem sensacional ou até mesmo o e-mail
mais maravilhoso de todos, com uma declaração de amor. Como a síndrome do e-mail maravilhoso não é fundamentada em
acontecimentos reais -isto é, você não
tem nenhuma prima desconhecida- essa
mensagem salvadora nunca chega. A síndrome costuma acometer pessoas que
passam o dia inteiro on-line em seus escritórios morrendo de tédio.
O mal da covardia digital
Você sempre quer resolver tudo por e-mail. Se você tem que enfrentar uma situação difícil -falar algo com um chefe, discutir com uma amiga, reclamar, se desculpar...-, você resolve tudo na sua caixa
postal. Mesmo que a pessoa não esteja on-line e só vá ler o e-mail no ano que vem. Isso só vai agravando nossa dificuldade de
nos relacionarmos. No futuro, a evolução
do mal da covardia digital pode se transformar em algo horrível. Em vez de terem
uma DR, por exemplo, os casais ficam lado-a-lado, cada um com seu laptop, trocando e-mails.
A dependência de serviços de mensagem instantânea
Esse vício é tão grave quanto a dependência de heroína. Ficamos o dia inteiro
com o serviço ligado. Quando estamos
concentradas no trabalho, várias janelas
começam a abrir na nossa frente. Passamos a conversar com os amigos e deixamos de trabalhar. Em casos graves, ligamos o ICQ ou messenger em casa depois
que chegamos do trabalho (onde não trabalhamos, apenas trocamos mensagens).
Tudo piora, é claro, se temos um pretê
com o mesmo serviço que a gente. Aí, nossa vida passa a ser dividida entre as horas
em que ele entrou e as em que ele caiu. E
muitas vezes temos mais de um pretê ao
mesmo tempo. E quase morremos de ansiedade quando falamos com os dois. Fora
que ainda podemos confundir as mensagens e... socorro!
Os amigos fotologgers
Mesmo quem não é fotologger tem algum amigo que é. E o que acontece? Nossa
vida vira a música "Vogue", da Madonna.
"Strike the Pose". Esses amigos não nos
deixam relaxar, pois ficam o tempo todo,
em festas, dizendo: "Sobe a cabeça, mais
para a esquerda". E as pessoas ainda podem bisbilhotar (e bisbilhotam) a nossa
vida com textos do tipo: "Ah, você tava na
festa do fulano, vimos no fotolog x". O nome disso é invasão de privacidade.
A desconfiança da traição virtual
Como boas neuróticas, quando temos
um pretê também viciado na internet, ficamos desconfiando de estarmos sendo
traídas pela rede. Quando o nosso pretê fica horas trocando e-mails, passamos perto, dando uma olhadinha por cima do ombro, para ver o que ele está escrevendo. E,
se vemos um "subject" com palavras de
duplo sentido, aí a casa cai. Por isso, se você é menino e está lendo esta coluna, um
conselho: nunca dê a senha do seu e-mail
para a sua namorada! Ela vai espionar suas
mensagens apesar de isso ser errado.
MOMENTOS DE HISTERIA
Uma caixa de entrada cheia
é um bom
caminho para
um dia feliz
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